Nelson B. Prado - Especial para "O DIA"
As leis sociológicas, que regem a todos os grupamentos humanos repetem‑se sempre, porque, sendo leis naturais, imutáveis, não ficam ao sabor das vontades individuais quaisquer. O homem pode, quando muito, prejudicar a velocidade da verificação dessas leis; os fenômenos sociológicos, entretanto, processam‑se naturalmente. Daí a força e eterna verdade deste princípio: o homem se agita e a Humanidade o conduz.
A influência dos homens sobre os fenômenos sociológicos pode ser útil ou perniciosa, segundo o sentido prático de sua ação, ou melhor do seu sentido convergente. E isto se confirma no tempo e no espaço, mesmo que a dissolvência metafísica da transição revolucionária do Ocidente nos dê quase sempre a impressão de que existem sempre homens providenciais...
Estas considerações positivas servem bem para definir aquilo que chamamos a Evolução Social de Campo Mourão. Por certos antecedentes, pela fama que criou e pela propaganda negativa de numerosos elementos precipitados, Campo Mourão era tido no Paraná como a Meca dos criminosos, o paraíso de todos os maus elementos do Brasil; onde chegaram a dizer que era slogan Mata‑se; paga‑se pouco ou só pelo prazer de matar, livre e impunemente. Essa injusta propaganda ganhou curso e chegou a atemorizar muita gente que desejava vir para Campo Mourão ou que tinha parentes na região. Embora possamos ler nos jornais e ouvir pelo rádio as notícias de crimes horrorosos, todos os dias, em todas as cidades e Municípios do país e de outros países, Campo Mourão gozava o privilégio de ser tido como a Meca dos criminosos; o paraíso de todos os maus elementos do Brasil. Tamanha injustiça vem sendo desmanchada dia a dia, pela demonstração de que nem todos os maus elementos vieram ou vêm para cá. E se maus elementos aqui chegaram, poderiam ter se apresentado em quaisquer outras cidades onde melhor se sentissem homiziados. E se maus elementos aqui chegaram, também vieram os bons elementos, que estão construindo sozinhos a grandeza do Município e a sua felicidade pessoal. E com estes bons elementos tem vindo e está chegando, dia a dia, a evolução social de Campo Mourão. O registro policial é testemunho seguro desta afirmativa e qualquer estatística que se faça provará a mesma coisa.
Ainda agora, por ocasião das eleições municipais de Peabiru, corriam os mais desencontrados comentários sobre a possibilidade de surgir fogo em certos lugares do novo Município, recém desmembrado de Campo Mourão e, portanto, levando a fama do pai... Veio o pleito, fez‑se a votação, realizaram‑se as apurações e não se soube, até agora, de qualquer conflito ou ato criminoso.
Território que está sendo povoado por elementos provindos de todos os pontos do país e muitos do estrangeiro, mostra uma crescente disciplina e ordem social, para desmentir a fama injusta. Os bandidos que acaso ainda não estão recolhidos ao xadrez, já estão identificados perfeitamente, como todo mundo sabe, e só não foram segregados do convívio social por certas deficiências que não devem ser comentadas aqui...
Sem o apoio decisivo que as administrações deveriam trazer a comuna próspera e rendosa aos cofres públicos, sente‑se, com o progresso material da região o seu desenvolvimento social inevitável. Mesmo sob a agitação e efervescência da política partidária, terreno tão propício a conflitos, Campo Mourão entregou, com serena tolerância..., a maior parte do seu território e assistiu tranqüilo a eleição do primeiro Prefeito de Peabiru. Nem um tiro, nem uma facada, nem uma bordoada, tudo para negar a fama injusta. Acreditamos na evolução social de Campo Mourão, como cremos, sinceramente, na continuidade de seu progresso em todos os sentidos, mesmo que não queiram assim as inércias conhecidas que nos cercam...
N.A. ‑ artigo publicado pelo jornal O Dia da Capital do Estado, em novembro de 1952, onde o autor, Dr. Nelson Bittencourt Prado, incansável batalhador pela divulgação da cidade que escolhera para fixar residência, narra a conjuntura social do Município no difícil primórdio, assolada por aventureiros perniciosos, denegrindo a imagem da novel cidade que despontava no cenário paranaense...
Um comentário:
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