sábado, 8 de dezembro de 2012

200 ANOS DE CHARLES DICKENS

Por Luiz Antonio Domingues 
Neste ano de 2012, comemorou-se o bicentenário de nascimento 
do escritor britânico Charles Dickens.
Entre os gigantes da literatura britânica, ninguém foi mais contundente do que Dickens ao retratar a desumanidade perpetrada pela revolução industrial.
Mostrando os meandros das fábricas na era vitoriana, revelou ao mundo o horror dessa época, onde a exploração era absurda, sem nenhuma proteção nos quesitos de segurança e sob um regime de semiescravidão vergonhoso.
Mas engana-se quem pensa ter sido Dickens, um entusiasta da teoria da luta de classes, que ganhou vida nas teorias de Marx e Engels.
Mesmo sendo crítico contundente dessa exploração contumaz, Dickens enxergava através de seus romances, a ocasional mudança no status quo dessas pessoas oprimidas, pelo esforço pessoal ou até mesmo por golpes fortuitos da sorte.
Dessa maneira, fica claro que Dickens acreditava no ser humano, apesar de viver numa época onde o massacre decorrente das más condições sociais, oriundas das arbitrariedades concernentes à incipiente indústria, eram avassaladores.
Em sua biografia pessoal, há traços que revelam que ele sentiu na pele, ainda que não por muito tempo, essas agruras das fábricas vitorianas.
Numa derrocada familiar repentina, o pai de Dickens foi preso por não honrar dívidas e dessa forma, aos 12, o jovem Charles viu-se trabalhando numa fábrica que produzia graxa para sapatos masculinos, utilizando betume. Eram horas a fio, trabalhando num ambiente escuro e fétido, colocando rótulos nas embalagens. Com seis xelins semanais como salário, o pequeno Charles ajudava a mãe a sustentar sua família.
Certamente essa fase de sua vida serviu-lhe de inspiração para a criação de seus principais livros, "David Copperfield" e "Oliver Twist", retratando essa época de extremo egoísmo.
Mas também foi contundente em "Dombey and Sons", relatando a áspera vida dos ferroviários, outro ícone da revolução industrial, onde a fumaça produzida pelas locomotivas, unia-se à das chaminés das fábricas.
Em "The Old Curiosity Shop", Dickens falava sobre os pequenos comerciantes, assim como descreveu os artesãos ainda com características medievais, nesse turbilhão industrial do século XIX, como em "A Tale of Two Cities", que tem a Paris da época da revolução francesa como pano de fundo, ao invés da costumeira Londres de sua obra.
Em "Nicholas Nickleby", mostra o opressivo sistema educacional de sua época, quase uma continuação da realidade dura das fábricas.
"Little Dorritt" e "Break House", mostraram o sistema jurídico e penitenciário, também implacáveis com os pobres, tal como Victor Hugo revelou o sistema francês, em "Les Miserablès".
Seus detratores o acusavam de sempre recorrer às soluções inverossímeis para descrever situações redentoras. De certa maneira, antecipou em mais de cem anos as mesmas críticas que o diretor Ítalo-americano Frank Capra receberia com seus filmes.
Desnecessário descrever os desdobramentos da obra de Charle Dickens, pois sua obra fala por si própria.
O bicentenário de seu nascimento, comemorado no mundo inteiro, é uma grande celebração, além de nos fazer lembrar que estamos entrando numa nova revolução, a tecnológica, mas que para pudéssemos chegar até aqui, tivemos que enfrentar a revolução industrial, com seus pontos positivos e negativos.
E ninguém descreveu melhor a revolução industrial, em seus primeiros e terríveis momentos, do que Charles Dickens.

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