domingo, 24 de fevereiro de 2013

IRINEU, VERVE E VEEMÊNCIA

O homem pertence a ele mesmo, sem ser dono de si - (Gudé).
Por José Eugênio Maciel
“A palavra é o próprio homem. Somos feitos de palavras. Elas são nossa única
realidade ou, pelo menos, o único testemunho de nossa realidade”.
Octávio Paz

            O ser humano criou a palavra. A palavra faz o homem. A palavra é a materialização do pensamento. Ela é a evocação do que o ser humano é e do que deseja ser, em si ou na comunhão com os seus semelhantes.
         Francisco Irineu Brzezinski conhecia e empregava bem a palavra, a escrita e a oral. A verve eloquente o marcou na trajetória de vida. A veemência do discurso era capaz de reunir, unir, ensinar, mobilizar grandemente a ação das pessoas nos ideais comuns.
         Nascido em Mallet, herdou do pai Roberto Brzezinski – que foi prefeito de Campo Mourão – a política como a vocação de servir ao povo. Sem dúvida alguma, Irineu em pouquíssimo tempo e ainda bem jovem, se afeiçoou a este lugar, paixão e devoção que tão bem o tipificaram. Amou, acreditou e contribuiu sobejamente para o processo desenvolvimentista, notadamente em termos humanistas.
         Advogado com esmero para bem preparar toda causa que lhe fosse confiada, atingia como poucos o ápice do seu mister profissional quando atuava no júri. O Direito o envolveu tão arraigadamente que ele se tornou promotor, atuando em várias comarcas sem se desligar do porto seguro mourãoense. A Justiça era o objetivo a ser alcançado, sempre, o que implicava na atuação do advogado livre de qualquer embaraço que pudesse tolher tal exercício, fato que ficou bem nítido quando presidiu a Ordem dos Advogados do Brasil, subseção de Campo Mourão.
         Presidiu a Câmara de Vereadores de Campo Mourão agindo de tal modo que aquele Poder fosse o espaço legítimo para o debate público que possibilitasse o bem estar do povo. E foi assim, com o legado inspirador do pai, que entrou para a história como o primeiro deputado federal eleito pela região. Antes de defender a sua própria candidatura, com galhardia e conhecimento, difundia a tese no sentido de que a região tinha o direito e a capacidade de eleger um nome autenticamente oriundo das nossas raízes.
         Historiador, pesquisou, organizou e difundiu através de livros o nosso antepassado, evocando nomes e acontecimentos determinantes regionais. Foi professor da Faculdade, participou de diversas entidades de representação social, sempre proporcionando valiosas contribuições. Presidiu a AML – Academia Mourãoense de Letras com denodo e fomentador da efervescência cultural literária.
         Seja para enaltecer ou para discordar o que pudesse considerar correto ou errado, a voz dele era sempre ouvida, ao estilo dos discursos típicos dos anos 50 e 60 quando os recursos de amplificação do som eram parcos, fazendo com que fosse imprescindível o som da voz bem alto para que todos pudessem ouvir, hábito que conservou mesmo diante do avanço tecnológico e das transformações culturais, mantendo a sua retórica. Na improvisação, em momentos solenes ou não, estava sempre preparado e sentia uma necessidade indeclinável para fazer uso da palavra, criando uma enorme expectativa, era um orador, se não temido, respeitável. E caso não desejasse falar, era compelido a fazê-lo provocado e intimado pela nossa gente.
         Nos dizeres do irmão dele, advogado Iran Roberto Brzezinski, “poderiam pensar diferente dele, discordar, mas era um homem respeitado por todos”.  É a família tradicional que perde a figura humana dileta, é a sociedade que sente dolorosamente o cessar de uma vida com 74 anos repleta de bons exemplos inspiradores e edificantes, constituindo desde já parte da nossa história, passado que ele tão bem estudou e difundiu, que foi também protagonista, lançador de bases que contribuem na sustentação do chão firme do solo fértil e dos pilares da nossa urbanidade.

Reminiscências em Preto e Branco (I)
             A vida dele sempre foi corrida. Bandeira 1 ou bandeira 2 ele era uma figura das mais populares em Campo Mourão, não “dormia no ponto”, estava sempre pronto para exercer a profissão de taxista. Conheceu a cidade quando ela cabia na palma da mão, eram poucas as vias, muitas delas com pó ou com muito barro, época em que  o meio rural compunha a maior parte da população e era para lá que levava os seus fregueses, pelas estradas vicinais ou carreadores, sempre prestativo e gentil. Exemplo de amabilidade e correção, Tadeu Kaidzik morreu aos 66 anos, 20 de fevereiro.
 
Reminiscências em Preto e Branco (II)
Pioneiro da nossa região, especialmente em Roncador e Campo Mourão, Bruno Gehring desbravou sertões, adentrou matas densas e preparou o solo fértil para produzir. Conhecia a terra por se dedicar a ela plenamente, cultivando-a com capricho, paciência, dedicação ininterrupta e devoção. A boa prosa que tanto apreciava e dela fazia parte de modo peculiar, continha grandes ensinamentos. Tinha um ânimo que sempre se mantinha altaneiro, mesmo diante de muitas adversidades climáticas ou outros fatores que inviabilizassem uma colheita. Sabia recomeçar com renovada esperança, sempre atento para envolver a terra para que ela tivesse condições de produzir mais e melhor. Deu a seus filhos inúmeros exemplos de humanidade, fé e decência, os cultivou, assim como os amigos, sempre com atenção e camaradagem. Dia 21 aos 90 anos.

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