Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 06 de junho de 2011.
O Canto do Guerreiro
(Gonçalves Dias)
Aqui na floresta/Dos ventos batida,
Façanhas de bravos/Não geram escravos,
Que estimem a vida/Sem guerra e lidar.
- Ouvi-me, Guerreiros./- Ouvi meu cantar.
Valente na guerra/Quem há, como eu sou?
Quem vibra o tacape/Com mais valentia?
Quem golpes daria/Fatais, como eu dou?
— Guerreiros, ouvi-me;/— Quem há como eu sou?
Quem guia nos ares/A frecha implumada,
Ferindo uma presa,/Com tanta certeza,
Na altura arrojada/Onde eu a mandar?
— Guerreiros, ouvi-me,/— Ouvi meu cantar.
Quem tantos imigos/Em guerras preou?
Quem canta seus feitos/Com mais energia?
Quem golpes daria/Fatais, como eu dou?
- Guerreiros, ouvi-me:/- Quem há, como eu sou? (...)
Prosseguimos na nossa homenagem aos bravos que ostentam, com muito orgulho, o brevê da onça.
- Armas e Equipamentos
Fonte: Alexandre Fontoura - Revista Segurança&Defesa - Forças de Elite - 05/04/2004.
Diversas armas, táticas e equipamentos vêm sendo exaustivamente testados, modificados, aperfeiçoados ou recusados pelo EB nos últimos anos, com vistas ao seu emprego na guerra de selva. A constatação de que equipamentos receptores GPS não funcionam corretamente sob a densa cobertura vegetal da floresta, por exemplo, fez com que o Exército restringisse seu uso somente à instrução e a casos nos quais a determinação de coordenadas precisas é imprescindível, como numa evacuação aeromédica. Forças excessivamente dependentes de recursos tecnológicos como o GPS poderiam ficar em sérios apuros na Amazônia. No que se refere ao armamento individual do guerreiro de selva, o EB tem, ao mesmo tempo, o problema e a solução. Fuzis de assalto de diversos tipos foram e são avaliados, incluindo armas de alta qualidade, como o fuzil alemão Heckler & Koch HK33 e o Norte-americano M16A2, ambos no calibre 5,56mm, e o tradicional FAL do Exército Brasileiro, no calibre 7,62mm.
O fuzil padrão das tropas de selva brasileiras é o Para-FAL, a versão com coronha rebatível, usada também pelas tropas Para-quedistas brasileiras e outras unidades. O Para-FAL tem se mostrado a arma ideal para emprego na selva por suas características de peso, rusticidade e simplicidade de manuseio. Por outro lado, sua substituição no futuro será, certamente, um sério problema para o Exército. O calibre 5,56mm, usado na maior parte dos modernos fuzis de assalto, é considerado inadequado para o combate de selva, devido ao pequeno peso do projétil e à sua tendência de assumir uma trajetória instável ao colidir com pequenos obstáculos, como folhas e galhos de árvores. (...)
O respeito que o Para-FAL conquistou entre os combatentes de selva justifica-se, por exemplo, pelo resultado de um teste realizado numa das bases de instrução do CIGS, quando um exemplar de cada do HK33, do M16A2 e do Para-FAL foram comparados, com o objetivo de determinar sua resistência às condições da floresta. Numa manhã, cada uma das armas recebeu limpeza e a necessária manutenção, de acordo com as recomendações do fabricante, foi municiada e colocada sobre cavaletes de madeira, e exposta ao Sol e à chuva durante todo o dia e a noite seguinte. Pela manhã do outro dia, um oficial retirou o HK33 do cavalete e tentou disparar uma rajada contra um alvo: a arma travou várias vezes. Ao repetir a experiência com o M16A2, verificou-se que este não disparou um só tiro, pois estava grimpado. Finalmente, o oficial dirigiu-se ao Para-FAL, conhecido como “pit-bull” entre a tropa e, surpreendentemente, não somente conseguiu descarregar todo o pente no alvo, como ainda remuniciou a arma e repetiu a dose. (...)
Mas as armas disponíveis para o uso na selva não se resumem ao fuzil, à faca de combate e ao inseparável facão de mato. Armas incomuns, como bestas e até mesmo a tradicional zarabatana dos indígenas da região, podem fazer parte do arsenal do guerreiro de selva. Os modelos de bestas usados têm grande precisão e poder de penetração, podendo atravessar um corpo humano a quase 100 metros de distância. Silenciosa e mortal, a besta é considerada uma arma excelente para eliminar sentinelas. O mesmo se aplica à zarabatana, principalmente associada a dardos com venenos cujo preparo é um segredo bem guardado pelo EB e pelos soldados indígenas que, em número cada vez maior, engrossam as fileiras dos Batalhões de Selva na Amazônia, com excelente avaliação por parte de seus Comandantes.
Besta ou balestra: arma composta de um arco acoplado a uma coronha, acionada por gatilho, que atira dardos similares a flechas. Muito usada no século XVI. A palavra besta teria sido sincopada do italiano balestra, que por sua vez deriva do latim tardio ballistra.
Zarabatana: arma que consiste de um longo tubo, pelo qual são sopradas pequenas setas. As setas têm suas pontas embebidas em curare ou outras seivas venenosas.
(...) Num conflito na Amazônia, as forças de selva do EB agiriam em pequenas frações, mas capazes de infligir pesadas perdas ao adversário, fazendo uso do seu conhecimento da floresta para desaparecer sem deixar vestígios. Dentro deste espírito, uma tática que voltou a ter força dentro do EB nos últimos anos foi o emprego de equipes de atiradores de elite (snipers), denominados “caçadores” no Exército. Uma equipe de caçadores é formada por dois sargentos, sendo um o atirador (o sniper, propriamente) e o outro o observador (spotter). A arma já testada e aprovada para o uso por essas equipes é o fuzil Imbel Fz 308 AGLC, de projeto e fabricação nacionais.
O AGLC é uma arma de precisão baseada na ação Mauser, de reconhecida e inegável confiabilidade e segurança. Com um cano flutuante, tipo “match”, forjado a frio e adaptado para o tiro com luneta, e usando munição 7,62x51mm, a arma saiu-se muito bem quando comparada a diversos tipos de fuzis de precisão de fabricação estrangeira. O tipo de camuflagem (ghillie suit) usado pelas equipes de caçadores também já teve sua eficiência determinada pelo trabalho do CIGS.
Sniper: um atirador de elite é um soldado altamente treinado que se especializa em atirar em alvos com rifles modificados de distâncias incrivelmente grandes. São também peritos em ações furtivas, camuflagem, infiltração e técnicas de observação. Atiradores de elite são o que os estrategistas militares se referem como multiplicadores de força. Colocado de uma forma simples, um multiplicador de força é um indivíduo ou uma pequena equipe que, através do uso de táticas especiais, pode causar danos a uma força muito maior. O que é impressionante sobre esses atiradores é que eles são capazes de multiplicar a força sem jamais terem que enfrentar diretamente o inimigo. Por causa da natureza de suas missões, atiradores de elite deslocam-se com muito pouco equipamento, movendo-se pacientemente sob a cobertura do mato ou da noite. Mas eles nunca andam sozinhos. Equipes de atiradores de elite frequentemente têm que ficar imóveis por horas ou dias seguidos para evitarem ser detectadas, esperando pelo momento certo de disparar o tiro. (Fonte: Robert Valdes)
AGLC: o Fuzil 308 AGLC é uma arma de precisão elaborada a partir dos componentes básicos dos fuzis e mosquetões Mauser (Mauser Action), de reconhecida confiabilidade e segurança. Este produto foi adaptado para o tiro com luneta e desenvolvido com o cano pesado flutuante, tipo “match” no calibre 7,62x51mm e forjado a frio para atender às necessidades dos que desejam uma arma com extrema precisão e, ao mesmo tempo, robusta e confiável. O Nome AGLC é uma homenagem ao grande armeiro e instrutor de “snipers”, que desenvolveu o fuzil - Coronel de Infantaria Athos Gabriel Lacerda de Carvalho, meu Comandante de pelotão na AMAN. A arma possui capacidade para 5 Cartuchos, tem 1,20m de comprimento e pesa 4,70kg.
Ghillie suit: se você já viu um atirador de elite nos noticiários ou num filme, então você provavelmente reparou naquela aparência perturbadora, meio homem, meio mato. Isso é graças a um traje ghillie. A finalidade do traje ghillie é fazer o atirador desaparecer no ambiente. A palavra ghillie é uma antiga palavra escocesa para um tipo especial de guarda caça. Os “ghillies” tinham a tarefa de proteger os animais de caça nas terras de seus Lordes. De tempos em tempos, os “ghillies” tocaiavam os animais escondendo-se no mato ou permanecendo completamente imóveis. Eles esperavam por gamos descuidados se aproximarem lentamente e então saltavam e os agarravam com as próprias mãos. Os “ghillies” levavam então seu prêmio de volta ao castelo para que o Lorde pudesse abatê-lo numa “imitação de caça”. Trajes “ghillies” são basicamente velhos uniformes militares que os atiradores modificam para sua função especial. A barriga do uniforme é reforçada com lona pesada para ajudar a acolchoar o tronco do atirador durante horas ou dias deitado sobre seu estômago. Rede de camuflagem é acrescentada ao uniforme.
Essa rede é usada para prender tiras de pano velho ou outros materiais desgastados. Trajes “ghillies” são geralmente pintados para se confundirem com o meio ambiente do campo de batalha. Elementos locais como ramos e galhos podem ser acrescentados para complementar a camuflagem do traje “ghillie”. Nada na natureza tem linhas perfeitamente retas, assim equipamento como rifles e antenas frequentemente revelam posições escondidas. Para compensar isso, os atiradores de elite fazem também pequenos trajes “ghillies” para seus rifles.
Usando os mesmos princípios de camuflagem, atiradores envolvem seus rifles com lona e com pequenas mangas que os fazem misturar-se com o ambiente. Soldados são treinados para manterem os olhos atentos para coisas estranhas ao seu redor que podem representar uma ameaça. A forma humana é uma das mais reconhecíveis na natureza. Atiradores e observadores treinados sempre procuram por cores e contornos quando tentam localizar um inimigo no mato ou outro terreno. Trajes “ghillies” ajudam o atirador a dissimular sua silhueta, esconder linhas retas no seu equipamento e dissimular sua cor no ambiente. “Com um bom traje ghillie”, explica o Atirador, “você pode se esconder num canteiro e ninguém seria capaz de vê-lo”. (Fonte: Robert Valdes)
Outra arma testada e adotada para uso por tropas de selva é a tradicional escopeta calibre 12, empregada pelos esclarecedores dos grupos de combate. Como o esclarecedor é o elemento que vai à frente da formação, precisa de uma arma com o máximo de poder de fogo, para a possibilidade de um encontro com uma patrulha inimiga. Outras armas que tiveram seu uso aprovado para guerra na selva graças aos estudos realizados pelo CIGS foram o lança-granadas de 40 mm e o lança-chamas.
Escopeta (espingardas): arma longa de caça, de cano não raiado. Utiliza, em geral, munições carregadas com múltiplos balins esféricos de chumbo. O poder de detenção de um disparo a curta distância é grande. O mesmo tiro pode atingir mais de um alvo ao mesmo tempo, se estes estiverem próximos um do outro, dois a uns 15m e a 3 até 35m. A dispersão dos balins, e a rápida perda de velocidade, fazem com que perca a eficácia a partir dos 50m.
Mas o trabalho desenvolvido pelo CIGS em busca de meios que possam fazer valer a chamada “estratégia de resistência” foi ao ponto de testar e aprovar o emprego da tradicional e popular carabina Puma, modelo Winchester, de ação por alavanca, fabricada pela empresa Amadeo Rossi, enquanto a Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) fabrica sua munição, calibre 38. A idéia por trás disso era encontrar uma arma que fosse de fácil manuseio, relativamente precisa e barata, que pudesse ser distribuída para reservistas e mesmo entre a população civil, no evento de uma intervenção militar estrangeira na Amazônia, e cuja munição fosse facilmente encontrada no comércio. Nos testes realizados pelo CIGS, ficou demonstrado que a carabina Puma pode ser precisa em distâncias superiores a 100 metros. Bons atiradores conseguem tiros precisos a quase 200 metros. E, na opinião dos oficiais instrutores do CIGS, 100 metros pode ser a largura de uma margem a outra de um Rio, separando o atirador com a Puma de uma fração de tropa inimiga.
- Cachês
Uma tática desenvolvida pelo CIGS e já disseminada entre as tropas de guerra na selva é o emprego de “cachês”, como meio de pré-posicionamento de armas, munição, medicamentos, rações e outros suprimentos fundamentais às frações de tropa. Os cachês são, basicamente, depósitos de suprimentos enterrados, com a finalidade de ressuprimento de tropas nacionais, que estejam operando em nosso território, em área sob intervenção de uma nação ou força multinacional incontestavelmente superior, em meios, à brasileira. Os cachês são enterrados em locais de difícil acesso e percepção pelo invasor, mas de fácil abordagem pela tropa interessada.
Os buracos são resistentes a intempéries, forrados por madeiras nas laterais e com drenagem no fundo, sendo usados para acondicionar containers de fibra de vidro com suprimento para pequenas frações (10 a 15 homens). A camuflagem dos “cachês” é tão eficiente que eles não são percebidos por animais ou nativos.
- O Projeto Búfalo
Baseado em publicações da Divisão de Doutrina e Pesquisa do CIGS e depoimento pessoal do Coronel Gélio Augusto Barbosa Fregapani.
O Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), desde a sua criação, procurava solucionar a questão do transporte de armas, munição, água, rações e equipamentos por frações de tropa empenhadas em operações na selva. A procura de um meio de transporte eficiente e de baixo custo baseou suas pesquisas na utilização de bicicletas e animais de carga que pudessem ser adestrados para esse fim.
A primeira tentativa realizada, durante o Comando do Coronel Gélio Augusto Barbosa Fregapani, pretendia utilizar uma anta treinada desde pequena para se adaptar às necessidades operacionais observadas pelas tropas na Amazônia. Foi adaptada uma cangalha especial fixada às costas do animal dentro da qual se colocavam pequenos pesos, mas o animal jamais se adaptou e corcoveava até se ver livre da carga, não se sujeitando ao adestramento. Reproduzo, abaixo, a mensagem, bastante ilustrativa, recebida pelo grande Mestre Fregapani.
Em 1981 fizemos a tentativa com a anta. Não era nascida em cativeiro, mas já estava acostumada no zoológico. Ainda que eu tivesse tido a idéia, a condução foi do nosso veterinário, o então Capitão Camoleze. A ele pertence à glória, se houver. O mais difícil foi fazê-la obedecer; não adiantou cachimbo nem freio e bridão. Somente foi resolvido com uma argola no nariz, onde se amarrava uma corrente até um bastão. A partir de então podíamos levá-la para onde quiséssemos. As cangalhas também não deram resultado; a anta batia nos troncos como se quisesse livrar-se de uma onça que a agarrava. O que deu resultado foi um peitoral onde se prendiam duas varas, que eram arrastadas e onde se poderia colocar um bom peso, como os cavalos de índio do faroeste. Ainda penso que a anta seria o ideal para transporte de suprimento e munição. Ela come qualquer coisa, inclusive as folhas espinhentas da palma negra. Além de poder ‘puxar’ até 50 Kg ainda dá um churrasco para uma companhia, em caso de necessidade. Lamento o abandono das experiências. Outros comandantes tiveram a gentileza de me informar sobre as experiências com muares e búfalos. Claro que os estimulo a prosseguir. Muares foram usados por Plácido de Castro. Isto significa que funciona, nas trilhas, é claro, e já eram usados nos seringais, o que significa que podiam ser obtidos no local. Quanto ao búfalo, é uma boa esperança. Tal como aos muares, ainda não tenho a experiência prática para ver como varariam a selva juntamente com uma pequena tropa. Desconfio que não seja fácil, mas só vendo. Numa trilha, tudo bem, mas na trilha talvez o muar seja até melhor. Penso também na praticidade para transporte aéreo e fluvial em pequenos barcos. O fato é que só experimentando e tentando que se avança, e por isto me orgulho do nosso CIGS.
Mesmo que sejamos os melhores do mundo na selva, descansando sobre os louros seremos ultrapassados. Avante, portanto. Selva! (Coronel Gélio Augusto Barbosa Fregapani)
Nos idos de 1983, foi desenvolvido um projeto utilizando-se muares. O animal foi conduzido para a Base de Instrução Número 1, localizada no quilômetro 55 da Rodovia AM 010. Depois de serem estabelecidas metas e um cronograma de trabalho, iniciou-se a fase prática. O primeiro teste avaliou o comportamento do muar sob uma carga de 60 quilos de suprimentos, montado sobre cangalhas confeccionadas com palha. O animal deveria realizar um deslocamento “através selva” de, aproximadamente, 2.000 metros. Ao chegar ao primeiro socavão, a cerca de 800 metros da base, onde existia um chavascal, o animal empacou e se negou a ir em frente. Como os muares apresentavam sérios problemas de natureza veterinária e limitações para vencerem obstáculos naturais bastante comuns na selva amazônica, o projeto foi abandonado pela inaptidão do animal para o ambiente de selva. Mais recentemente, no ano de 2000, a Divisão de Doutrina e Pesquisa desenvolveu outro projeto empregando a bicicleta para o transporte de carga. Esta idéia surgiu a partir do estudo de técnicas especiais utilizadas pelos vietcongs na guerra contra os USA, no final da década de 60 e início dos anos 70. As resistentes bicicletas de fabricação soviética eram viáveis no Vietnã, onde a fisiografia da selva possibilitava a abertura de trilhas e o largo emprego da mão de obra farta e barata. Devido ao grande esforço físico despendido pelo homem para empurrar a bicicleta, ela não foi aprovada como sendo uma opção para a logística no interior da selva.
Histórico do Projeto Búfalo
Com a continuidade dos estudos chegou-se finalmente ao búfalo, animal já adaptado com sucesso na Amazônia, rústico e com diversas características que foram ao encontro das necessidades militares para o emprego de animais. O chamado Projeto Búfalo nasceu em 2000, e tem demonstrado ser uma das soluções para as necessidades das tropas de selva brasileiras devido à resistência do animal, sua adaptação ao ambiente e, principalmente, à sua capacidade de transportar 400 kg ou mais de carga no lombo, ou até três vezes isso, quando tracionando carroças. A primeira e única informação a respeito do emprego do búfalo, que não fosse para o consumo humano, foi baseada em uma foto de um cartão postal. Neste cartão retratava-se a utilização do animal para fins de patrulhamento pela 5ª Companhia Independente da Polícia Militar (5ª CIPM) na cidade de Soure, na ilha do Marajó- PA. Foram realizados alguns contatos preliminares para tentar viabilizar a doação e o transporte de um animal de Soure para o CIGS. Devido ao alto custo e a falta de um contato mais aproximado, optou-se por tentar conseguir um animal nas proximidades de Manaus. Foi doado um casal de búfalos com 4 meses de idade, da raça Mediterrâneo. Os animais foram transportados de Itacoatiara para o CIGS no dia 12 de junho de 2000 e, imediatamente, enviados para a Vila do Puraquequara e, de lá, em embarcação boiadeira, até a Base de Instrução Número 4.
A Divisão de Doutrina e Pesquisa apresentou ao Comandante uma proposta de trabalho que permitiu dar os primeiros passos para o Projeto, único no mundo, empregando-se animais selvagens para o transporte de carga no interior da floresta. Desde o início, foi observado que todos os militares envolvidos deviam possuir algumas características que viessem a facilitar o andamento dos trabalhos, tais como: paciência - para enfrentar a teimosia que os animais apresentavam para realizar determinadas atividades; rusticidade - para encarar as dificuldades do terreno por onde os animais se deslocavam; vigor físico - para empurrar, puxar, carregar o material, as carroças, os bolsos carregados com material, nadar com os animais nos igarapés etc. Além dessas características, deve demonstrar desprendimento e iniciativa - para enfrentar as reações adversas apresentadas pelos animais que eram inusitadas e, muitas vezes, com relativo risco para a integridade física do homem, cabendo a eles decidirem qual a melhor forma de se atingir o objetivo proposto. Com relação ao efetivo a ser empregado no Projeto, pode-se concluir que é necessário um homem para cada animal, na fase de adestramento, ou seja, desde os primeiros passos com a condução na corda, trabalho nas trilhas, nos igarapés, na alimentação dentre outras inúmeras atividades.
Colete Tático Transportador
No início do Projeto, o objetivo primordial era domesticar os animais, passando para eles características que viessem a facilitar o cumprimento das metas estabelecidas na Proposta de Trabalho apresentada. Desde a fase inicial, foi buscado o desenvolvimento de um colete que pudesse acondicionar o material que iria ser carregado, ou seja, no primeiro momento era fundamental que o animal se acostumasse com algo sobre o seu lombo. Para tanto, foi desenvolvido um tipo de colete denominado pela equipe como “colete tático transportador”. Os coletes desenvolvidos permitiram que fossem administrados gradativos pesos sobre o lombo dos búfalos, acondicionados em bolsos de tamanhos variados – todos confeccionados em lona bastante resistente. Com o andamento dos trabalhos, houve a necessidade de aprimoramento destes materiais. A cada nova investida na selva, uma nova idéia surgia e era aplicada de imediato. Com o início dos trabalhos de tração, houve a necessidade de aquisição de carroças especificamente fabricadas para este fim. Procurando-se conhecer a viabilidade e a adequação dos animais para o transporte humano, foram adquiridas, da ilha de Soure -PA, duas celas especificamente fabricadas para este fim.
Conclusão
A experiência de emprego de tropa de carregadores, durante a Operação Mura, realizada pelo 1° BIS no ano de 2000, utilizando-se militares do 12° Batalhão de Suprimentos para compor esta fração, mostrou que o homem não suportou, como se esperava, as adversidades do terreno. Após 10 dias de deslocamento com um peso médio de 30 kg para ressuprir cachês em pontos locados dentro da área de combate, a tropa se encontrava estafada e sem condições de prosseguir na missão.
Aliado a este fato, cabe ressaltar que além de ter que carregar o material a ser ressuprido, o carregador tem que levar o seu material individual (ração, munição, material de higiene, roupa de muda, dentre outros). Assim, os 30 kg que serão ressupridos mais o material do homem, eleva-se para cerca de 41,5 kg. Verificou-se que a média de deslocamento de uma tropa a pé em terreno variado, que é de 1 km/h, ficou reduzida a 0,6 km/h, tendendo a diminuir, à medida que parte da tropa apresentava sintomas de estafa, impondo-se a necessidade de se dividir o peso entre aqueles homens que ainda permaneciam na missão de carregadores. O emprego tático do búfalo em operações na selva tem por objetivo tê-lo como um colaborador, um facilitador, enfim um meio alternativo para o transporte das mais variadas cargas possíveis. Dessa forma, sua colaboração está em retirar o peso do homem, economizando esforços por parte da tropa empregada no ressuprimento, possibilitando a manutenção e o aumento do poder de combate, alongando a permanência do homem em condições de combater por mais tempo e em melhores condições. Poderá estar enquadrado em fração de qualquer nível ou com uma equipe de ressuprimento sem restrições quanto ao horário de emprego, bem como no terreno a ser percorrido, tendo em vista que o animal tem boa visão à noite e já é adaptado à vida aquática. Quanto à alimentação, não há necessidade de grandes preocupações da tropa em querer ressupri-lo, pois ele come de tudo e possui a capacidade de sintetizar proteínas de vegetais inferiores, precisando de pouco complemento alimentar, o qual ele mesmo poderá transportar.
- Defendendo a Brasileira Amazônia
Para os militares do Exército Brasileiro concluir o Curso de Operações na Selva é, certamente, uma das maiores realizações profissionais da carreira. O Centro já brevetou quase 5.000 militares brasileiros e mais de 400 representantes dos principais países do mundo, desde a sua fundação, cumprindo, com rara competência, sua missão de adestrar e avaliar tropas da Força Terrestre na Amazônia e de realizar pesquisas e experimentações doutrinárias. Esses militares serão disseminadores da doutrina, apreendida no CIGS, nas suas futuras Organizações Militares.
Alguns privilegiados retornarão ao Centro, como instrutores, formando novas gerações de Guerreiros da Selva. Ao cruzarem, pela última vez, o portão da guarda do Centro ouvirão emocionados o tradicional grito de “Selva!”, doravante se sentirão à vontade na selva, abandonaram definitivamente a pele de caça que vestiam até então e a substituirão pelo couro do predador. São combatentes prontos a defender a Brasileira Amazônia.
– Blog e Livro
Os artigos relativos ao “Projeto–Aventura Desafiando o Rio–Mar”, Descendo o Solimões (2008/2009), Descendo o Rio Negro (2009/2010), Descendo o Amazonas I (2010/2011), e da “Travessia da Laguna dos Patos I (2011), estão reproduzidos, na íntegra, ricamente ilustrados, no Blog http://desafiandooriomar.blogspot.com.
O livro “Desafiando o Rio–Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br) e na Livraria Dinamic – Colégio Militar de Porto Alegre. Pode ainda ser adquirido através do e–mail: hiramrsilva@gmail.com.
Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:
http://books.google.com.br/books?id=6UV4DpCy_VYC&printsec=frontcover#v=onepage&q&f=false.
Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar (IDMM); Vice Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil - RS (AHIMTB); Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br
Blog: http://desafiandooriomar.blogspot.com
E–mail: hiramrs@terra.com.br
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