segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
COLOSSUS, THE FORBIN PROJECT
Por Luiz Antonio Domingues
A imaginação
de escritores como Júlio Verne e H.G. Wells, que escreviam em tempos remotos
projetando o futuro, era inacreditavelmente avançada para a época em que
conceberam suas estórias fantásticas.
Já no século
XX, outros tantos autores e produtores de cinema, deram asas à imaginação,
criando exercícios de futurismo que muitas vezes transformaram-se em realidade,
anos depois.
Até nos
desenhos animados e nas séries de TV, esse exercício de prever inovações
tecnológicas incríveis, tornou-se parte do imaginário das pessoas.
E nesse
contexto, a ideia do computador, era tida como algo muito assustadora e
distante das pessoas, antes do final da década de setenta, quando os primeiros
e rudimentares modelos de computadores destinados ao uso caseiro, pelo cidadão
comum, começaram a chegar timidamente no mercado.
Antes disso,
o computador era algo idealizado como uma máquina gigantesca, só cabível em
experimentos nas universidades, NASA e demais agências espaciais ou de uso
secreto de forças militares.
No
imaginário popular, o computador era algo assustador, só acessado por super
técnicos, cientistas e com funções destinadas à incompreensíveis equações da
matemática e da física.
E também
eram assustadores, pois ninguém sabia ao certo o grau de periculosidade desses
monstruosos equipamentos e graças à paranoia da guerra fria e alimentado pela
literatura e cinema Sci-Fi e também nas tramas de espionagem, ficamos todos com
medo da palavra "computador", pensando em máquinas super inteligentes
que dominariam o homem, como o "Hal-9000" que assolou no clássico de
Stanley Kubrick, "2001".
Outros
exemplos de filmes com esse tipo de motivação e também em séries de TV, já
haviam nos metido medo dos monstrengos que eram enormes e ocupavam galpões
cheios de cientistas e militares nos filmes.
E foi nesse
contexto que em 1970, foi lançado "Colossus, The Forbin Project", que
no Brasil recebeu o nome de "Colossus 1980" (inventaram 1980, para
dar ideia de “futuro”).
Sob direção
de Joseph Sargent, a estória gira em torno de um supercomputador criado pelo
cientista, Dr. Forbin (interpretado por Eric Bareden), que o idealizou visando
centralizar todos os comandos estratégicos do governo norte-americano.
A ideia
básica era que com um cérebro eletrônico super inteligente e não humano, o
controle das armas nucleares ficasse isento de emoções humanas, dando mais
segurança à todos, pois há anos a guerra fria alimentou a ideia de que a
qualquer momento, o presidente americano ou o soviético, poderia apertar o
botão vermelho da aniquilação total.
Colossus é o
grande computador norte-americano. Instalado numa montanha no Colorado, está
rodeado de cientistas, técnicos e militares.
O presidente
norte-americano faz contato permanente e mostra-se preocupado com a ideia do supercomputador
assumir as funções estratégicas de defesa.
Interpretado
pelo ator Gordon Pinsent, esse fictício presidente é quase um sósia do ex-presidente
John F. Kennedy, uma interessante alegoria usada pelo diretor do filme para
evocar a crise dos mísseis em Cuba, no ano de 1962.
Tudo parecia
ir bem, mas subitamente, Colossus estabelece comunicação com o computador
soviético, que tem o mesmo poderio e importância estratégica. Passa então a
fazer cálculos matemáticos aleatórios e os técnicos ficam perplexos por essa
reação espontânea da máquina.
O presidente
fica atônito e pressiona o Dr. Forbin, cobrando-lhe uma explicação.
O supercomputador
soviético chama-se "Guardian" e o único consolo para os americanos é
que o presidente e os cientistas soviéticos também estão apavorados com essa
reação dos dois computadores.
Num esforço
conjunto, os dois presidentes conversam por vídeo conferência (mais futurismo
para a época...) e combinam desligar cada respectivo computador, para efeito de
segurança.
Leonid
Rostoff interpretou o presidente soviético.
Mas Colossus
parece estar tomando conta da situação e antes que os técnicos tomem uma
providência, ele envia um míssil que destrói um enorme poço petrolífero
soviético, em Sayon Siberski.
O computador
soviético revida automaticamente e envia um míssil que destrói a cidade de
Henderson, no Texas.
Os dois
presidentes ficam arrasados e mesmo sabedores que nenhum dos dois tem culpa,
lamentam a destruição e perda de vidas humanas.
Dr. Forbin
viaja emergencialmente a Roma para buscar uma solução com outros cientistas
europeus, mas Colossus sabe exatamente o que ele quer fazer e exige a sua
presença imediatamente de volta ao Colorado, ameaçando enviar outros mísseis e
arrasar outras cidades.
Sem escolha,
Forbin retorna imediatamente e Colossus comunica que uniu-se ao Guardian e
agora eles dominam o mundo completamente.
Colossus
controla Forbin e todos os funcionários do complexo, vigiando-os diuturnamente.
Para
ironizar, Forbin em uma cena debochada, circula nu pelas dependências do
complexo, usando apenas um relógio de punho.
Em conversas
reservadas, Colossus revela que tomou o controle unindo-se ao Guardian, porque
os humanos são inconstantes, volúveis e portanto sujeitos à decisões
tresloucadas, motivadas por emoções mesquinhas (caramba! Falou alguma mentira???).
Dessa forma,
tomou essa decisão com Guardian, para preservar o planeta da destruição
iminente, se dependesse do controle dos humanos.
Claro, os
humanos estão apavorados e conspiram contra Colossus. Mas a tecnologia fez da
criatura, uma entidade mais poderosa que o criador e dessa maneira, o supercomputador
instaura o poder pelo terror.
Tentativas
de sabotagens são punidas com a morte, sumariamente.
Finalmente
os humanos percebem que não há escapatória a não ser obedecer o grande ditador
eletrônico.
Um momento
de descontração no filme ocorre quando o Dr. Forbin inventa um ardil para poder
falar com a cientista Cleo (Susan Clark).
Diz à
Colossus que tem sentimentos em relação à Dra. e pede permissão para realizar
um jantar romântico com ela...
Claro,
Colossus observa tudo pelas câmeras e de nada adiantam as tentativas de
comunicação por sussurros disfarçadas de chamegos do casal enquanto dançam, o
que chega a ser ridículo no filme.
Pior ainda,
quando já nus na cama, pedem a Colossus que desligue as câmeras e apague a luz,
pois humanos fazem sexo e sentem-se constrangidos em serem vistos...(bem, aí o
exercício de futurologia falhou feio, pois não imaginaram que existiria a
Webcam!!!).
Mas nada que
combinam dá certo e a verdade é uma só: Colossus e Guardian são os supremos
comandantes do planeta Terra e estabelecendo normas de conduta aos humanos,
através de um comunicado transmitido ao vivo pela TV para toda a humanidade,
iniciam a ditadura dos computadores.
A cena final
carrega na emoção, mas é melancólica como expressão do fracasso da humanidade.
Colossus
trava duro diálogo com Forbin e diz de forma surpreendente : "Com o tempo,
você vai me considerar não só com respeito e admiração, mas com amor"...
O close no
rosto fechado de Forbin, vai aproximando-o num zoom e ele diz com os dentes
cerrados : "Nunca"...
A crítica
não levou o filme a sério à época. No New York Times, disseram que o filme
serviu para mostrar que no fundo, se um míssil atingisse um alvo, serviria
apenas para o presidente exclamar : "Que droga, você estragou o meu
domingo no Golf "..
E claro,
acharam-no inferior ao "Dr. Strangelove" ("Doutor Fantástico” em
português), de Stanley Kubrick, o que sou obrigado a concordar, obviamente.
Para o
público, o filme não causou grande comoção também. Numa época onde o gênero
Sci-Fi estava em alta novamente, com lançamentos próximos como "2001"
e "Planet of the Apes", para ficar só em dois exemplos, realmente
"Colossus, The Forbin Project", ficou aquém.
Mas de forma
alguma é um filme ruim. Ele te prende a atenção, o que é um mérito, visto que a
ação tenderia a ser monótona, com o protagonista sendo uma máquina sem forma
definida e identificada como uma voz robótica e monocórdica.
As metáforas
são interessantes em relação ao poderio bélico das super nações da época da
guerra fria e a sensação de impotência diante de um domínio total.
Em termos
tecnológicos, o futurismo imaginado por Joseph Sargent soa ingênuo com apenas
42 anos passados, em vista do que temos hoje em dia sendo operado por crianças
de 3 anos de idade, mas também fica o filtro histórico, como ressalva a não
desabonar a obra.
O filme foi
baseado num livro chamado "Colossus", de Dennis Felthan Jones,
escrito em 1966. O romance de Felthan Jones teve duas sequências, mas
desconheço que tenham sido adaptadas para o cinema.
Rumores dão
conta de que o diretor Ron Howard planeja um remake, com a participação do ator
Will Smith, que estaria envolvido na produção. Smith é conhecido por gostar de
Sci-Fi e certamente deve ser fã do original de 1970.
"Colossus,
The Forbin Project" recebeu o nome "Colossus - 1980" no Brasil,
para fazer uma alusão ao fato de que seria futurista e sua ação desenvolvida
dez anos depois do que vivia-se em 1970, mas quem o vê hoje em dia, não precisa
nem de 30 segundos para ter a certeza de que era 1970, mesmo.
Gosto da
trilha incidental (assinada pelo compositor e produtor musical, Michel
Colombier), com ruídos de sonoplastia típicos do final dos anos sessenta, muito
usados em séries de TV daquela época.
São
sonoridades dos primórdios dos sintetizadores e que bandas de Rock que usavam
elementos experimentais, utilizavam bastante, como o Pink Floyd da fase imediatamente
após a saída de Syd Barrett (ponto da carreira do Pink Floyd, onde os críticos
destacam que a psicodelia que praticavam anteriormente, estaria mudando para o
estilo "Space Rock", numa alusão às sonoridades espaciais de filmes
de Sci-Fi), além de Soft Machine, Tangerine Dream e outras.
Charlton
Heston era o ator que os produtores desejavam, mas com a carreira em alta, o
cachet era inviável para o orçamento modesto que dispunham, daí terem fechado
com Eric Bareden para interpretar o Dr. Forbin.
"Colossus,
the Forbin Project", era um filme bastante exibido na grade da TV aberta
brasileira nos anos setenta. Tempo bom onde as sessões de cinema eram fartas na
grade da TV, que hoje em dia destina pouco tempo para o cinema. Nos anos
noventa, teve exibições em canais de TV a cabo, de onde tirei a minha cópia,
para a minha coleção.
Faz tempo
que não sei de uma exibição por aí. Portanto, quem leu e se interessou, esteja
convidado a procurar na Internet ou locadoras.
Finalizando,
apesar da guerra fria não ser mais a paranoia a nos atormentar, recomendo o
filme como diversão e reflexão sobre o tempo onde a humanidade tinha pesadelos
com dois homens que poderiam apertar um botão vermelho e daí, eu jamais teria
escrito esta matéria e você nunca a teria lido... Boom!!!
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