Por José Eugênio Maciel
“Enfim, não pensem que o escritor é o melhor intérprete de sua obra”
Moacyr Scliar
Se elas são muitas ou poucas por opção de quem as escreve ou devido à imposição de espaço, escrever resulta em um determinado número de linhas. Claro, um texto não pode ser medido pelo número de linhas ou de páginas que não pode servir de parâmetro para avaliar um conteúdo.
Assim como o tempo não é mera quantificação das horas, o que dizem as linhas nem sempre estão nas próprias linhas. Pouco, muito, quem sabe totalmente é nas entre linhas aonde estarão o que o autor do texto deseja realmente dizer.
Quem resolver examinar o conteúdo de um texto irá considerar o estilo de quem escreve. O estilo do autor – é o conjunto das qualidades que ele possui, a capacidade e o modo da expressão.
Até aqui, caro leitor, fugi do meu estilo, aliás, facilmente, pois fugir de algo que não existe, um estilo meu. Costumo não demorar para entrar no assunto, não fazer muitas voltas para tocá-lo. Mas hoje não, me deu uma vontade de escrever sem escrever, de dizer sem dizer, falar sem falar, expressar sem ter expressão. Que tudo seja entendido no subentendido, que o texto de agora seja explícito no implícito.
Receio de me comprometer? Não, necessariamente. Deixar propositadamente nas entre linhas pode ser bom ou ser passível de interpretações que escaparão ao controle do autor, uma vez que o leitor, dada à imprecisão do conteúdo, querendo ou não, irá alcançar outras conclusões.
Nós homens diante das mulheres vivenciamos a questão de sermos claros, explícitos e incisivos, assim como vivenciamos em tais relacionamentos o dizer sem falares (nesta ordem, pois o contrário – falar sem dizer é suicídio) acompanhados pelas famosas reticências... se não literais, no tom da voz, no olhar, nos gestos. O intrigante e instigante é saber ser claro nas linhas e com todas as palavras ou sugerir nas entre linhas, qual é enfim o momento certo, pois as mulheres são perspicazes, dialogam nesses dois planos, e, conforme a conversa, trocar “as estações” pode se colocar tudo a perder.
Independentemente da qualidade e vivência de quem irá ler, o estado de espírito, o interesse do leitor é tão fundamental diante do texto que as posições se invertem, convertem, vertem mudando a ordem. Ou seja, quando o escritor tenha escrito sem escrever, para ser lido nas entre linhas, o leitor não capta e compreende de tal maneira, mas sim entenderá o que tenha ficado claro, objetivamente escrito. E quando o escritor tenha escrito com a intenção e capacidade próprias de escrever com clareza, objetividade e ênfase, o leitor pode ser tomado pelas dúvidas, desconfia ou diretamente conclui que o escritor não desejou dizer tudo o que com clareza ele escreveu e o leitor irá procurar ler nas entre linhas.
Novamente fazendo referências à feminilidade, nós homens se imediatamente fizermos enfáticas declarações de amor, demonstrando estar loucamente apaixonados na primeira vez que estamos diante delas, elas em sua maioria colocarão um montão de interrogações. É quando são importantes as entre linhas, os gestos e as sugestões e mesmo o não dizer, pois é preciso ouvir o silêncio que se faz ou existente.
Quando então os homens devem deixar ou não usar as entre linhas e com que estilo? Será preciso perguntar a elas, sem fazer perguntas, insinuando dúvidas sem estar inseguro.
Nas entre linhas, elas é que são elas. Ou seria melhor colocar uma interrogação? Quem sabe reticências... Interrogações (ou) e reticências...? são palavras femininas envoltas em mistério, no curso das linhas, discurso (diz) curso das entre linhas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário