quarta-feira, 22 de julho de 2009

O DEUS DE KAKÁ


Caroline Celico, a mulher de Kaká, vai ser dona de igreja

Existe um deus desocupado que, por não ter coisa melhor a fazer, decidiu ser torcedor do Real Madri. Um deus irresponsável que, no meio de uma crise financeira internacional devastadora, fez aparecer, por milagre, uma fortuna no cofre do seu clube para contratar um jogador de futebol de sua preferência. Não satisfeito, e vaidoso de sua divindade, mandou a mulher do jogador abrir uma igreja na Espanha para louvar os seus feitos em favor dos ricos e descolados deste e do outro mundo.
Pelo menos é isto o que nos deixa imaginando o depoimento de Caroline Celico, mulher do jogador Kaká, recentemente contratado pelo time espanhol. Para Caroline, o milagre é evidente: “Como pode alguém no meio da crise ter dinheiro? Deus colocou esse dinheiro na mão do Real Madri para contratar o Kaká. Nós vamos abrir uma igreja lá. Existem vidas que têm que ouvir essa palavra”.
A igreja em pauta é a Renascer em Cristo, propriedade da bispa Sônia e de seu marido Estevam, aqueles mesmos que foram em cana e estão proibidos de sair dos Estados Unidos por tentarem entrar lá com um punhado de dólares não declarados. Devem ter achado sacrilégio declarar um presente tão singelo do deus lá deles.
Eu já devia não me espantar mais com essas picaretagens que, aliás, não são privilégio de nenhuma dessas seitas em particular. Quem se der ao trabalho de assistir ao vídeo vai constatar facilmente que a mocinha não acredita em uma vírgula do que está falando. O que me espanta mesmo é que exista gente crédula o suficiente para se deixar encantar por um discurso ôco de qualquer sustância, seja divina ou profana.

Não é que eu queira tirar o direito de Kaká e sua doce Carolina acreditarem em um deus particular que os protege e enriquece. O que me incomoda é qualquer desses descolados usar o seu brilho pessoal para nos convencer que são os escolhidos dos deuses. E que nós, que ralamos ao rés do chão, só ascenderemos aos ouros celestes se abrirmos mão de uma parte significativa do fruto do nosso suor para abastecer a conta bancária dos arautos dessa divindade boçal e alienada do sofrimento dos povos.

(*) Ronaldo Monte, (in Contra o Vento) poeta e escritor, psicanalista e professor.

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