sábado, 2 de fevereiro de 2013

STAN LEE, SUPER HERÓI DA IMAGINAÇÃO

Não é fácil chegar aos 90 anos de idade, ainda mais com a jovialidade e lucidez de um garoto de vinte e poucos anos.
E talvez seja essa a fórmula que Stan Lee utilizou durante a sua vida inteira, para alcançar essa idade, com invejável forma física e mente a mil por hora.
Nascido Stanley Martin Lieber no dia 22 de dezembro de 1922, em Nova York, filho de judeus romenos e buscando um lugar ao sol na terra das oportunidades, teve uma infância dura.
Vivendo em cubículos, tinha que dividir o espaço exíguo com sua família, inevitavelmente.
Desde pequeno, demonstrou uma imaginação fértil e gostava muito de escrever. Esboçando seus primeiros contos infantis, foi desenvolvendo sua escrita e à medida que crescia, alimentava o sonho de se tornar um escritor.
Seu objetivo era escrever um romance épico que o tornasse imortal na literatura norte-americana.
Mas a dura vida familiar, obrigou-o a ajudar seu pai, um pequeno alfaiate e dessa forma, emendou uma série de pequenos empregos, até encaixar-se numa redação de jornal. Todavia, ainda estava longe de engatar uma carreira no jornalismo e lhe deram o trabalho de compilar o obituário, apenas.
Sua sorte começou a mudar quando conheceu o editor de uma pequena editora de revistas de histórias em quadrinhos, denominada "Timely Comics".
Aos 17 anos de idade, assinou pela primeira vez com o apelido "Stan Lee", deliberadamente tentando disfarçar-se, pois não queria seu nome vinculado a uma revista de HQ, pois achava que macularia sua trajetória para tornar-se um grande escritor no futuro. 
Que ironia...sua fama viria exatamente através dos quadrinhos...
Nessa primeira participação, Stan Lee assinou uma estória do Capitão América, como apoiador tão somente, do roteirista titular.
E daí em diante, a pequena editora passou a crescer vertiginosamente, até tornar-se a maior rival da então maior editora do mercado, a "DC Comics", que tinha no seu cast, personagens extremamente populares como Superman, Batman, Aquaman e Mulher Maravilha, entre outros.
A pequena "Timely Comics" agigantou-se e virou a "Marvel Comics".
Um dos grandes trunfos que fez a Marvel crescer, foi pela influência direta de Stan Lee.
Ao contrário dos super-heróis da "DC Comics", os heróis da Marvel passaram a adotar um comportamento psico-sociológico que muito os aproximou da realidade da vida.
Sendo assim, o padrão do super herói invencível, que tinha em seu âmago a questão do "New Deal" fortemente alicerçada como padrão subliminar nos anos trinta (durante a Era da grande depressão), ganhou um importante contraponto por parte da Marvel.
O contra-ataque teve como estratégia, a humanização dos super-heróis.
Eles tinham sim, seus super poderes e seu propósito heroico de usá-los em prol da sociedade contra forças ameaçadoras de interesses escusos (aliás, nem todos tinham isso como ideal de vida), contudo, cada super-herói tinha o seu lado humano também, com fraquezas, dúvidas, problemas, angústias e até dissabores prosaicos, tal como a falta de dinheiro e as desilusões amorosas em suas vidas pessoais.
Essa perspectiva encantou o público consumidor de HQ, trazendo uma identificação imediata com o cidadão comum e suas agruras do cotidiano. Lidando principalmente com adolescentes, de pronto essa identificação com seu próprio universo, foi arrebatadora.
A ideia de um super herói capaz de proezas incríveis para salvar pessoas de perigos inimagináveis, mas que tinha a angústia de não ter coragem de se declarar para a menina que gostava, sentindo-se inferior, foi uma grande sacada. E não é a grande angústia do rapaz tímido, Peter Parker, o Homem -Aranha?
E claro, a cada novo personagem concebido mais nuance da personalidade humana eram explorados, tornando-os ricos em arquétipos psicanalíticos. 
São inúmeros os exemplos...
Pensemos por exemplo num grupo de quatro cientistas que durante uma viagem espacial são submetidos a uma espécie de radiação e desenvolvem daí, super poderes. 
Muito bem, agora eles têm essa faculdade excepcional a seu favor, mas continuam sendo as mesmas pessoas, todavia, com os problemas e características que tinham "antes" do acidente.
O cientista mais velho era apaixonado pela moça e seu cunhado é um adolescente irrequieto e altivo. O outro cientista do grupo, transforma-se num homem com um corpo indestrutível, de formação rochosa e ao mesmo tempo em que adquire essa super força, passa a ser discriminado, porque se tornou horrendo e adquire uma fobia social, só saindo disfarçado pelas ruas. Um quinto elemento desse grupo torna-se um inimigo mortal do grupo e alimenta a fantasia de ser um monarca de um reino medieval remoto, encravado em algum lugar da Europa...
Não é fantástica a história do Quarteto Fantástico?
E não há como se julgar a postura de um ser intergaláctico acuado e sem alternativas. Se não auxiliar "Galactus", simplesmente ele devora o seu planeta, extinguindo a vida de todos, incluso seus familiares...o que poderia fazer o Surfista Prateado, a não ser subjugar-se à condição de acólito dessa entidade terrível ?
No caso do Surfista Prateado, fica a metáfora do militarismo desenfreado dos americanos, sempre dispondo dos filhos de todas as famílias.
E o Deus nórdico que vítima de intrigas palacianas em Asgard, o seu reino celestial, é punido severamente pelo seu pai, o Deus Odin, supremo monarca do panteão, a viver como um humano no planetinha Terra ?
Toda a sua altivez como divindade, de nada vale por aqui e a dura adaptação a essa realidade, move Thor, o Deus do Trovão.
E o que dizer do milionário industrial e cientista que constrói uma poderosa armadura de ferro, mas é um homem de delicada condição cardíaca ? Essa dualidade entre o super poder dentro da armadura e a fragilidade de um homem de coração debilitado é um exemplo dessa exposição das contrariedades humanas.
Á boca pequena, fala-se que o cientista milionário, Tony Stark, identidade secreta do Homem de Ferro, foi inspirado diretamente em Howard Hughes. Faz sentido...
No caso de Namor, o Príncipe Submarino, a angústia é estar dividido por ser híbrido, meio humano (por parte de pai) e "atlante" (pela mãe). Uma clara alusão aos casamentos inter-raciais proibidos em muitos estados norte-americanos.
Inspirado claramente na história de Dr Jekyll/Mr. Hyde , outro exemplo de ambiguidade é o personagem Hulk. O frágil e tímido cientista Bruce Banner, que se transforma uma criatura irascível quando dispara a raiva dentro de si, por conta dos raios gama que acidentalmente o atingiram numa experiência laboratorial, praticamente demonstra a vontade interna de cada menino frágil e vítima de bullying na escola, em reverter o quadro de seu infortúnio. Como não se identificar e ter vontade de virar o Hulk, muitas vezes na vida, e assim impor o respeito? 
No caso do universo dos X-Men, eu ficaria até amanhã escrevendo sobre cada personagem, com suas respectivas características, retratando a humanidade. No resumo, fica a mensagem da segregação, do preconceito e da intolerância. Como não pensar nisso, diante da história e uma escola de crianças e adolescentes com super poderes e incompreendidos pela sociedade e até por seus familiares, que são tratados como verdadeiros "párias"? 
Está clara aí a alusão à exclusão das minorias, e reforça-se esse conceito na medida em que os personagens de X-Men surgiram quando a questão dos direitos civis na América pegava fogo, com manifestações e reações raivosas dos preconceituosos no poder.
E assim, Stan Lee não parou quieto dentro da Marvel, exercendo diversas funções, tal como Maurício de Souza as exerce dentro de sua companhia.
Computa-se cerca de 320 personagens criados por ele, entre super-heróis, super vilões e personagens secundários de apoio.
Há quem não o reverencie também. Jack Kirby, um de seus mais célebres colegas na Marvel chegou a criar um super herói para satirizá-lo. Dizia que o personagem era um "safado exibicionista e sempre disposto a enrolar as pessoas"...
Com o advento da TV, Stan Lee também usou bastante o veículo e seguindo os passos de Alfred Hitchcock, diverte-se em participar de todos os filmes dos heróis Marvel, fazendo pontas inusitadas, sempre virando objeto de conversas entre os fãs.
Já fez locuções; participações em filmes não necessariamente de seus heróis, mas reverenciando-os como o grande nome da HQ; apresentou um reality show absurdo na TV (e engraçado), onde a proposta era a de inventarem novos e insólitos super-heróis etc. 
Sempre bem humorado e revelando uma vitalidade incrível, é adorado por músicos, artistas ligados ao cinema e diversas personalidades no mundo inteiro.
Stan Lee não está mais na Marvel diretamente e faz tempo, enveredou pela internet, criando seu próprio portal, com a empresa Stan Lee Media.
Claro que sou fã do universo Marvel desde criança e do "velhinho" Stan Lee, uma tremenda influência para mim.
Li recentemente um jornalista dizer que Stan Lee está para os quadrinhos, o que os Rolling Stones estão para o Rock atual.
Ninguém espera mais nada revolucionário de ambos, mas por onde passam, os holofotes acendem e todo muito gosta de ver e reverenciar. É por aí...
E que eu consiga ter a sorte de chegar aos 90 anos de idade, com essa vitalidade...
Como sou Marvel de carteirinha, acho que tenho chance, pois não corto essa relação com a energia da infância e acredito que isso é um meio de não envelhecer...
Concordam?

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