segunda-feira, 18 de julho de 2011

BOLHAS DE SABÃO

De pelo ralo, o rato rala pelo ralo. (Gudé)

Por José Eugênio Maciel

“Quanto menos podemos satisfazer nossas paixões
particulares, mais nos entregamos às gerais”
Montesquieu

Em Campo Mourão terrenos baldios vão desaparecendo e dão lugar ao progresso. O concreto aumenta na paisagem urbana. Quem mora aqui há muitos anos, ou como eu que aqui nasceu e cresceu, evidentemente que saúda o desenvolvimento da cidade neste sentido. Quando eu caminho por ruas e avenidas, muitas reminiscências têm ligação com aqueles imensos terrenos baldios ou fundo de quintais, que eram gigantes aos olhos de qualquer criança ou menino.
Saudosismo à parte, se as referidas áreas cedem lugar ao progresso, elas estão na memória dos que criaram os filhos a vê-los brincarem eu saudáveis espaços com árvores e pelo menos, um cipó para balanço ou para encenar heróis como Tarzan. Campos de futebol nem se fala o quanto eles eram muitos e a bola rolava o dia todo.

Semana passada, em um final de tarde belo e ensolarado, eu caminho por uma das ruas e vejo um grupo de menininhas brincando em um desses quintais. Elas estavam fazendo bolhas de sabão usando como canudos galhos de mamona. Passei a observar a cena, diminui os passos até que, pelo encantamento que aquelas crianças proporcionavam a elas e que me contagiou rapidamente, não pude evitar, acabei parando para admirá-las, claro, de maneira discreta para não ser um elemento estranho e que até fosse qualificado como mal encarado.
Delicada e atentamente, cada uma soprava e acompanhava a sua bolha, todas maravilhadas com o feito. Elas estavam envolvidas com a brincadeira que deveria ser mais uma entre muitas que praticavam naquela tarde, quem sabe o dia todo.
Ao retomar os meus passos antes de atravessar a rua do lado delas, pude então ter outra prova do que apenas eu imaginava há pouco, a calçada riscada de amarelinha. Eu é que serei enquadrado agora como ingênuo, mas elas, que são ainda bonecas, brincam de bonecas, belas com repleto brilho da inocência, fase da vida tão curta e logo adentrarão no mundo dos adultos.
Não sei mais porque comecei a escrever sobre os terrenos vazios que praticamente não existem mais, felizmente sim, como também felizmente sim eles habitam minhas lembranças juvenis sem serem demolidos.

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