quinta-feira, 25 de outubro de 2012

ZEQUINHA DE ABREU

Por Luiz Antonio Domingues – in Orra Meu! 

A vida prega peças para todo mundo e invariavelmente somos surpreendidos com fatos imponderáveis em todas as áreas.
Existem muitos exemplos de meninos de origem humilde, nascidos em pequeninas cidades interioranas e que subitamente alcançam notoriedade estrondosa por algum feito extraordinário.
É o caso de um menino nascido na pequena Santa Rita do Passa Quatro, interior de São Paulo, no longínquo ano de 1880. Batizado como José Gomes de Abreu, era filho de José Alacrino Ramiro Abreu, o boticário da cidade e de Dona Justina Gomes Leitão, dona-de-casa.
Mais velho dos oito filhos do casal, recebeu o apelido de Zequinha e mostrou aptidão para a música desde a tenra infância, aprendendo sozinho a tocar flauta. Aos 10 anos de idade já tinha grande fluência nesse instrumento, além de dominar a clarineta, também e ousado, era o maestro mirim da bandinha escolar. 
Apesar do sonho do seu pai de vê-lo formado como médico e da mãe em vê-lo ordenado padre, Zequinha perseguiu a música desde sempre.
Já dominando o piano e estudando com afinco a matéria da harmonia musical, aos 17 organizou uma orquestra na cidade, onde o objetivo era tocar em festas, bailes, solenidades e concertos de toda espécie.
Logo surgiram as composições e numa Era pré-fonograma, a única maneira de expandir sua arte era através da venda de partituras das composições. Pobre e morando numa pequena cidade interiorana e naquela época, tudo era muito difícil.
Casou-se aos 18 anos e tornou-se funcionário público para garantir o sustento da família.
Por um golpe de sorte, suas composições mais famosas, "Branca" e "Tico-Tico no Fubá", acabaram chegando a São Paulo e Rio e daí ganharam uma dimensão extraordinária, mas tudo isso ocorrendo muito anos depois, portanto, ele não usufruiu de nada, infelizmente.
Foi bem no fim dos anos vinte e durante os primeiros momentos da década de trinta que essa expansão ocorreu , principalmente por Carmen Miranda ter gravado "Tico-Tico no Fubá" e levado esse super hit ao mundo, através dos filmes americanos onde virou estrela exótica da latinidade.
Claro, numa época onde o show business mal engatinhava, essa expansão veio muito tempo depois, sem que ele pudesse usufruir adequadamente dessa fama e compensação financeira advinda.
Nesse aspecto, sua biografia se assemelha muito à do pianista/compositor norte-americano , Scott Joplin.
Tal como Zequinha, Scott era um menino pobre e com a agravante do preconceito por ser negro. Genial pianista e compositor, foi um dos maiores, senão o maior nome do "Ragtime", uma vertente extremamente melódica e técnica do Jazz. Mas morreu pobre e sem reconhecimento, só se tornando famoso muitas décadas depois, quando sua música maravilhosa estourou como trilha do filme "The Sting" ("Golpe de Mestre"), motivando uma cinebiografia em 1977.
Nesse aspecto, as biografias de Scott Joplin e Zequinha de Abreu são mesmo muito parecidas.
Zequinha de Abreu faleceu em 1935 e tal como Scott Joplin, passou seus últimos anos sobrevivendo de música a duras penas, tocando em cabarets, boites e festinhas particulares de São Paulo, capital. 
No início dos anos 1950, a Companhia cinematográfica Vera Cruz, bancou a cinebiografia de Zequinha de Abreu. Numa produção muito boa, Anselmo Duarte interpretou Zequinha de Abreu e Tônia Carrero, interpretou Branca, moça artista de um circo que teria inspirado Zequinha a compor sua famosa valsa "Branca.”
O filme usou de bastante licença poética e bem na onda de cinebiografias de artistas da música, no estilo americano de Hollywood, edulcorou bastante a cinebiografia de Zequinha.
Mas trata-se de um filme muito bem produzido e apresenta a arte dele com muita dignidade.
Esse foi Zequinha de Abreu, menino simples do interior que deixou uma bela obra artística, com alcance internacional.
Zequinha de Abreu - Branca (1979)
 
Luiz Antonio Domingues (Músico das Bandas; Pedra, Ciro Pessoa e Kin Kelh e os Kurandeiros)

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