Molho a malha com o molho de milho enquanto malho a milha do milheiro. (Gudé).
Por José Eugênio Maciel
“Quem possui a faculdade de ver a beleza, não envelhece”.
Franz Kafka
Com apenas 41 anos ele morreu. Por iniciativa própria se internou em um sanatório em Kierling, Áustria, para ser tratado da tuberculose, tendo sido vitimado por uma infecção cardíaca. Nasceu no dia três de julho de 1883, vindo a falecer em outro dia três, junho de 1924.
Constatar que era muito novo levando em conta a idade de quatro décadas é pouco, sobretudo pela densa, rica e marcante obra que foi capaz de produzir em tão exíguo tempo. Aliás, seus livros, diversificados e bem acabados, geniais contos, trazem no bojo da escrita a intensidade da vida. Sabendo ou não, Franz deixou algo que é em parte mistério: ele pressentia que teria uma vida curta mesmo antes de saber dos problemas da falta de saúde que o acometia? O fato é que ler os textos é envolver-se com a profundidade das tramas, narrações sempre contendo esmerado suspense, expectativas múltiplas, desfechos primorosos que levam o leitor a refletir a vida e tudo que nos cerca a partir dos seus instigantes personagens.
Nascido em Praga, é considerado um dos mais importantes nomes da literatura alemã. Formado em Direito, conceitos como Justiça, Legitimidade, o devido processo legal e o poder Judiciário como instituição estatal engendram a obra dele, entre outras influências, além da nata inspiração, o pensar acadêmico, também o fato marcante quanto a duas irmãs dele terem sido remetidas para aos campos de concentração nazista.
É possível estabelecer uma grande diferença entre o que pode nos fazer pensar e o que nos ensina a pensar, Kafka nos faz alcançar os dois, o fazer e o pensar. Caminhar pelas sendas kafkaneanas é rumar pelos mistérios abertos, caminhos que se entrecruzam, é o encontrar-se com o ser que se revela invertidamente. Em Metamorfose (1915) um homem descobre que virou um inseto, a transmutação é mais do que física, é metafísica, é o homem partindo da racionalidade posta de lado e, como inseto, valendo-se do instinto animal, uma viagem na busca, da fuga. Em O Processo (1925), o personagem Josef K. é preso sem saber qual o motivo para ser processado e tenta sabê-lo com indagações que soavam como insultos aqueles que o julgavam e o mantinham num cárcere onde a questão do saber da ausência da liberdade parecia confusa, embora não o fosse à sua inteireza.
Sutil no escrever, simples quando preciso e na precisão simplesmente pondo-nos a refletir, como ao dizer: “Entre muitas outras coisas, tu eras para mim uma janela através da qual podia ver as ruas. Sozinho não o podia fazer”.
Imagens da Internet - fotoformatação (PVeiga).
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