quarta-feira, 28 de maio de 2008

Mário de Andrade - Quarenta Anos

Quarenta Anos
de

A vida é para mim, está se vendo,
Uma felicidade sem repouso;
Eu nem sei mais se gozo, pois que o gozo
Só pode ser medido em se sofrendo.

Bem sei que tudo é engano, mas sabendo
Disso, persisto em me enganar… Eu ouso
Dizer que a vida foi o bem precioso
Que eu adorei. Foi meu pecado… Horrendo

Seria, agora que a velhice avança,
Que me sinto completo e além da sorte,
Me agarrar a esta vida fementida.

Vou fazer do meu fim minha esperança,
Ôh sono, vem!… Que eu quero amar a morte
Com o mesmo engano com que amei a vida.


MÁRIO RAUL DE MORAES ANDRADE

Nascimento: 09/10/1893, Rua Aurora 320, São Paulo, Brasil

Falecimento: 25/02/1945, em sua casa na Rua Aurora 320, São Paulo, Brasil
Causa: Infarto fulminante
Escritor, ensaísta, poeta e romancista, divulgador do folclore e de uma literatura natal; lidera a Semana de Arte Moderna (1922) e o movimento modernista.

"É melancólico chegar assim, no crepúsculo, sem contar com a solidariedade de si mesmo. Eu não posso estar satisfeito de mim, com o meu passado que não é mais meu companheiro. Eu desconfio do meu passado."

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