(*) Marco Antonio Villa é historiador e professor da Universidade de São Carlos, em São Paulo
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
ADEUS, LULA
Por * Marco Antonio Villa,
O Globo | in Contraovento |
A
presença constante no noticiário de Luís Inácio Lula da Silva impõe a discussão
sobre o papel que deveriam desempenhar os ex-presidentes. A democracia
brasileira é muito jovem. Ainda não sabemos o que fazer institucionalmente com
um ex-presidente.
Dos
quatros que estão vivos, somente um não tem participação política mais ativa. O
ideal seria que após o mandato cada um fosse cuidar do seu legado. Também
poderia fazer parte do Conselho da República, que foi criado pela Constituição
de 1988, mas que foi abandonado pelos governos — e, por estranho que pareça,
sem que ninguém reclamasse.
Exercer
tão alto cargo é o ápice da carreira de qualquer brasileiro. Continuar na arena
política diminui a sua importância histórica — mesmo sabendo que alguns têm
estatura bem diminuta, como José Ribamar da Costa, vulgo José Sarney, ou
Fernando Collor.
No
caso de Lula, o que chama a atenção é que ele não deseja simplesmente estar
participando da política, o que já seria ruim. Não. Ele quer ser o dirigente
máximo, uma espécie de guia genial dos povos do século XXI. É um misto de
Moisés e Stalin, sem que tenhamos nenhum Mar Vermelho para atravessar e muito
menos vivamos sob um regime totalitário.
As
reuniões nestes quase dois anos com a presidente Dilma Rousseff são, no mínimo,
constrangedoras. Lula fez questão de publicizar ao máximo todos os encontros. É
um claro sinal de interferência.
E
Dilma? Aceita passivamente o jugo do seu criador. Os últimos acontecimentos
envolvendo as eleições municipais e o julgamento do mensalão reforçam a tese de
que o PT criou a presidência dupla: um, fica no Palácio do Planalto para
despachar o expediente e cuidar da máquina administrativa, funções que Dilma já
desempenhava quando era responsável pela Casa Civil; outro, permanece em São
Bernardo do Campo, onde passa os dias dedicado ao que gosta, às articulações
políticas, e agindo como se ainda estivesse no pleno gozo do cargo de
presidente da República.
Lula
ainda não percebeu que a presença constante no cotidiano político está,
rapidamente, desgastando o seu capital político. Até seus aliados já estão
cansados. Deve ser duro ter de achar graça das mesmas metáforas, das piadas
chulas, dos exemplos grotescos, da fala desconexa.
A
cada dia o seu auditório é menor. Os comícios de São Paulo, Salvador, São
Bernardo e Santo André, somados, não reuniram mais que 6 mil pessoas. Foram
demonstrações inequívocas de que ele não mais arrebata multidões. E, em
especial, o comício de Salvador é bem ilustrativo.
Foram
arrebanhadas — como gado — algumas centenas de espectadores para demonstrar
apoio. Ninguém estava interessado em ouvi-lo. A indiferença era evidente. Os
“militantes” estavam com fome, queriam comer o lanche que ganharam e receber os
25 reais de remuneração para assistir o ato — uma espécie de bolsa-comício,
mais uma criação do PT. Foi patético.
O
ex-presidente deveria parar de usar a coação para impor a sua vontade. É feio.
Não faça isso. Veja que não pegou bem coagir:
1.
Cinco partidos para assinar uma nota defendendo-o das acusações de Marcos
Valério;
2.
A presidente para que fizesse uma nota oficial somente para defendê-lo de um
simples artigo de jornal;
3.
Ministros do STF antes do início do julgamento do mensalão. Só porque os
nomeou? O senhor não sabe que quem os nomeou não foi o senhor, mas o presidente
da República? O senhor já leu a Constituição?
O
ex-presidente não quer admitir que seu tempo já passou. Não reconhece que, como
tudo na vida, o encanto acabou. O cansaço é geral. O que ele fala, não mais se
realiza. Perdeu os poderes que acreditava serem mágicos e não produto de uma
sociedade despolitizada, invertebrada e de um fugaz crescimento econômico.
Claro
que, para uma pessoa como Lula, com um ego inflado durante décadas por
pretensos intelectuais, que o transformaram no primeiro em tudo (primeiro
autêntico líder operário, líder do primeiro partido de trabalhadores etc, etc),
não deve ser nada fácil cair na real. Mas, como diria um velho locutor
esportivo, “não adianta chorar”. Agora suas palavras são recebidas com desdém e
um sorriso irônico.
Lula
foi, recentemente, chamado de deus pela então senadora Marta Suplicy. Nem na
ditadura do Estado Novo alguém teve a ousadia de dizer que Getúlio Vargas era
um deus. É desta forma que agem os aduladores do ex-presidente.
E
ele deve adorar, não? Reforça o desprezo que sempre nutriu pela política. Pois,
se é deus, para que fazer política? Neste caso, com o perdão da ousadia, se ele
é deus não poderia saber das frequentes reuniões, no quarto andar do Palácio do
Planalto, entre José Dirceu e Marcos Valério?
Mas,
falando sério, o tempo urge, ex-presidente. Note: “ex-presidente”. Dê um tempo.
Volte para São Bernardo e cumpra o que tinha prometido fazer e não fez.
Lembra?
O senhor disse que não via a hora de voltar para casa, descansar e organizar no
domingo um churrasco reunindo os amigos. Faça isso. Deixe de se meter em
questões que não são afeitas a um ex-presidente. Dê um bom exemplo.
Pense
em cuidar do seu legado, que, infelizmente para o senhor, deverá ficar maculado
para sempre pelo mensalão. E lá, do alto do seu apartamento de cobertura, na
Avenida Prestes Maia, poderá observar a sede do Sindicato dos Metalúrgicos,
onde sua história teve início.
E,
se o senhor me permitir um conselho, comece a fazer um balanço sincero da sua
vida política. Esqueça os bajuladores. Coloque de lado a empáfia, a soberba.
Pense em um encontro com a verdade. Fará bem ao senhor e ao Brasil.
(*) Marco Antonio Villa é historiador e professor da Universidade de São Carlos, em São Paulo
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2 comentários:
Barbaridade! Esse artigo está ótimo! O escritor diz tudo o que nos passa pela cabeça e não sabemos dizer!
Apenas questiono se a motivação para a atual interferência do molusco na política resume-se à satisfação do ego imbecil dele. A impressão é que o PT, de tão lixo que é, perde feio, sem a "mãozinha" dele, aparecendo em propagandas ao lado de candidatos, como faz descaradamente aqui em Fortaleza/CE.
O fato (problema) é que há uma boa parcela de idiotas adoradores dele no povo, tanto que o candidato petista, um dos últimos nas primeiras pesquisas, hoje assume o primeiro lugar nestas e - francamente - conhecendo os métodos antidemocráticos desse partido estúpido, adicionados à burrice que assola o zé povinho, não duvido de que o petista vencerá o pleito.
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