De pelo ralo, o rato rala pelo ralo. (Gudé)
 Por José Eugênio Maciel
 “Quanto menos podemos satisfazer nossas paixões
particulares, mais nos entregamos às gerais”
Montesquieu
Em Campo Mourão terrenos baldios vão desaparecendo e  dão lugar ao progresso. O concreto aumenta na paisagem urbana. Quem mora  aqui há muitos anos, ou como eu que aqui nasceu e cresceu,  evidentemente que saúda o desenvolvimento da cidade neste sentido.  Quando eu caminho por ruas e avenidas, muitas reminiscências têm ligação  com aqueles imensos terrenos baldios ou fundo de quintais, que eram  gigantes aos olhos de qualquer criança ou menino.
    Saudosismo à parte, se as referidas áreas cedem lugar ao progresso,  elas estão na memória dos que criaram os filhos a vê-los brincarem eu  saudáveis espaços com árvores e pelo menos, um cipó para balanço ou para  encenar heróis como Tarzan. Campos de futebol nem se fala o quanto eles  eram muitos e a bola rolava o dia todo.
     Semana passada, em um final de tarde belo e ensolarado, eu caminho  por uma das ruas e vejo um grupo de menininhas brincando em um desses  quintais. Elas estavam fazendo bolhas de sabão usando como canudos  galhos de mamona. Passei a observar a cena, diminui os passos até que,  pelo encantamento que aquelas crianças proporcionavam a elas e que me  contagiou rapidamente, não pude evitar, acabei parando para admirá-las,  claro, de maneira discreta para não ser um elemento estranho e que até  fosse qualificado como mal encarado.
    Delicada e atentamente, cada uma soprava e acompanhava a sua bolha,  todas maravilhadas com o feito. Elas estavam envolvidas com a  brincadeira que deveria ser mais uma entre muitas que praticavam naquela  tarde, quem sabe o dia todo.
 Ao retomar os meus passos antes de atravessar a rua do lado delas, pude  então ter outra prova do que apenas eu imaginava há pouco, a calçada  riscada de amarelinha. Eu é que serei enquadrado agora como ingênuo, mas  elas, que são ainda bonecas, brincam de bonecas, belas com repleto  brilho da inocência, fase da vida tão curta e logo adentrarão no mundo  dos adultos.
    Não sei mais porque comecei a escrever sobre os terrenos vazios que  praticamente não existem mais, felizmente sim, como também felizmente  sim eles habitam minhas lembranças juvenis sem serem demolidos.



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