sábado, 6 de outubro de 2012

A MÃE DE JOAQUIM BARBOSA TAMBÉM NASCEU ANALFABETA! E NÃO DEU À LUZ UM MESSIAS DE ARAQUE!

A VEJA desta semana traz na capa a imagem de um menino negro, de olhar severo e altivo. É Joaquim Barbosa, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal, aos 14 anos. Num país acostumado à impunidade, ao “isso não vai dar em nada”, ele se tornou uma justa referência. Segue trecho da reportagem de Hugo Marques e Laura Diniz. Lula estava certo: um ex-garoto pobre viria a simbolizar a esperança, e falta muito para que cheguemos lá, do fim da impunidade no Brasil. A mãe de Joaquim Barbosa, leitor amigo, a exemplo da sua e da minha, também “nasceu analfabeta”. Acabou dando à luz um futuro ministro do Supremo, obcecado pela leitura e pelo estudo, não um Messias de araque…
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O menino Joaquim Barbosa nunca se acomodou àquilo que o destino parecia lhe reservar. Filho de um pedreiro, cresceu ouvindo dos adultos que nas festas de aniversário de famílias mais abastadas deveria ficar sempre no fundo do salão. Só comia doces se alguém lhe oferecesse. Na última quarta-feira, o ministro Joaquim Barbosa, 58 anos, apresentou seu voto sobre um dos mais marcantes capítulos do julgamento do mensalão — o “last act (bribery)”, “último ato (suborno)”, como ele anotou em inglês no envelope pardo que guardava o texto de sua decisão. Além do português, Barbosa domina quatro idiomas — inglês, alemão, italiano e francês. Pouco antes da sessão, o ministro fez uma última revisão no texto. Cortou algumas citações, acrescentou outras e destacou trechos. Não alterou em nada a essência da sua convicção, cristalizada depois de sete anos como relator do processo.
Durante mais de três horas, Barbosa demoliu a defesa e as esperanças dos petistas José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, mostrando como eles usaram dinheiro desviado dos cofres públicos para subornar parlamentares e comprar o apoio de partidos políticos ao governo Lula. Exaurido pela dor nas costas que o martiriza há anos, o ministro anunciou seu “last act” no mesmo tom monocórdio com que discorreu sobre as provas: condenou por crime de corrupção ativa Dirceu, Genoino e Delúbio, que formavam a cúpula do Partido dos Trabalhadores (PT). Dois ministros acompanharam o relator e um aceitou em parte as teses da defesa. A votação continua nesta semana, quando os seis ministros restantes vão revelar suas decisões, mas o Supremo Tribunal Federal, o STF, já consolidou perante os brasileiros o conceito — sem o qual uma nação não se sustenta — de que a Justiça funciona também para os ricos e poderosos.
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Por Reinaldo Azevedo

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