domingo, 7 de outubro de 2012

MÁQUINA DO TEMPO - REVISTA MÚSICA

 
Qual músico ou aspirante a músico que nunca pegou uma revista de cifras para tentar tirar as músicas de seus ídolos, ou não teve a curiosidade de pegar uma revista do estilo Guitar Player para ver as últimas novidades em instrumentos e equipamentos musicais? Luiz Domingues nos conta neste texto abaixo sobre as revistas precursoras desse estilo que fez parte da nossa adolescência, e que até os dias de hoje são usadas em versões on line. Como aconteceu com o Luiz, também tive um professor de violão que só queria ensinar as músicas que ele gostava, às vezes difíceis de acompanhar, e que na época eu achava antiquadas, veja só, eram simplesmente músicas dos Mutantes! Talvez fosse muito nova para entender na época! hehehe... Boa viagem na máquina do tempo, e fiquem com Deus!-\|-Limonada Hippie-|/


Por Luiz Antonio Domingues
Jogue a primeira pedra quem nunca "tirou"
uma música da VIGU...
Uma pequena editora sediada na zona oeste da cidade de São Paulo e ligada a um conservatório musical, editava uma revista muito popular nos anos setenta, chamada "Violão & Guitarra".
Apelidada de "Vigu", era sucesso entre estudantes de violão e guitarra iniciantes, pois a sua base editorial era a publicação de letras de músicas do Hit Parade, com a respectiva harmonia musical super simplificada através de cifras e indicações de como montar os acordes, com o desenho dos dedos nos trastes do instrumento.
Apesar das críticas de muitos músicos por considerarem as harmonias propostas equivocadas, o fato é que muita gente aprendeu o bê-á-bá da digitação ao violão/guitarra, consultando tal publicação.
Avançando como escola de música e animados com o mercado editorial que apresentava publicações como a Revista "POP" e a "Rock, a História e a Glória" nas bancas, lançaram então, em 1976 , a revista "Música".
A proposta editorial tinha seus diferenciais em relação à concorrência, todavia.
Se na "Rock", o texto tinha conteúdo contracultural, acrescido de muita paixão pela música e Rock em específico e na "POP", o fator comportamental da juventude classe média era o mote, na revista "Música", a ênfase era um texto mais rebuscado e preocupado em mostrar aspectos técnicos, tanto tecnológicos em relação à instrumentos e equipamentos, quanto à parte didática de explicar a performance de músicos famosos.
Mesmo sendo impressa em preto e branco, a "Música", tinha uma boa diagramação e ilustrações.
E seguindo mais a linha do jornal anexo da "Rock" (Jornal de Música) e o encarte da "POP" (Hit Parade), era aberta à muitas vertentes da música, embora o Rock, incluso os seus representantes brasileiros, tinha farta cobertura por estar num momento ainda em alta no mercado daquela época.
Os pontos mais positivos ficavam por conta da cobertura de shows ao vivo e resenhas de discos, mesmo levando-se em conta que seus articulistas eram mais exigentes do que seus colegas de outras publicações.
A meu ver, esse grau de perfeccionismo se dava por conta da valorização do aspecto didático, que era a especialidade da casa, visto que a publicação era o braço jornalístico de uma escola de música e dessa forma, precisavam mostrar serviço nas análises mais profundas.
Havia quem não gostasse de tanto rigor e mesmo particularmente preferindo a escrita da "Rock", bem mais leve e "cool", essa formalidade de professor de música não me incomodava e eu achava e ainda acho, que uma visão paralela e diferente, só enriquece o manancial de informações sobre um mesmo assunto.
Seguindo nessa linha, a "Música" dava muitas notas sobre instrumentos e equipamentos, citando até cotação de preços no mercado de São Paulo e Rio de Janeiro; matérias técnicas falando sobre testes tecnológicos etc.
E claro, havia o aspecto didático também, onde aproveitando o Know-how adquirido com a popular "Vigu", publicava-se igualmente cifras e letras de
músicas de sucesso, só que mais selecionadas, priorizando Rock e MPB de qualidade, principalmente.
Uma edição muito comentada foi a que trouxe uma matéria muito boa com George Harrison em 1979, quando o ex-Beatle veio ao Brasil quase secretamente para assistir o GP de Fórmula 1 em Interlagos. O boato espalhou-se apesar dele estar incógnito praticamente e a "Música" foi atrás, como um dos poucos veículos que percebeu esse visitante ilustre respirando o ar tupiniquim, além de uma entrevista para o programa "Fantástico", da Rede Globo, que ele concedeu e alvoroçou os fãs.
A revista foi perdendo o fôlego e já não conseguia enfrentar sua maior concorrente no final da década de setenta e início de oitenta, a "Som Três". Com mais estrutura, a "Som Três" prevaleceu e a "Música" fechou as portas em 1983.
A pequena "Editora Imprima", mesmo fragilizada financeiramente, persistiu ainda um pouco mais ao lançar outras publicações nos anos oitenta, como "Rock Stars" e "Rock Passion", mas que também sucumbiram, infelizmente.
Em seus anos mais profícuos na década de setenta, a "Música" teve suas matérias assinadas por jornalistas de qualidade, como Nico Pereira de Queirós e Rafael Varella Júnior entre outros.
Matérias técnicas eram assinadas por convidados. Geralmente músicos e técnicos gabaritados. Gente como Tony Osanah, Claudio Lucci, Nelson Ayres, Egydio Conde e maestros como Fausto de Paschoal e Ettore Pescatore, por exemplo. 
Os editores eram os irmãos Victor Biancardi e Oswaldo Biancardi Sobrinho, também donos do "Grupo AMA", uma escola de música que vendia a ideia de ter uma concepção didática moderna, embora fosse apenas repaginada de um conservatório musical tradicional, fundado pelo pai deles, o velho Biancardi.
Eu mesmo tive uma passagem rápida pelo Grupo AMA, estudando por alguns meses de 1977. Meu professor era bom, baixista de uma banda de baile famosa na época (Phobus), mas sua didática não me cativou. As únicas coisas bacanas nas aulas dele eram : 1) Ele usava o baixo dele e eu mais "babava" do que focava nos exercícios, com aquele espetacular Fender Jazz Bass sunburst, igual ao do John Paul Jones...e 2) Ele estava obcecado pelo novo álbum do Stevie Wonder à época e só queria ensinar as músicas do LP "Songs in the Key of Life", que era (é !!) demais. Uma pena que eu fosse um mero principiante e não acompanhasse como gostaria... A Revista "Música" foi uma boa publicação naquela metade para o final da década de setenta e certamente contribuiu bastante naquele período.

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