O PT completa três décadas nesta quarta (10). O aniversariante que soprará as velas do bolo não é aquele rebento nascido 30 anos atrás.

Os petistas fingem que não sabem, mas aquele PT de outrora morreu. O atestado de óbito foi emitido por uma legista insuspeita. Chama-se "Evidência".


A causa mortis, informa a responsável pela necropsia foi “suicídio”. Ao chegar ao poder, em 2003, o PT adotara uma conduta estranha, algo psicótica.

No curso da administração Lula, a legenda tanto fez que acabou por comprovar que também os partidos políticos podem ceifar a própria vida.


Seguindo as pegadas de outros suicidas da política, o PT viu-se enredado numa crise de auto-estima.

Passou a se comportar como um Narciso às avessas. Cuspiu na própria imagem. À medida que o governo avançava, a psicose partidária alçava níveis extremos.

O PT descobriu os encantos de uma personagem que rejeitava, a “Aética”. Na companhia dela, fez o pior o melhor que pôde.


Antes de morrer, o ex-PT escreveu um bilhete que o novo PT evita divulgar. Deixou anotados os termos de sua lápide:

"Aqui jaz a ética que, ao cair na vida, se esqueceu de maneirar". Pediu que não deixassem de acomodar sobre seu esquife uma cópia do inquérito do mensalão.

A morte do PT foi prematura. Experimentou os prazeres do poder ainda moço, no apogeu da juventude.

Por azar, tornou-se alvo da cobiça universal aos 25 anos. E entregou-se com avidez à nova aventura.

Sucumbiu às relações plurais sem zelar pela escolha dos parceiros. Não soube dosar as próprias pulsões.


Em meio à atmosfera de volúpia, o PT foi pilhado em novas e inusitadas poses. O partido da castidade deu preferência às posições ideológicas mais exóticas.

Aceitou gostosamente o assédio dos interesses mais contraditórios. Deu azo a perversões homéricas.


Atônito, o Brasil espiou os primeiros laivos da orgia através de frinchas abertas no mármore do Palácio do Planalto.

Súbito, o país descobriu no imenso telhado de vidro do PT um posto de observação mais adequado. Dali, pôde-se acompanhar sem restrições o strip-tease da virtude.


Devagarinho, a legenda imaculada foi se integrando à baixeza comum a todos os partidos. O PT provou-se capaz das maiores abjeções.

Mal acordou do sonho presidencial e já foi dormir com o PL, o PP, o PTB e o naco mais assanhado do PMDB. Hipotecou a alma às conjunções mais impudicas.

Escorado na castidade presumida de Lula, o PT tornou-se a maior evidência de que, com o tempo, qualquer um pode atingir a perfeição da impudência.


No último ano do mandato de Lula, o neo-PT encontra-se na constrangedora posição de partido supostamente imaculado compelido a conviver com a esbórnia.

A morte do PT levou certo desencanto ao universo partidário. Foi como se a idade da ética houvesse terminado.

O país se deu conta de que Deus está em toda parte, mas é o Tinhoso quem controla as conjunções que animam a política brasileira.


Um fantasma assombra as noites do PT balzaquiano. Trata-se da assombração do velho PT, aquele partido puro, ingênuo e socialista.

A alma penada ronda os sonhos do PT, já velho aos 30, brandindo faixas com bordões inconvenientes.

Coisas como "Abaixo a corrupção". Costuma gritar também uma frase inspirada no Lula da década de 80: "Diga não aos 300 picaretas do Congresso".


Ex-borboleta da política brasileira, o PT chega ao seu aniversário como protagonista de uma inusitada volta ao casulo, túmulo da lagarta.

O partido vai às urnas de 2010 com chances reais de fazer da ex-pedetê Dilma Rousseff a sucessora de Lula.

Mas, caso se confirme, o triunfo eleitoral será creditado a Lula, não à legenda.

O PT, aquele velho PT, cavou na enciclopédia um verbete indigno de sua história. Desceu aos livros como larva.

Deixou para a posteridade um rastro pegajoso de perversões. Igualou-se aos que atacava. Irmanou-se a eles na abjeção.

- Em tempo: O texto acima é uma adaptação de artigo que o signatário do blog veiculou em agosto de 2005, no auge do mensalão.