sexta-feira, 26 de junho de 2009

O PRIMEIRO PIANO EM CAMPO MOURÃO


TECLAS DE VIENA SOB OS PINHEIRAIS

Nelson B. Prado

(In Correio de Campo Mourão, 2/2/1952)

Quem vive no interior, aprofundado no sertão, não sente hoje aquele isolamento que outrora fazia a vida do interior qualquer coisa semelhante ao degredo.

Hoje, mesmo aparentemente isolados no sertão, são numerosos os fatores que nos aproximam à vida dos grandes centros urbanos.

Um bom rádio de pilha ou acumuladores, o “jeep” e o “teco‑te
co” nos fazem ligados às coisas do Rio, de São Paulo, de Curitiba, de Buenos Aires e de Nova York, mesmo lá nos confins do Goio‑Erê.

Assim como, em pouco menos de uma hora, estamos em Londrina e depois em São Paulo ou no Rio, também ouvimos os noticiários da BBC, da Nacional e a interminável novel
a “O Direito de Nascer”...

O avião fura os céus e o rádio nos conduz a imaginação numa religação saudosa.

Por outro lado, o “jeep” arrebenta sertão, desafia temporais, cruza estradas e nos leva ao asfalto das cidades.

Realmente, hoje o sertão, embora ainda distanciado pela força das distâncias rodoviárias, está muito próximo dos grandes centros.


Nisso há uma esperança que é sempre um conforto dentro dos desconfortos naturais do interior.

Mas de repente, tudo parece ser um sonho, quando deparamos com uma nota fora do comum no comum viver que nos cerca.

Foi o que nos aconteceu um dia destes, quando, entre a emoção estética do meio, à sombra dos pinheirais, tivemos a emoção sentimental despertada pelos sons de um piano a vibrar acordes de melodia, onde apenas os pássaros faziam melodiosas sinfonias...

Ali nas Barras, quase escondido em aprazível recanto, um piano vienense fazia vibrar as cordas em sons que não esperávamos ouvir assim tão discretamente reservados.

Uma indústria ali se constrói e a demais que fez o encanto do lar daquele gerente trabalhador e industrial não quis deixar suas virtudes de mulher sem o encanto da arte.

Virtudes de mulher com o encanto da arte na história musical de Campo Mourão!

É o primeiro piano que pisa a linha dos trópicos no Município de Campo Mourão!

Fiquem gravados para a história a artista, o instrumento e o lu
gar.

A artista ‑ Mme. Judith Eheke Carneiro, esposa do Sr. Evaldo Carneiro de Paula, gerente industrial e sócio da firma Indústria e Comércio Prado e Cia. Ltda., com instala
ção de estabelecimentos no lugar denominado Barras; o instrumento ‑ um piano marca “Ehrbarwien”, - de finíssima construção, moderno fiel dos pensadores e da fina arte com que se engalanam as virtudes de madame Judith E. Carneiro.

E aquelas teclas vibram todos os dias os cantos e os sons melodiosos, que, atraindo curiosos pássaros, curiosos e intrigados, põem notas diferentes no viver do sertão!

Ao mesmo tempo distantes e próximos, a civilização no interior não se arrefece e desanima; ao contrário, se encontra e vivifica, como nesse particular, com as teclas de V
iena sob os pinheirais.

FONTE LIVRO:

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