segunda-feira, 12 de maio de 2008

Castro Alves - Adormecida


Adormecida

Ses longs cheveux épars la couvrent tout entière
La croix de son collier repose dans sa main,-
Comme pour témoigner qu'elle a fait sa prière.
Et qu'elle va la faire en s'éveillant demain.
A. DE MUSSET

UMA NOITE, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.

'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.

De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos - beijá-la.

Era um quadro celeste!...A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!

E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
P'ra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...

Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
'Ó flor! - tu és a virgem das campinas!
'Virgem! - tu és a flor da minha vida!...'

Amor Natural

ANTONIO FREDERICO DE CASTRO ALVES

Nascimento: 14/03/1847, Fazenda Cabaceiras, Muritiba, a 7 léguas da vila Nª Sª da Conceição "Curralinho"-hoje Castro Alves, Bahia, Brasil
Falecimento: 06/07/1871, Salvador, Bahia, Brasil
Causa: Tuberculose, debilitado depois de ter que amputar a perna (em conseqüência de um tiro que dera no próprio pé, numa caçada)
Escritor, conhecido como "Poeta dos Escravos".
"
O livro caindo na alma, / é germe que faz a palma, / é chuva que faz o mar"

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