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Retrato do escritor e poeta austríaco Stefan Zweig (1881-1942) Reprodução |
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
O PAÍS DO FUTURO, SEGUNDO STEFAN ZWEIG
Texto
de Luiz Antonio Domingues
A expressão
: "O Brasil é o país do futuro", vem sido usada há décadas. Usada de
todas as formas e sob todas as circunstâncias, pode ser encarada de várias
formas, num enorme leque de conotações, que vão da ironia ao extremo otimismo.
Atribui-se a criação dessa expressão a um intelectual austríaco de origem
judaica, chamado Stefan Zweig, que passou seus últimos dias aqui, encantado com
o potencial que enxergou, há mais de 70 anos atrás. Stefan Zweig nasceu em
Viena, no ano de 1881, filho e neto de ricos banqueiros da Boêmia. Nesses
termos, teve uma educação refinada e desde cedo foi preparado para assumir as instituições
financeiras da família ao lado de seu irmão, mas a vida intelectual o cooptou
antes. Mesmo sendo uma família judia, segundo Zweig, a religião não era seguida
à risca das tradições e ele mesmo chegou a afirmar que ser judeu era algo
meramente ocasional em seu Lar. Estudou filosofia na Universidade de Viena e
obteve seu doutorado em 1904, defendo a tese "A Filosofia de Hyppolyte
Taine". Mas mesmo antes da graduação e doutorado, já havia publicado seu
primeiro livro de poemas ("Silbern Saiten", "Cordas de
Prata" em português), em 1902. Especializando-se em literatura inglesa e
francesa, traduziu vários autores para o alemão (Keats, Baudelaire, Morris,
Yeats, Verlaine, entre outros). Era amigo pessoal de artistas e intelectuais
tais como Rimbaud, Romain Rolland, Rainer Maria Rilke, Thomas Mann e Sigmund
Freud, entre outros. Em 1912, duas peças teatrais de sua autoria fizerem
sucesso ("A Metamorfose da Comédia" e "A Mansão à
Beira-Mar"), com encenações concorridas em Viena. Começa então a se
interessar pelo cinema com muito entusiasmo, também. Chega a escrever muitos
roteiros e até Roberto Rossellini chegou a filmar um roteiro seu ("O
Medo", de 1954, anos após sua morte). Começa a primeira guerra mundial e
inflamado pelo sentimento nacionalista que assolou a Alemanha e a Áustria,
apoiou o estado germânico, mas logo a seguir passou a ter outra visão da
guerra, tornando-se um pacifista ferrenho, doravante. Casou-se em 1915 com a
escritora Friderick Von Winsternitz a após o término da I Guerra, viveu momento
de intensa produção literária, lançando livros de poesias, traduções de outros
autores e muitas biografias de personalidades como Maria Antonieta, Fouché,
Dostoievski, Dickens, Balzac, Nietzsche, Tolstoi, Stendhal etc. Passa a lançar
também romances e ensaios, a partir dos anos vinte. São famosas as obras como :
"Amok" (1922), "Angústia" (1925) e "Confusão de
Sentimentos" (1927), influenciadas pela psicanálise, que seu amigo Sigmund
Freud, tanto conversou a respeito, certamente. Separado de sua primeira esposa,
une-se desta feita com sua secretária, Charlotte Elizabeth Altmann, apelidada
de "Lotte" entre seus familiares. Com a ascensão do partido nacional
socialista ao poder na Alemanha, Zweig sentiu-se inseguro para continuar
vivendo na Áustria e às pressas, mesmo antes das primeiras hostilidades
antissemitas terem início, mudou-se com "Lotte" para a Inglaterra, no
ano de 1934. Sua ideia era viver numa pacata cidadezinha medieval, chamada
Bath, mas suas atividades intelectuais faziam com que passasse o maior tempo em
Londres. Quando a II Guerra eclodiu, percebeu que mesmo tendo a Inglaterra, a
mais poderosa força armada para enfrentar os nazistas na Europa, havia perigo
iminente e dessa maneira, fogem para Nova York, onde se sentiriam mais seguros.
Em 1940, vem pela primeira vez ao Brasil. Sua visita é para palestrar em
universidades. Fica encantado com a Bahia, onde vislumbra um paraíso alheio à
guerra e lhe impressiona como as pessoas nativas são felizes com tão poucos
recursos. E nessa primeira viagem, conclui com entusiasmo um ensaio, onde
coloca o título de "Brasil, o País do Futuro". Sua presença é
celebrada pelos intelectuais brasileiros, mas setores do governo mal disfarçam
a insatisfação pela presença de um intelectual judeu e antinazista. Fato, o
governo Vargas flertava com simpatia pelo Eixo e só mudou a orientação por
outros fatores e interesses, unindo-se aos Aliados nos estertores do conflito.
Cada vez mais impressionado com os avanços dos nazistas, inflamava-se em
discursos antinazistas, onde questionava abertamente as intenções racistas de
Hitler e fazendo o contraponto, achava que o Brasil era o exemplo da nova civilização
a ser seguido, via miscigenação total de raças e não a aniquilação de raças
ditas inferiores, num falso esforço de apuro genético, que era a proposta dos
nazistas. Encantado com essa perspectiva, resolve estabelecer residência no
Brasil, comprando uma casa na cidade de Petrópolis, região serrana do estado do
Rio. Morando em Petrópolis, Stefan Zweig escreve mais algumas obras ("O
Jogador de Xadrez"; "O Mundo de Ontem", que ficou inacabado e
"O Mundo que eu Vivi", onde descreve suas impressões sobre a I Guerra
Mundial). Mas as notícias vindas da Europa não eram nada boas em 1942, e Zweig
entrou num processo de depressão acentuado, perdendo as esperanças diante dos
avanços nazifascistas. E sendo assim, decide dar cabo à própria vida, de comum
acordo com sua companheira, "Lotte". Deixa uma carta explicando os
seus motivos: Antes de deixar a vida por vontade própria e livre, com minha
mente lúcida, imponho-me última obrigação; dar um carinhoso agradecimento a
este maravilhoso país que é o Brasil, que me propiciou, a mim e a meu trabalho,
tão gentil e hospitaleira guarida. A cada dia aprendi a amar este país mais e
mais e em parte alguma poderia eu reconstruir minha vida, agora que o mundo de
minha língua está perdido e o meu lar espiritual, a Europa, autodestruído.
Depois de 60 anos são necessárias forças incomuns para começar tudo de novo.
Aquelas que possuo foram exauridas nestes longos anos de desamparadas
peregrinações. Assim, em boa hora e conduta ereta, achei melhor concluir uma
vida na qual o labor intelectual foi a mais pura alegria e a liberdade pessoal
o mais precioso bem sobre a Terra. Saúdo todos os meus amigos. Que lhes seja
dado ver a aurora desta longa noite. Eu, demasiadamente impaciente, vou-me
antes. Stefan Zweig. O casal foi enterrado no cemitério Municipal de Petrópolis
e sua residência hoje em dia é um Centro Cultural com seu nome, Stefan Zweig.
Décadas após, em 2002, o cineasta paranaense, Sylvio Back, realizou um filme,
chamado "Lost Zweig", baseado na biografia de Stefan Zweig, escrita
por Alberto Dines, denominada "A Morte no Paraíso". O próprio Sylvio
Back já havia lançado um documentário sobre o casal Zweig anteriormente e que
lhe serviu de base, além do livro de Alberto Dines, naturalmente. Uso político
à parte, a expressão cunhada por Stefan Zweig, "O Brasil é o País do
Futuro", finalmente mostra-se como uma perspectiva concreta nos dias
atuais e não como uma utopia e alvo de escárnio para os pessimistas de plantão.>Planet Polêmica<
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