domingo, 24 de julho de 2011

INTERROGAR É A QUESTÃO-CHAVE, SEM SEGREDOS

“Ninguém é insubstituível”, é o ditado, embora a falta que cada um faz seja única. (Gudé).

Por José Eugênio Maciel

“Aprende – lê nos olhos, lê nos olhos – aprende a ler jornais, aprende: a verdade pensa com tua cabeça. Faça perguntas sem medo, não te convenças sozinho mas veja com teus olhos. Se não descobriu por si na verdade não descobriu. Confere tudo ponto por ponto – afinal você faz parte de tudo, também vai no barco,“aí pagar o pato, vai pegar no leme um dia”. Aponte o dedo, pergunta que é isso? Como foi parar aí? Por quê? Você faz parte de tudo. Aprende, não perde nada das discussões, do silêncio. Esteja sempre aprendendo por nós e por você. Você não será ouvinte diante da discussão, não será cogumelo de sombras e bastidores, não será cenário para nossa ação!”

Bertold Brecht

É próprio das crianças a curiosidade, e todas elas a possuem para descortinar o mundo desde os primeiros momentos de vida. As crianças desejam avidamente ver e saber sobre tudo. É comum olharem tudo à volta e sempre disporem de muitas perguntas. Fantástico é observar que elas não aceitam qualquer resposta, não. Ainda que a mãe, pai, avós respondam condizentemente com a idade delas e que a criança tenha compreendido, se não ficar convencida passa a questionar. Uma clara e oportuna resposta dada a uma criança é comum levá-la a muitas outras perguntas.

“Mãe, como eu nasci?” A clássica indagação permeia o imaginário da criança, imaginário esse que constitui e impulsiona a curiosidade. Novamente a resposta a ser dada obedecerá a idade da criança. Se bem pequena, o mito será essencial: “A cegonha te trouxe”. Grosso modo, mito é alegoria, a representação da realidade. A capacidade da criança intrinsecamente se relaciona com o grau de capacidade e do conhecimento insipientes, ou seja, a informação científica, caso venha a ser dada e mesmo que didaticamente, implica num volume de conhecimento que a criança não poderá entender e dominar.

O segundo momento é quando aquela resposta, a da cegonha, não serve mais. Contudo, novamente é preciso respeitar os estágios de vida, a resposta científica ainda não será cabível, pois o amadurecimento carece de tempo e de condições para ocorrer. Assim, no lugar da cegonha “que trouxe o bebê mais lindo do mundo que eu e seu pai escolhemos que é você”, a mãe agora falará que da “semente que o papai plantou na mamãe e que permitiu nascer aquela criatura linda e repleta de perguntas inesgotáveis. É quando também os pais, ao tomarem banho juntos com os filhos, com a naturalidade podem e devem ensinar as diferenças sexuais entre meninas e meninos, anatomicamente e no âmbito das relações pessoais e inter-pessoais que levem em conta o papel e as posições sociais presentes e futuramente.

A curiosidade é fundamental para chegar ao conhecimento, apropriar-se dele, transformá-lo e, na sua aplicação, ampliar o saber e espraiar tudo aquilo que ele desvenda.

É lamentável, quando adultos, nós somos tolhidos pelo chamado preconceito da ignorância, temos receio, medo ou por acomodação, deixamos até mesmo de lado a possibilidade de buscar ou esperar que apareça alguém para explicar “tudinho”, ou ainda que tal interrogação não seja importante, o que é o pior comportamento.

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