
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
ITAMARATI - CARAUARI (2ª PARTE)
Hiram Reis e Silva, Itamarati, Amazonas, 06 de
fevereiro de 2013.
Continuamos encontrando dificuldades no acesso à
internet. Adquirimos em Rio Branco, AC, numa loja próxima ao Mercado Velho um
modem 3G que, segundo a atendente da VIVO, possibilitaria nosso acesso à
internet nas cidades da Bacia do Juruá. Propaganda enganosa, até hoje só
conseguimos comunicação sofrível em Cruzeiro do Sul e Itamarati.
Comunidade Morada Nova – Boca do Preguiça
(01.02.2013)
Novamente nos deparamos com uma Ilha formada nas
últimas décadas – a Ilha do Chué. A única diferença que existe na formação
desta Ilha e a de Marari, citada no artigo anterior, é que o canal agora era formado
por igapós. Curiosamente a posição da Ilha, as curvas do Juruá e do afluente
são muito semelhantes às do Marari.
Remamos freneticamente neste dia para conseguirmos
realizar nosso intento de alcançar Carauari em seis dias. Vale a pena relatar
um caso insólito que aconteceu em Rio Manso. Ao nos aproximarmos da Comunidade
as pessoas em fila indiana se dirigiram rapidamente para uma das casas e como
esta era muito pequena para acomodar tanta gente buscaram imediatamente uma
maior e fecharam apressadamente portas e janelas. Perguntei a uma senhora que
perdera a estranha “procissão” se ela podia me dizer o nome do povoado e
ela, visivelmente apavorada, disse que não sabia de nada. Depois de algum tempo
um homem entreabriu uma das janelas do refúgio. Informei-lhe sobre nossa
missão, que não éramos celerados e que aquela multidão não precisava ter medo
de dois inofensivos canoístas.
Rio Manso parece ter sido um presságio que não
identificamos na oportunidade. Depois de remar mais dez quilômetros, chegamos
exaustos à Imperatriz por volta das quinze horas, após navegar durante nove
horas, sem aportar, foram mais de 105 km sob sol causticante, banzeiros e
ventos fortes. O Mário já fizera os devidos contatos e estava desembarcando o
material na frente da escolinha da grande povoação que possui Igreja, Centro de
Recreação, enfim diversos locais onde exaustos peregrinos poderiam encontrar
abrigo.
Puxamos nossos caiaques para a margem, retiramos a
água do convés, e estávamos carregando também nossas tralhas para a escolinha
quando surgiu um elemento, não sei de onde, dizendo que a chave da escolinha
estava com a líder do povoado e que a mesma se encontrava em Carauari. O
impressionante disso tudo é que ninguém interviu oferecendo uma varanda, um
telheiro, enfim um abrigo. A sugestão “surreal” e absurda dos “hospitaleiros”
ribeirinhos é que deveríamos procurar abrigo em Nova Esperança uma Comunidade
que fica a quase quarenta quilômetros de distância e que jamais teríamos
condições de alcançar naquele dia remando.
Observem os leitores que em nenhuma oportunidade me
referi à Imperatriz como COMUNIDADE, ela absolutamente não merece este título.
A primeira lição que recebi de COMUNIDADE foi de uma índia Kokama da Comunidade
Prosperidade quando lá aportei em dezembro de 2008 pedindo abrigo. Ela veio até
nós e nos ajudou a carregar nossas tralhas para a escolinha e quando foi
interpelada, por um jovem e arrogante nativo, porque estava nos ajudando ela
lhe respondeu altiva – porque isto aqui é uma COMUNIDADE!
A falta de hospitalidade de Imperatriz ficará, para
sempre marcada em nossas memórias. Que saudades tenho dos pescadores da minha
Laguna dos Patos que, numa emergência, nos abrigaram, vestiram e alimentaram.
Saudades da Dona Anésia lá da Santa Isabel do Rio Negro que mesmo acompanhada
de apenas duas filhas e dois netos numa ilha remota não deixou de alimentar e
abrigar o canoísta que se perdera da equipe de apoio. Aqui mesmo no Juruá
quantas vezes fomos abrigados e convidados a partilhar do jantar na casa de
ribeirinhos, não esquecerei jamais do professor Raimundo Nonato Andriola, da
Comunidade da Boca da Campina que comemorou meu aniversário na sua casa com
direito a bolo e refrigerantes. Muito tem de aprender os ribeirinhos de
Imperatriz com seus vizinhos, perfeitos comunitários.
O desastre só não foi total porque encontramos a
sete quilômetros de distância de Imperatriz a Comunidade da Boca do Preguiça.
Nesta época de alagação na Bacia do Juruá não existem praticamente locais de
terra firme para acampar e os que existem estão cobertos de mata. Depois de uma
longa curva à esquerda, uma esperança, avistamos ao longe o Mário conversando
com uma moradora, até que, de repente, o Mário acelerou o motor e achamos que
mais uma vez tínhamos sido enxotados. Felizmente ele estacionou a lancha na
frente de outra casa e nos sinalizou, de longe, com o polegar para cima. A
nossa barraca seria montada na varanda da humilde habitação do hospitaleiro Sr.
Antônio Geraldo Brito dos Santos e o Marçal dormiria na sala-cozinha da casa. Tomei
meu banho, coloquei meu abrigo e meias para não ser torturado pelos piuns,
coloquei um filmete de nossas jornadas para as crianças verem no computador
enquanto conversava com nosso anfitrião. O contraste era nítido entre
Imperatriz e a Comunidade da Boca do Preguiça, uma com boas e numerosas
construções, escola, templo, casa de recreação e a outra com apenas quatro
famílias vivendo na penúria, mas solidários e dispostos a dividir o pouco que
tem. Obrigado Sr. Antônio Geraldo por nos acolher, não encontraríamos outro
abrigo até chegar à distante Nova Esperança.
Comunidade Boca do Preguiça – Goiabal (02.02.2013)

Chegamos à Comunidade Goiabal por volta das duas da
tarde. Localizada a pouco mais de um quilometro do Arrombado do Idílio. O Mário
aguardou nossa chegada para confirmar a parada já que a próxima Comunidade
ficava muito longe. Decidimos permanecer em Goiabal já que a próxima etapa até
Carauari era inferior a sessenta quilômetros. O Sr. Ataíde Soares dos Santos e
o líder da Comunidade Sr. Mário Castro dos Santos ajudaram-nos a carregar as
tralhas e nos instalaram na Casa de Recreação. A esposa do Líder comunitário,
Srª Antonia Rosa Pires dos Santos permitiu que o Marçal preparasse a refeição
na sua cozinha. Tomei meu banho, almocei e permaneci na barraca lançando os
dados no computador e tratando da perna que vinha me incomodando há dois dias.
Comunidade Goiabal – Carauari (01.02.2013)
Partimos por volta das sete horas já que a jornada
era bem mais curta neste último dia. Passamos pelo Arrombado do Euré que
certamente em menos de uma década deverá alterar novamente o seu curso. Ele
deverá romper o bloqueio em um pequeno estreito (05º04’04,8”/66º52’39,2”)
diminuindo ainda mais a distância até Carauri. Chegamos depois do meio-dia ao
canal que já foi um dia o leito principal do Juruá e avançamos lentamente até a
bela cidade. Sem o auxílio da correnteza do Rio nossa velocidade que antes
girava em torno dos 13 km/hora passou para 7,7 km/h.
Novamente fomos socorridos pelos amigos da Polícia
Militar liderados pelo 1º Tenente Alain que providenciou para que ficássemos
instalados no confortável Hotel Medeiros e realizássemos as refeições no
Restaurante Bom Gosto. O acesso a internet, por sua vez, só foi possível graças
à boa vontade da Fernanda Camilo Ferreira, Agente de Pesquisas e Mapeamento do
IBGE.
Investimento em Soberania
Mais uma vez apelamos a nossos investidores para
que continuem colaborando, cada um dentro de suas posses, para que possamos
cumprir a meta de chegar a Manaus. Aqueles que ainda não conhecem nosso projeto
peço que visitem o Blog: http://www.desafiandooriomar.blogspot.com
Conta Bancária de Hiram Reis e Silva
Banco do Brasil (001) - Agência: 4848 - 8
Conta Corrente: 117 889 - X
CPF: 415 408 917-04
Endereço: Rua Dona Eugênia, 1227
CEP 90630-150 - Porto Alegre - RS
Telefone: (51) 9234 2378
E-mail: hiramrs@terra.com.br
Livro do Autor
O livro “Desafiando o Rio-Mar – Descendo o
Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS
– PUCRS e na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br). Para visualizar,
parcialmente, o livro acesse o link:
Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Membro
da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS); Membro
do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional.
E-mail: hiramrs@terra.com.br
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