Por Pedro da Veiga
João Lemos do Prado |
O Departamento de Geografia, Terras e Colonização -D.G.T.C.-, através do 7º Comissariado de Terras, com sede em Guarapuava, sob os cuidados de João Lemos do Prado (1891‑1955), desenvolvia trabalhos técnicos demarcatórios na região de Campo Mourão, tendo o Agrimensor Eugênio Zaleski, com larga experiência de colonização, como um dos contratantes.
Pela reorganização administrativa do D.G.T.C., da Secretaria de Agricultura, Indústria e Comércio criou‑se, em substituição ao 7º Comissariado, a 5ª Inspetoria de Terras, assumindo para dirigi‑la, em 1939, o Engenheiro Civil, Sady Silva, de grande conceito profissional e prestígio funcional.
Com a colaboração de João Lemos do Prado, trilhando dificuldades de acesso ao enorme Distrito, o Inspetor realizou as primeiras diligências, visando fixar em definitivo a sede urbana do Distrito de Campo Mourão, que era uma de suas prioridades administrativas e técnicas, visando dirimir discrepâncias que, de longa data, atritavam os moradores ribeirinhos àquela campina. O bairrismo que nascera entre os próprios habitantes, fizera surgir dois projetos anteriores para a sede distrital:
um, em 1924, à margem direita do rio 119, executado por ordem do 7º Comissariado de Terras, com trabalhos técnicos de Edmundo Alberto Mercer e a colaboração de Carlos Coelho Jr., e outro, em 1929, originado da mesma jurisdição comissária, esboçado por Antônio Alves de Melo Feitosa, no espigão divisor dos rios 119 e 123, à margem direita da Boiadeira.
Eugênio Zaleski |
Esses projetos fundamentavam‑se na necessidade de se demarcar a área de 2.000 hectares para a formação do Patrimônio da Vila de Campo Mourão, indicado em 1916 e concedido ao Município de Guarapuava em 19 de setembro de 1925.
No dia 30 de novembro de 1944, eram lançados, em definitivo, as bases do Patrimônio do Distrito de Campo Mourão, com o mapeamento da área localizada no coração divisor dos rios Km 123 e do Campo, onde foram demarcados os primeiros quarteirões do futuro núcleo urbano, onde hoje estão: a Praça Getúlio Vargas, a Estação Rodoviária Municipal, o Instituto Santa Cruz e a Telepar, definidos no processado de 17 de agosto de 1945, assinado pelo Inspetor Sady Silva, da 5ª Inspetoria de Terras, do D.G.T.C., agora subordinado a Secretaria de Obras Públicas, Viação e Agricultura, com os seguintes limites e confrontações:
Sady Silva |
Ao norte: Pelo rio Quilômetro 123, confronta com a Gleba nº 9 da Colônia Mourão, e terras devolutas do Estado por uma linha reta e seca na extensão de 6.009,00m., que, do Marco XXIII vai até o Marco XXXVIII, à margem esquerda do rio do Campo.
Ao sul: Pelo rio Quilômetro 119 e uma linha reta e seca na extensão de 2.307,50m., que, do Marco IV vai ao Marco IX, confronta com terras tituladas a Miguel Luiz Pereira, e terras devolutas do Estado, por uma linha reta e seca na extensão de 1.622,60m., e pelo rio do Campo.
A leste: Pelo rio do Campo, confronta com terras devolutas do Estado.
A sudoeste: Por uma linha reta e seca na extensão de 1.136,30m., confronta com terras tituladas a Luiz Losso e Domingos Mendes & Irmãos.
A oeste: Por uma linha reta e seca na extensão de 2.835,00m., confronta com terras devolutas do Estado.
Primeiros quarteirões |
Nas informações complementares do documento, são apresentados os seguintes dados:
Hidrografia: O terreno é banhado pelo rio Quilômetro 119 e seus afluentes da margem esquerda que servem de divisa entre as terras tituladas a Miguel Luiz Pereira. Pelo rio Quilômetro 123 que serve de limite entre as terras do Patrimônio da Sede do Distrito de Campo Mourão e da Gleba nº 9, da Colônia Mourão, e quatro pequenos afluentes que nascem dentro das terras do Patrimônio. Pelo arroio Água do Fogo e seus dois afluentes, um córrego também com seus afluentes, nascendo ambos dentro das terras ora demarcadas. Pelo rio do Campo que serve de limite leste do terreno, e seus afluentes pequenos, que nascem dentro do terreno.
Classificação das terras: Compõem-se as terras de campos e faxinais, sendo consideradas, porém, de primeira qualidade. Existem madeiras de lei como: Canela, Grapiapunha, Cedro, Louro, Angico, Monjoleiro, Canafístula, Caviúna, Cabriúva e Ipê.
Cultura existente: Milho, feijão, arroz, mandioca, batata, trigo e cana-de-açúcar.
Indústria: Madeireira, erva-mate, açúcar e aguardente de cana, em pequena escala.
Pecuária: Criação de bovinos, equinos, ovinos e suínos.
Vias de comunicação: A estrada de rodagem que liga Guarapuava-Pitanga-Campo Mourão, à Sede Peabiru e estrada boiadeira Paraná-Mato Grosso, e outra que vai à Sede Peabiru, atravessando o rio Ivaí até Marialva e Apucarana.
Construções existentes: Casa Escolar, Delegacia de Polícia e Cadeia, pertencentes à Prefeitura Municipal, Igreja Paroquial e diversas construções de madeira pertencentes a particulares.
O projeto da malha urbana, com traçado ortogonal em grelha, foi proposto e executado pelo Topógrafo Eugênio Zaleski (1893‑1957), condicionando o lançamento de amplas avenidas longitudinais e largas ruas transversais à linha do espigão divisor.
Fonte: "CAMPO MOURÃO - centro do progresso" - livro de Pedro da Veiga
3 comentários:
Muito bom Pedro. Infelizmente a maioria dos mourãoenses, nem sabe o que é isso. Desconhecem a história da terra que os abriga.
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Meus cumprimentos, Amigo Pedro da Veiga. Vivi durante 18 anos em Campo Mourão e nunca tive acesso a essas informações. Felizmente você está aí com seu livro e com o blog para recuperar as informações que podem se perder ao longo do tempo.
Parabéns!
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