sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
TIETÊ, UM CLUBE AGONIZANTE
Por Luiz Antonio Domingues – in Orra Meu!
Houve uma época, não tão remota assim,
que o rio Tietê em São Paulo, era sadio e portanto, responsável por diversas
atividades esportivas e de lazer para os paulistanos.
Qual família paulistana não tem
relatos de vovôs e bisavôs com suas estórias de pescarias, natação e esportes
aquáticos praticados ali, em momentos de lazer de outrora?
Até que se iniciasse em massa o
despejo de dejetos industriais e da rede de esgoto, sem controle algum por
parte da prefeitura e do governo estadual, o rio era limpo e saudável.
E por ter essa utilização aberta a
pratica de esportes, motivou a criação de diversos grandes clubes
multiesportivos, às suas margens. Dois deles ficaram frente a frente, separados
pelo rio e tornaram-se rivais : Espéria e Tietê.
Notabilizando-se pela prática de
esportes náuticos principalmente, envolveram-se em acirradas disputas
esportivas, entrando para a história esportiva da cidade de São Paulo.
Mas ao longo do tempo, cresceram muito
e foram expandindo-se, tornando-se polos esportivos, com diversas modalidades,
além do remo e da natação.
No caso específico do Clube de Regatas
Tietê, fundado em 1907, foram muitas as glórias esportivas acumuladas.
Muitos atletas formados nas suas
quadras e piscinas, representaram o Brasil em jogos Pan-americanos, Mundiais e
Olimpíadas.
Cito por exemplo, Maria Esther Bueno,
a maior tenista brasileira de todos os tempos (campeã em Wimbledon e no US
Open, além de vice em Roland- Garros, ou seja, um vitoriosa no Grand Slam), que
iniciou sua carreira no Tietê.
É o caso também da nadadora Maria
Lenk, outra atleta que deu suas braçadas nas piscinas do Tietê, assim como o
decano dos dirigentes esportivos, João Havelange, ex-presidente da CBD (atual
CBF), FIFA e membro vitalício do COI.
O nadador Abílio Couto e os corredores
Álvaro Ribeiro e Bento de Camargo Barros também brilharam em suas modalidades.
O avô do piloto de fórmula 1, Ayrton
Senna, também foi atleta do C.R. Tietê, o sr. João Senna, praticante da
natação.
Aliás, seguindo sua vocação náutica, o
Tietê foi o primeiro clube da América do Sul a ter uma piscina olímpica, em
1940, o que dá para mensurar a sua grandeza de outrora.
Ostenta cerca de 2200 troféus em sua
sala, mostrando que foi um clube vitorioso.
No meio da década de cinquenta, era
famoso o seu show de "aqualoucos", que atraía e divertia um excelente
público. A equipe do Tietê era liderada por um sujeito que posteriormente ficou
famoso na TV e no cinema, como comediante, chamado Ronald Golias...
As festas de Réveillons foram por
muitos anos marcadas pela disputa com o rival, Espéria. À meia-noite, um clube
queria superar o outro no show pirotécnico e quem ganhava era a cidade com esse
espetáculo.
Mas, com a decadência do rio, o clube
Tietê também foi declinando. Não foi só esse o fator de sua decadência, sem
dúvida, mas emblematicamente, o principal.
Hoje, seu quadro associativo caiu drasticamente.
Segundo apurei, não passam de 1500 associados (houve época em que passava de 40
mil) e numa faixa etária média de 60 anos, sem perspectivas de renovação.
Sua parte social que era super ativa,
com festas, bailes, concursos de miss e shows musicais, acompanharam a
decadência, infelizmente.
E o golpe final veio do poder público
: Como encerra-se o período do comodato do terreno que lhe pertence e em se
considerando que o clube acumula dívidas de mais de 40 milhões de reais com
encargos atrasados, o despejo é inevitável.
Claro que sócios, ex-atletas e
simpatizantes estão protestando e comissões foram mobilizadas para apelar à
prefeitura e até na câmara de vereadores, mas a decisão foi irreversível.
A prefeitura de São Paulo pretende
usar o equipamento do antigo Tietê para formação de atletas. Menos mal que
tenha esse plano e não o destrua simplesmente, para cedê-lo à assanha da
especulação imobiliária.
Porém, dói na alma ver um clube tão
tradicional ser aniquilado dessa forma, sendo que muito de sua decadência se
deve à situação caótica do rio Tietê, portanto, culpa direta do descaso do
poder público municipal e estadual, há décadas.
Causa
espanto e revolta entre seus atuais dirigentes o fato de que a prefeitura
firmou acordo de rever comodato de terrenos e renegociação de dívidas com oito
clubes tradicionais da cidade, incluso gigantes como Corinthians, Portuguesa,
São Paulo e Palmeiras e tenha mantido postura implacável contra o Tietê.
Pode estar
dentro da Lei, juridicamente falando, mas não é nada justo, moralmente, o que
está acontecendo com o simpático Clube de Regatas Tietê.
Texto de Luiz Antonio Domingues (músico das bandas PEDRA, Ciro
Pessoa & Nu Descendo a Escada, Kim Kehl e os Kurandeiros).
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