segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
ORELHÕES REVIGORADOS PELA INTERNET
Por Luiz Antonio
Domingues – in Planet Polêmica
Uma grande
ideia já está sendo viabilizada para salvar um ícone urbano das cidades
brasileiras. Já em testes avançados na cidade do Rio de Janeiro, os antigos
orelhões, cabines telefônicas típicas do Brasil, poderão ter sobrevida,
modernizando-se.
A ideia é
que sejam agora postos de acesso à internet wireless, deixando de lado a velha
função da telefonia que entrou em franca decadência, com a mega popularização
dos telefones celulares.
Claro que ainda tem pessoas que utilizam as velhas e
combalidas cabines de telefonia pública, mas numa conta generalizada, esse
número de usuários caiu drasticamente nos últimos anos e as operadoras de
telefonia só as mantém nas ruas por respeito às decisões governamentais. Mesmo
assim, com uma fonte de prejuízo gigantesco pelo pouco uso e também pelos
problemas decorrentes do contumaz vandalismo perpetrado pelo povo brasileiro
(lamentável isso...), as operadoras pressionavam o governo para aliviar as
sanções e retirar os orelhões das ruas.
Agora, não
só ganham sobrevida, como adequam-se aos novos tempos, ganhando outra
utilidade. A ideia seria o usuário comprar um cartão contendo uma senha e
determinando um tempo de uso, parecido com o dos cartões telefônicos atuais,
netos das velhas fichas de antigamente (a super usada expressão "caiu a
ficha" para designar uma lembrança de algum fato ou tomada de posição,
veio daí).
Lembrando um
pouco a história, os primeiros telefones públicos surgiram no Brasil nos anos
vinte do século passado. Os primeiros foram instalados na cidade de Santos, no
litoral paulista. Em princípio eram instalados em repartições públicas, e a
seguir aparecerem em restaurantes, bares, farmácias, padarias etc.
Por incrível
que pareça, só no início dos anos setenta, é que as autoridades passaram a
instalar cabines nas ruas, como já era comum há décadas nos países europeus e
nos Estados Unidos. A ideia original foi a de instalar cabines semelhantes às
de Londres, nas calçadas do São Paulo e do Rio, mas a incrível falta de
educação do povo, inviabilizou o projeto, devido às depredações e também pelo
uso das cabines para atos obscenos e esconderijo de bandidos.
Dessa forma,
por volta de 1972, surgiu a ideia da cabine oval e aberta, criada por uma
engenheira sino-brasileira, chamada Chu Ming Silveira, que era funcionária da
CTB, a velha Companhia Telefônica Brasileira. Segundo a criadora, a cabine
aberta ocupava menos espaço nas calçadas e por ser aberta, inibia atos de
vandalismo ou ações obscuras feitas por pessoas mal intencionadas. Logo o
formato ovalado caiu nas graças do povo e recebeu o apelido de
"orelhão", uma alusão ao seu formato e sua função de servir à
telefonia.
Em São
Paulo, havia também outro tipo de orelhão, de mesmo formato, porém menor e
feito de acrílico, cor de abóbora transparente, que era usado em terminais de
ônibus e na antiga rodoviária da estação da Luz. Era chamado
"orelhinha" e também era outra criação de Chu Ming Silveira. Mas ela
teve problemas com a patente de seu invento, culminando em processo na justiça
que levou anos para reconhecer sua invenção e a devida protocolização no INPI.
E um fato
curiosíssimo ocorreu que se o dramaturgo Dias Gomes soubesse, renderia uma
novela tão surreal como "O Bem Amado" e "Saramandaia", suas
geniais criações de realismo fantástico.
Foi o
seguinte: Numa declaração da engenheira Chu Ming Silveira publicada num jornal,
ela afirmou que "inspirou-se na forma ovalada, por ser um círculo e essa
forma era perfeita". Uma juíza indignou-se com tal declaração e processou
Chu Ming Silveira, afirmando que só Deus era perfeito. Nos autos,
questionava-se se a engenheira com tal pensamento teria tido a ousadia de
querer ter "inventado" Deus, entre outras asneiras. E como suposto
argumento "sério", alegava que os orelhões seriam máquinas de engolir
fichas, lesando os consumidores. Pasmem, tamanha discussão durou 20 longos anos
nos tribunais, entrando para o rol do folclore jurídico brasileiro.
Mesmo sendo
duramente maltratados pelos vândalos, os orelhões salvaram vidas, chamando
ambulâncias, bombeiros e polícia nas situações de emergência.
Ajudaram
milhões de pessoas nas mais diversas situações e agora ganham a sobrevida
pós-massificação dos celulares. E fora a nova função como ponto de inclusão
digital, os orelhões ganharam recentemente o caráter de tornarem-se verdadeiras
instalações de artes plásticas.
Aqui em São
Paulo e já se espalhando por diversas outras cidades, os orelhões tornaram-se
atrativo para turistas, graças às intervenções criativas de diversos artistas
plásticos. É muito comum ver turistas filmando-os e fotografando-os devido a
essa repaginação criativa, que os tornou objetos de arte. E que assim
permaneçam, como simpáticos e úteis equipamentos urbanos.
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