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Quadro de Alexander Ivanov
Maria Madalena vendo Cristo ressuscitado |
Bom, sobre o assunto, eu não tenho muito a
acrescentar sobre o que disse o blog Aggie Catholics.
Inclusive, o texto deste blog é muito bom pois indica bons textos sobre o
assunto. Aggie Catholic lembrou que:
1) A historiadora Karen King é especialista em
textos gnósticos do cristianismo e não sobre a evidência histórica de Jesus;
2) Textos gnósticos são evangelhos apócrifos que
atingiram seu apogeu nos séculos 2 e 3, de grupos de heréticos que eram mais
místicos, contrário a dogmas, com tendência para a espiritualidade e para criar
um Jesus que seria um sábio e não um salvador. Eles escreviam diversas
teorias sobre a vida de Jesus, tentavam reescrever a história de Jesus. Isto
me lembra o espiritismo praticado no Brasil, em cada livro espírita há uma nova
teoria sobre o paraíso e sobre Jesus (já vi até palestras espíritas sobre seres
de outros planetas). Sobre a heresia do gnosticismo, o blog Aggie Catholic
recomendou o seguinte texto do historiador da Universidade de Pensilvânia
Phillip Jenkins: cliquem aqui.
3) O blog Aggie Catholics também sugere um texto de
Carl Olson,
que explica porque os evangelhos apócrifos são muito provavelmente falsos: eles
mostram um Jesus fora do seu tempo, fora da vida real da época, não apresentam
provas históricas, Jesus é como se fosse um espírito.
4) Sobre o possível casamento de Jesus, o blog
Aggie Catholics nos leva ao texto do reverendo Dr. Mark
Roberts, que discute as fontes históricas para saber
se Jesus foi ou não casado. Vou resumir o texto do Dr. Mark Roberts. Ele diz
a) O Novo Testamento é completamente
silencioso sobre se Jesus foi ou não foi casado;
b) Mas o Novo Testamento fala da família de Jesus:
mãe, pai, parentes, mas nunca de esposa;
c)
O Novo Evangelho fala de seguidoras de Cristo (Maria Madalena, Joana, Susana),
mas não de mulheres de Cristo;
d) Fora do Novo
Testamento, dois estudiosos judeus do primeiro século, Filon e Josefus,
mencionam que alguns judeus no tempo de Jesus eram solteiros por escolha. Filon
foi contemporâneo de Jesus e era um filósofo que viveu em Alexandria, Egito.
Josefus era um historiador judeu que viveu perto do fim do primeiro século.
Eles mencionaram que um grupo de Essênios, judeus apocalípticos, não se casaram
por escolha. E estes autores elogiaram a escolha de não casar dos Essênios o
que sinaliza que poderia haver aprovação social para não se casar;
e) Sobre
Maria Madalena, a suposta esposa de Cristo, Roberts nos diz que há vária Marias
no Novo Testamento, incluindo a Virgem Maria e Maria de Betânia (Lucas
10:38-42), além de Maria Madalena (ou Maria da vila de Magdala);
f) Maria
Madalena, no Novo Testamento, é uma das mulheres que acompanharam Jesus em sua
missão de pregar e ajudaram Cristo com bens que tinham conseguido. O evangelho
de Lucas adiciona que sete demônios foram expulsos de Maria Madalena por Jesus
(Lucas 8:2). Mas nada sugere que havia um relacionamento especial entre Jesus e
Maria Madalena. Jesus era diferente apenas por ter mulheres sendo ensinadas
também por ele, os judeus não constumavam ensinar para mulheres.
g) Maria Madalena foi uma das mulheres que
assistiram à crucificação de Cristo. Então, na manhã de Páscoa, ela e duas
outras mulheres foram a tumba de Cristo e a encontram vazia. Maria Madalena de
acordo com João 20 encontra Jesus próximo da tumba e corre para anunciar sua
ressurreição. Em certo sentido, ela é a primeira cristã a anunciar a boa nova
da Páscoa. É isto que o quadro acima de Alexander Ivanov mostra. Maria
Madalena vendo Cristo ressuscitado.
h) Maria Madalena foi associada à prostituta
que lava os pés de Cristo, mas não há nada no evangelho que diga que se
trate de Maria Madalena (Lucas 7:36-39). Não há razão para se pensar que
Maria Madalena era a prostituta.
i) Nada há além disso, não há nada no Novo
Testamento que sugira que Jesus foi casado com qualquer mulher. E nos
evangelhos apócrifos? Há algo que sugira que Maria Madalena era esposa de
Cristo? Vamos mostrar agora o que há nos evangelhos apócrifos (gnósticos).
j) Considerando o evangelho gnóstico
possivelmente mais antigo, Evangelho de Tomé, Maria Madalena aparece apenas em
duas passagens, na primeira ela faz uma pergunta para Jesus: "Com quem se
parecem seus discípulos?" Na segunda, Simão Pedro diz:
"Que Maria saia de nós, pois as mulheres não são dignas da vida."
Jesus responde: "Eu mesmo vou guiá-la
para torná-la macho, para que ela também possa tornar-se um espírito vivo semelhante
a vós, machos. Para cada mulher que vai fazer-se homem entrará no Reino dos
Céus."
Vejam que no evangelho gnóstico mais antigo, Jesus
não é muito amigável com as mulheres, e deseja que Maria Madalena se torne homem
(!) Não parece o Jesus amável dos evangelhos aceitos pela Igreja.
k) O evangelho apócrifo de Pedro, escrito no
segundo século, foca apenas nas últimas horas da vida de Jesus. Neste
evangelho, Jesus não sentiu nenhuma dor ao ser crucificado (!). Jesus é assim
afastado de sua humanidade. Maria Madalena aparece apenas na festa da Páscoa
quando ela e outras mulheres vão para tumba de Cristo chorar a morte
Dele. Ela é descrita como uma discípula feminina. Não há nenhuma palavra
neste evangelho gnóstico que diz que Maria Madalena se casou com Cristo.
l) O Diálogo
do Salvador também foi escrito no segundo século, é um diálogo entre o Salvador
(que nunca é nomeado como Jesus Cristo) e alguns discípulos, incluindo Maria
Madalena. Os discípulos fazem questões esotéricas e o Salvador responde também
de forma esotérica. O Diálogo mostra Maria Madalena fazendo perguntas e diz que
ela conhecia a realidade espiritual. Também não há nada sobre casamento. De
novo, ela é apenas uma das seguidoras ou discípulas de Cristo.
m) A Sabedoria de Jesus Cristo é um
diálogo entre o Cristo ressuscitado e alguns de seus seguidores, incluindo
Maria Madalena, também são do século 2. Maria Madalena também faz perguntas e
também não há nada sobre casamento.
n) O Pistis Sophia (Sabedoria da Fé)
é um evangelho gnóstico escrito no século 3, e no qual Maria Madalena tem um
importante papel, fazendo a grande maioria das perguntas sobre questões
esotéricas. Jesus diz que ela é abençoada entre as mulheres, porque ela tem o
pleno conhecimento e a vida espiritual dentro dela. Jesus promete não esconder
nada dela. O Pistis Sophia é um importante evangelho para os cristãos
gnósticos, que valorizam o conhecimento em assuntos esotéricos.
o) No Evangelho de
Maria, escrito no século 2, se vai ainda mais longe, Maria Madalena é a fonte
de segredos porque ela tem uma relação muito próxima com o Salvador (também
neste evangelho não há o nome Jesus). Em uma passagem, Pedro pergunta:
"Irmã, nós sabemos que o Salvador ama você, mais do que as outras
mulheres. Diga-nos as palavras do Salvador que você lembra". Então Maria
Madalena revela o Senhor em sua visão no qual o conteúdo é incompreensível,
esotérico demais. No mesmo Evangelho de Maria, alguns discípulos não parecem
tão impressionados com ela. André diz que não acredita nas palavras dela, pois
são ideias estranhas. Apesar da posição especial de Maria Madalena no
evangelho, como recebedora especial dos ensinamentos de Cristo, não há nada que
sugira que ela foi esposa de Cristo.
p) O Evangelho de Filipe, o último dos evangelhos extra-bíblicos que
mencionam Maria Madalena, é o que mais excita os defensores de seu
casamento com Jesus. O Evangelho de Filipe foi escrito no século 3, é o mais
novo dos evangelhos gnósticos. Não é um evangelho no sentido comum, mas
sim uma coleção de observações teológicas escritas a partir do ponto de vista
gnóstico. Algumas, mas nem todas as observações, mencionam Jesus. Duas
passagens referem-se à Maria Madalena, que desempenha um papel pequeno no
evangelho.
q) A
primeira dessas passagens lê: "Havia três que sempre andavam com o Senhor:
Maria, sua mãe, sua irmã e Madalena, o que foi chamada sua companheira".
Muito tem sido insinuado sobre a palavra companheira, que, no original grego é
koinonos. Mas, ao contrário da ilusão de alguns, essa palavra não significa
cônjuge ou consorte sexual. Significa "parceiro", e é usado várias
vezes no Novo Testamento com este sentido comum (por exemplo, quando Paulo se
refere a si mesmo como koinonos de Filemom (Filemon 1:17).
r) A
segunda passagem no Evangelho de Filipe, que cita Maria Madalena, é a mais
sugestiva: "E a companheira do Salvador é Maria Madalena. Mas Cristo a
amava mais do que todos os discípulos e costumava beijá-la muitas vezes na
boca. O resto dos discípulos se sentiu ofendidos por ela e expressavam
desaprovação. Eles disseram-lhe: “Por que você a ama mais do que todos nós”? O
Salvador respondeu, e disse-lhes: "Por que eu não te amo como ela”? Quando
um homem cego e aquele que vê estão os dois juntos na escuridão, eles não são
diferentes um do outro. Quando a luz chega, então, aquele que vê verá a luz, e
aquele que é cego permanecerá na escuridão ".
s) Mesmo
supondo-se que esta passagem, que não aparece em nenhum outro documento, e que
foi escrita dois séculos depois dos Evangelhos bíblicos, transmita informações
historicamente precisas, a passagem em si parece refutar casamento de Jesus com
Maria. Com certeza, se Jesus tivesse sido casado com Maria seu carinho especial por ela não teria sido uma
ofensa. E, certamente, Jesus poderia ter satisfeito a pergunta dos
discípulos, explicando que Maria era sua esposa. Mas ele não faz isso. Em vez
disso, ele explica sua afeição especial para Maria, apontando para a sua
capacidade de ver a luz, isto é, ter conhecimento. Nada nesta passagem sugere
que Jesus e Maria eram casados. Além disso, dado que é dito em outro lugar no O
Evangelho de Filipe sobre o beijo (seções 58-59), é possível que esta passagem
não deva ser tomada literalmente. O texto pode muito bem usar a metáfora de
beijar a dizer que Jesus revelou a verdade para Maria. Se isso for verdade, o
Evangelho de Filipe é consistente com o que temos visto em outras partes dos
evangelhos gnósticos.
t) É isso
aí. Essa é a melhor evidência não canônica para o casamento de Jesus e Maria:
uma passagem que, mesmo se tomadas pelo valor de face parece contradizer o
casamento hipotético. Os textos simplesmente não apoiam a teoria de que
Jesus e Maria Madalena eram casados.
E o que eu tenho a acrescentar às informações
mencionadas acima? Não muito, apenas digo que Cristo ressaltou o celibato na
passagem Mateus 19:12, para que os homens se dedicassem plenamente ao Reino de
Deus e que as mulheres têm papel especial na Igreja, inclusive muitas são
doutoras da Igreja, como Santa Teresa de Ávila, Santa Catarina de Siena,
Santa Teresinha de Lisieux e Santa Hildergard de Bingen. (Pedro Erik em Thyself, O Lord).
Um comentário:
Análise muito boa!
Convém atentar para a motivação de grande parte da "torcida" pró-Jesus casado (não, necessariamente, incluindo a Dra. Karen).
Autores da laia de Dan Brown (código da vinci et caterva), querem "humanizar" Jesus com o propósito de desconstruir a religião cristã, fundada na crença essencial que ele foi o Filho de Deus que se tornou homem, viveu como homem, morreu como tal, porém ressuscitou e subiu aos Céus, para sentar-se à direita de Deus Pai.
O objetivo, pois, é reduzir Cristo a um personagem meramente humano, natural, sem divindade. Assim, conseguiriam duas coisas: destruir o Cristianismo, do qual são ferrenhos inimigos; e promover suas "religiões" naturalistas, regadas a relativismo e hedonismo.
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