quarta-feira, 26 de setembro de 2012
FRACASSO ARTICULADO
O Estado de S.Paulo (Editorial-25 de setembro de 2012)
Vai se
desfazendo rapidamente a imagem que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
construiu de si mesmo no poder, e que parecia indestrutível. As dificuldades
eleitorais que os candidatos por ele impostos ao seu partido enfrentam em
várias capitais são uma demonstração de que, menos de dois anos depois de
deixar o poder com índice inédito de popularidade, pouca valia tem seu apoio. A
isso se soma a substituição gradual, por sua sucessora Dilma Rousseff - também
produto de sua escolha pessoal -, de práticas e políticas que marcaram seu
governo. Concretamente, o fracasso da gestão Lula está explícito no abandono,
paralisia, atraso e dificuldades de execução de seus principais planos,
anunciados como a marca de seu governo. Eles vão, de fato, moldando a marca de
seu governo - a do fracasso.
Trata-se -
como mostrou reportagem do jornal Valor (24/9) - de um fracasso exemplar,
articulado, minucioso, que quase nada deixa de positivo dos grandes projetos de
Lula na região em que nasceu e onde ele e sua sucessora obtiveram suas mais
estrondosas vitórias eleitorais - o Nordeste. As deficiências desses projetos
eram conhecidas. O que a reportagem acrescenta é que, frutos do apetite
político-eleitoral do ex-presidente e da sistemática incompetência gerencial de
seu governo, essas deficiências são comuns aos vários projetos.
Ferrovias,
rodovias, obras de infraestrutura em geral, transposição do Rio São Francisco,
refinarias, tudo foi anunciado com grande estardalhaço, com resultados
eleitorais espetaculares para o governo, mas com pouco, quase nenhum proveito
para o País até agora. Como se fossem partes de uma ação cuidadosamente
planejada, essas obras têm atraso médio semelhante, enfrentam problemas parecidos
e, todas, geram custos adicionais astronômicos para os contribuintes.
Os grandes
empreendimentos do governo Lula para o Nordeste somam investimentos de mais de
R$ 110 bilhões. Excluídos os projetos cuja complexidade impede a fixação de
novo prazo de conclusão, eles têm atraso médio de três anos e meio. Isso
equivale a sete oitavos de um mandato presidencial. Obras que Lula prometeu
inaugurar talvez não sejam concluídas nem na gestão Dilma. Veja-se o caso das
refinarias anunciadas para a região, a Premium I (no Maranhão) e a Premium II
(no Ceará), que devem custar quase R$ 60 bilhões. A do Maranhão, cujas obras
foram "oficialmente" iniciadas em janeiro de 2010, deveria estar
pronta em 2013, mas agora está classificada como "em avaliação" pela
Petrobrás, ou seja, já não é nem mesmo certo que ela será construída. A do
Ceará, lançada em dezembro de 2010, deveria estar pronta em 2014, mas foi
adiada.
A refinaria
que está em obras, a de Abreu e Lima, em Pernambuco, transformou-se num poço de
problemas e atrasos. Resultado de um acordo que Lula fez com o venezuelano Hugo
Chávez, a refinaria deveria ser construída em parceria pela Petrobrás e a
estatal venezuelana PDVSA, mas esta, até o momento, não aplicou nenhum centavo.
O custo previsto atualmente para a obra equivale a cinco vezes o orçamento
original.
Na área de
infraestrutura, estão atrasadas as duas ferrovias em construção no Nordeste, a
Nova Transnordestina, com 1.728 quilômetros, e a Oeste-Leste, que se estende de
Ilhéus, no litoral da Bahia, até Figueirópolis, no Tocantins. A primeira, que
teve substituída a empreiteira, tem um trecho paralisado no Ceará e enfrentou
problemas com o atraso na liberação de recursos, mas seu andamento, assim
mesmo, é considerado "adequado" nos balanços periódicos do Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC), do qual faz parte. Pode-se imaginar a
situação da segunda, considerada "preocupante" pelos gestores do PAC.
A
transposição do São Francisco, cujos problemas têm sido apontados com
frequência pelo Estado, faz parte desse conjunto. O que ele exibe é uma
sucessão de projetos incompletos, contratos mal elaborados, descuido da questão
ambiental, fiscalização inadequada. O resultado não poderia ser diferente:
atrasos, paralisação de obras por órgãos ambientais, aumento de custos. É parte
da herança deixada pelo governo Lula.
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