"O jogador faz falta quando joga. O jogador faz falta quando não joga. Qual a falta que ele mais faz? Eis a palavra a comportar significados, circunstâncias de tempo, sujeito e qualidade".(Gudé).
Por José Eugênio Maciel
“Ergam-se altivos e orgulhosos
Afundem suas raízes profundamente na Terra
Reflitam a luz de uma fonte maior
Pensem a longo prazo
Surjam em um galho
Lembrem-se de seu lugar dentre todos os seres humanos
Abracem com alegria as mudanças de estação
Pois cada uma oferece sua própria abundância
A energia e o nascimento da primavera
O crescimento e o contentamento do verão.
A sabedoria de se libertar das folhas no outono
O descanso e a renovação silenciosa do inverno”
Ilan Shamri – Conselho de uma árvore
Parque Joaquim Teodoro de Oliveira em Campo Mourão (Parque do Lago) Foto de Angelo Ricardo Marcotti in Baú do Luizinho - clique na foto para vê-la ampliada |
Iniciei a minha caminhada no Parque do Lago, fazia dias que não encontrava tempo para espairecer, relaxar, respirar ar puro, ouvir o canto dos pássaros, o frescor da mata, encontrar pessoas.
Uma moça se aproxima e me fala, “oi professor!” Eu a reconheci, Ana Beatriz foi minha aluna há alguns anos. Disse-me no começo da conversa enquanto dávamos nossos passos naquele fim de tarde, imaginar o que eu sentia, (ela sabia da morte da minha mãe). O diálogo prossegue, suponho que tem situações nas quais os papéis se mantêm desempenhados do mesmo modo, no caso o estudante e professor, mesmo fora da sala, quando os estudantes concluem determinada escolaridade e seguem adiante. Ana me pergunta: “Professor, o que é a morte, como ela pode ser representada?”
O fim de tudo, o outro lado da vida. Misterioso, encontro do desconhecido, o abraço eterno do infinito, o nada, penso. Que analogia eu poderia fazer, levando em conta que aquela jovem tem pouco contato com o desfecho derruído da vida próxima, íntima, notadamente de uma pessoa da família?
Peço a ela que observe especificamente um tronco caído no bosque, naturalmente a fazer um longo tempo que está ali, haja vista a vegetação que principia a encobri-lo:
“Vê-se que este tronco é de uma árvore de bom porte que um dia tinha vida vigorosa. Morreu de velha? Findou precocemente? Deixou de existir por causa de alguma doença que acometeu e ela exauriu? Foi a ação dos ventos? Seria um raio? Foi o homem com um machado?
O certo é que ela tombou. Quando caiu levou consigo um pouco dos galhos de outras árvores ao redor, nela enroscados. Abriu-se uma clareira no espaço, um imenso e notado vazio. Os outros espécimes próximos sentiram, era a árvore morta. Morreu? Por mais que seja evidente, a morte como o fim de tudo no plano terreno, inelutável e profundamente misterioso, fica um legado para a mata, especialmente na área da floresta mais próxima daquele tronco.
A vida foi em vão? Toda uma vida, qualquer que seja ela, não terá sido em vão. Aquele tronco vai se decompondo, para se incorporar lentamente ao humo da terra, do solo que se fertiliza com os nutrientes a alimentar outras árvores, plantas tenras ou formadas, assim como dar vida a outros seres vivos que ali vivem ou passam. Por gerações a morte será nitidamente vivenciada, é o tronco, túmulo aberto, que sem vida em si, dá sentido às vidas que permanecem. Com o tempo no suceder das gerações o tronco não mais existirá, definitivamente se incorporará na mata no qual nasceu, viveu e morreu num existir que vagarosamente foi desaparecendo, pondo fim a um ciclo.
Pensar é um caminho percorrido no qual o trajeto é composto por vias e cenários seguros, belos. Também é constituído por passagens sombrias, tortuosas que nos levam a andar sem saber onde os pés tocam, desconhecendo rumo e horizonte. Uma estrada que terá fim. Vamos ao encontro do final sem o querer ou perceber, como árvores que principiam o morrer por dentro embora externamente aparentem vigorosas e altivas nas sombras, frutos a abrigarem os seres vivos que ainda não percebem que ela caminha para o fim inexorável.
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