terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
BENTO XVI FAZ O ELOGIO DA MISSA DE SEMPRE E A CRÍTICA DA MISSA NOVA - SEM DAR OS TERMOS!
Fonte do texto: Vaticano
Comentário Lucia Zucchi
Na
primeira parte do trecho destacado da “conversa” espontânea com o clero romano
que Bento XVI teve na Quarta Feira de Cinzas, o Papa fala sobre a Missa,
evidentemente sobre a Missa tradicional, a Missa que havia na época do
Concílio: o povo a compreendia, substancialmente , mas não falava –
era representado pelo pequeno acólito que respondia «Et cum spiritu tuo».
O
que buscava o movimento litúrgico é – bem ou mal – aquilo que
temos hoje nas Missas celebradas de acordo com o Missal de 1962: “que
fosse realmente um diálogo entre o sacerdote e o povo, que realmente a liturgia
do altar e a liturgia do povo fosse uma única liturgia, uma participação ativa,
que as riquezas chegassem ao povo; e assim foi redescoberta, renovada a
liturgia.” Era esse,
segundo Bento XVI, o objetivo do Concílio em termos de liturgia!
Mas
depois acreditou-se que para ser inteligíveis os textos
deveriam estar em língua materna. Mas “quem pode afirmar
que a compreende imediatamente só porque a leitura está na sua própria língua?” Parece fácil acreditar que
aqui já se terá passado da justa medida, na opinião do Papa, embora ele
acrescente um elogio ressalva: ”os grandes textos da liturgia –
ainda que proferidos, graças a Deus, na língua materna“.
Finalmente,
Bento XVI critica os resultados da reforma litúrgica entendida como triunfo da
“soberania popular“:
“não interessava a liturgia como ato da fé, mas como algo onde
se fazem coisas compreensíveis, algo de atividade da comunidade, algo profano. (…) A
sacralidade é uma coisa pagã,
(…) Portanto há que acabar com a sacralidade, o próprio culto deve
ser profano: o culto não é culto, mas um ato do todo, da participação comum, e
deste modo a participação vista como atividade“. Aqui já é a Nova Missa e suas
tristes consequências que o Papa descreve: “tantas
calamidades, tantos problemas, realmente tanta miséria: seminários fechados,
conventos fechados, liturgia banalizada…”
(…)
Depois da Primeira Guerra
Mundial, crescera, precisamente na Europa central e ocidental, o movimento
litúrgico, uma redescoberta da riqueza e profundidade da liturgia, que até
então estava quase fechada no Missal Romano do sacerdote, enquanto o povo
rezava pelos seus livros de oração, feitos de acordo com o coração da gente, de
modo que se procurava traduzir os conteúdos altos, a linguagem elevada da
liturgia clássica em palavras mais sentimentais, mais próximas do coração das
pessoas. Tratava-se,
porém, quase de duas liturgias paralelas: o sacerdote com os ajudantes, que
celebrava a Missa segundo o Missal, e os leigos que rezavam, durante a Missa,
com os seus livros de oração, sabendo substancialmente o que
se realizava no altar. Mas agora fora redescoberta precisamente
a beleza, a profundidade, a riqueza histórica, humana, espiritual do Missal e a
necessidade que não houvesse só um representante do povo, um pequeno ajudante,
a dizer: «Et cum
spiritu tuo», etc, mas que fosse realmente um diálogo entre o
sacerdote e o povo, que realmente a liturgia do altar e a liturgia do povo
fosse uma única liturgia, uma participação ativa, que as riquezas chegassem
ao povo; e assim foi redescoberta, renovada a liturgia.
Agora olhando
retrospectivamente, eu acho que foi muito bom ter começado pela liturgia,
aparecendo assim o primado de Deus, o primado da adoração. Deste modo a frase «operi Dei nihil praeponatur»
da Regra de
São Bento (cf. 43, 3) aparece como a regra suprema do Concílio. Alguém
criticara o Concílio por ter falado sobre muitas coisas, mas não sobre Deus.
Ora ele falou sobre Deus! E o seu primeiro e substancial ato foi falar sobre
Deus e abrir todas as pessoas, todo o povo santo, à adoração de Deus, na
celebração comunitária da liturgia do Corpo e Sangue de Cristo.
(…)
Depois havia princípios: a inteligibilidade,
em vez de ficar fechados numa língua desconhecida, não falada, e também a participação ativa.
Infelizmente, estes princípios foram também mal compreendidos. Inteligibilidade não quer dizer
banalidade, porque os grandes textos da liturgia – ainda que
proferidos, graças a Deus, na língua materna – não são facilmente inteligíveis,
precisam de uma formação permanente do cristão para que ele cresça e entre
cada vez mais em profundidade no mistério, e assim possa compreender.
E o mesmo
se diga da Palavra de Deus: se se pensa na leitura diária do Antigo Testamento,
e mesmo na leitura das Cartas Paulinas, dos Evangelhos, quem pode afirmar que a
compreende imediatamente só porque a leitura está na sua própria língua?
Só uma formação permanente do coração e da mente pode realmente criar
inteligibilidade e uma participação que é mais do que uma atividade exterior,
que é uma entrada da pessoa, do meu ser na comunhão da Igreja e, deste modo, na
comunhão com Cristo.
(…)
Agora quero acrescentar ainda
um terceiro ponto: havia o Concílio dos Padres – o verdadeiro Concílio – mas
havia também o Concílio dos meios de comunicação, que era quase um Concílio a
parte. E o mundo captou o Concílio através deles, através dos mass-media.
Portanto o Concílio, que chegou de forma imediata e eficiente ao povo, foi o
dos meios de comunicação, não o dos Padres. E enquanto o Concílio dos Padres se
realizava no âmbito da fé, era um Concílio da fé que faz apelo ao intellectus, que
procura compreender-se e procura entender os sinais de Deus naquele momento,
que procura responder ao desafio de Deus naquele momento e encontrar, na
Palavra de Deus, a palavra para o presente e o futuro, enquanto todo o Concílio
– como disse – se movia no âmbito da fé, como fides quaerens intellectum, o Concílio
dos jornalistas, naturalmente, não se realizou no âmbito da fé, mas dentro das
categorias dos meios de comunicação atuais, isto é, fora da fé, com uma
hermenêutica diferente. Era uma hermenêutica política: para os mass-media, o
Concílio era uma luta política, uma luta de poder entre diversas correntes da
Igreja. Era óbvio que os meios de comunicação tomariam posição por aquela parte
que se lhes apresentava mais condizente com o seu mundo. Havia aqueles que pretendiam a
descentralização da Igreja, o poder para os Bispos e depois, valendo-se da
expressão «Povo de Deus», o poder do povo, dos leigos. Existia
esta tripla questão: o poder do Papa, em seguida transferido para o poder
dos bispos e para o poder de todos, a soberania popular. Para eles,
naturalmente, esta era a parte que devia ser aprovada, promulgada, apoiada. E o
mesmo se passava com a liturgia: não
interessava a liturgia como ato da fé, mas como algo onde se fazem coisas
compreensíveis, algo de atividade da comunidade, algo profano. E sabemos que
havia uma tendência – invocava mesmo um fundamento na história – para se dizer:
A sacralidade é uma coisa pagã, eventualmente do próprio Antigo Testamento. No
Novo, conta apenas que Cristo morreu fora: fora das portas, isto é, no
mundo profano.
Portanto há que acabar com a sacralidade, o próprio culto deve ser profano: o
culto não é culto, mas um ato do todo, da participação comum, e deste modo a
participação vista como atividade. Estas traduções, banalizações da ideia do
Concílio, foram virulentas na prática da aplicação da reforma litúrgica;
nasceram numa visão do Concílio fora da sua chave própria de interpretação, da
fé. E o mesmo se passou também com a questão da Escritura: a Escritura é um
livro, histórico, que deve ser tratado historicamente e nada mais, etc.
(…)
“Sabemos como este Concílio dos
meios de comunicação era acessível a todos. Por isso, acabou por ser o
predominante, o mais eficiente, tendo criado tantas calamidades, tantos
problemas, realmente tanta miséria: seminários fechados, conventos fechados,
liturgia banalizada…” –
(Montfort).
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