sexta-feira, 24 de agosto de 2012

KOMBI, MOMENTOS FINAIS


Por Luiz Antonio Domingues

O Volkswagen, vulgo "fusca", foi durante muitos anos, o carro mais popular do Brasil.
Tanto é verdade, que mesmo vencido pelos modelos mais avançados que o deixaram obsoleto nos anos oitenta, teve uma tentativa romântica de ser reeditado, por parte do ex-presidente Itamar Franco.
Mas sucumbiu, enfim, vencido pela concorrência de veículos mais tecnologicamente projetados para os novos tempos.
O mesmo fenômeno ocorre com a Kombi, o furgão mais tradicional do Brasil. Carro de trabalho para toda obra, a Kombi acompanhou e contribuiu decisivamente com o processo de industrialização do país.
Devemos considerar que colecionou queixas também através dos anos. Por exemplo, muitas a chamavam de "fogueira sobre rodas", numa alusão ao fato de ser um carro exposto a essa possibilidade pela colocação do motor próximo ao tanque de gasolina, principalmente.
E também era temida por muitos motoristas, por conta de sua frente achatada representar uma autêntica "casquinha", incapaz de proteger o condutor e o passageiro da frente, nos impactos frontais mais contundentes.
Mas nem assim deixou de ser o furgão mais popular do Brasil, por décadas. Inicialmente, o projeto da Kombi não despertou muito interesse dentro da Volkswagen. Ao contrário do que muita gente pensa, não foi Ferdinand Porsche que fez o projeto do furgão.
Ele criou o fusca (há controvérsia também nesse caso, contestando a história oficial, pois há quem diga que o projeto do fusca era de um engenheiro judeu e por conta da ascensão do nazismo na Alemanha, ele teria sido surrupiado e entregue para Ferdinand assiná-lo e assumir os louros da vitória, dessa maneira). 
No caso da Kombi, foi um engenheiro holandês chamado Ben Pon que a projetou, mas como a fábrica estava sendo supervisionada por técnicos britânicos que ocupavam postos estratégicos no país como esforço de reconstrução dos Aliados no pós-guerra, o projeto não os impressionou em princípio. Nessa época, o protótipo se chamava "Typ 2".
Foi só em 1950, com a direção voltando aos executivos alemães, que a produção do furgão refrigerado a ar como o fusca, foi aprovada e o nome "Kombi", é uma abreviação de "Kombinationfahrzeug", que numa tradução livre do alemão, significa: “Veículo de uso combinado".
Quase simultaneamente, começaram a circular nas ruas brasileiras, ainda como veículos importados da Alemanha, mas em 1953, a montadora Brasmotor começou a produzi-la no Brasil.
A Brasmotor representava a Chrysler no Brasil e também era responsável pela produção de refrigeradores e lavadoras da marca Brastemp. Nesse início, a Brasmotor apenas montava em pequena escala e utilizando as peças vindas da Alemanha, numa parceria com a Volkswagen.
Quando a Volkswagen entrou no Brasil e começou a produzir em larga escala a partir de 1957, a Kombi já era 100 % feita com peças brasileiras.
Foram os anos de ouro do furgão, que reinou absoluto no mercado brasileiro durante as décadas de sessenta, setenta e oitenta.
Quando começaram a circular no Brasil as modernas vans de diversas montadoras internacionais, a Kombi perdeu terreno diante de modelos tecnologicamente muito mais avançados, mas mesmo assim, o consumidor brasileiro ainda a prestigiou por muito tempo, vide os números de vendagens. Apenas duas mudanças significativas foram feitas na Kombi, uma em 1975 e outra remodelagem em 1997.
Mas na prática, foram mudanças tímidas que pouco avançaram no processo de modernização do veículo.
Agora, a Volkswagen acena com o fim definitivo da Kombi. Isso porque a partir de 2014, a nova norma do governo exigirá que as vans saiam de fábrica com Air Bag e freios ABS.
Com a tradicional estrutura da Kombi, testes estão redundando em fracassos nessa tentativa de adequação e sendo assim, a VW prefere tirar de linha o seu furgão histórico, lançando a seguir um novo veículo, tecnológicamente moderno e capaz de enfrentar seus concorrentes, quiçá superá-los.
E o mesmo caminho está delineando-se para o Fiat Uno Mille, que padece da mesma dificuldade de adequação à nova exigência governamental.
Sendo assim, estamos no limiar do fim de uma Era, onde possivelmente deixaremos de ter a nossa simpática "perua" com aspecto de fôrma de pão, circulando mais pelas ruas brasileiras.

2 comentários:

Janete disse...

Oi, Luiz

Depois de tanto tempo, a Kombi vai sair de linha. Interessante como algumas coisas duram uma eternidade, e outras passam rápido.
Realmente, parece estranho colocar airbags em Kombi.
Ficará na história...

Anônimo disse...

No final da década de 80 eu tinha uma perua kombi à diesel "repaginada". Ela foi cortada para a colocação de vidros esverdeados e bancos. Virou um veículo de passageiros e muita gente se interessou em comprar ou saber onde havia feito a reforma. Foi um tempo bem divertido...