sábado, 1 de setembro de 2012

A ALMA CAIPIRA DE ALMEIDA JÚNIOR

Por Raquel do Carmo Santos – in Jornal da Unicamp

"Violeiro'-1899-Pinacoteca
Estado de São Paulo
A introdução do tema regional nas obras do pintor José Ferraz de Almeida Júnior sempre foi um ponto polêmico entre a crítica: se uma parte nega-se a reconhecer aspectos inovadores na produção de Almeida Jr. (assim reconhecido internacionalmente), por causa dos padrões acadêmicos de pintura, a outra ressalta a importância de sua obra para a arte brasileira. Oswald de Andrade, um dos críticos mais influentes do período modernista, por exemplo, aponta o artista como precursor de uma pintura genuinamente brasileira. Entre suas principais obras estão Caipira picando fumo, Violeiro e Amolação interrompida.
Caipira picando fumo, de Almeida Júnior. 1893.
(Quadro pertencente à Pinacoteca do Estado
de São Paulo)
“Almeida Júnior, uma alma brasileira?” é o título da dissertação de mestrado da artista plástica Paula Giovana Lopes Andrietta Frias, que recolheu mais de cem páginas com críticas sobre a obra do pintor (1850-1899). Em contato desde a graduação com os trabalhos de Almeida Júnior, Paula vê na valorização do tema regional um dos aspectos mais importantes desta trajetória. “Ele nasceu em Itu, interior de São Paulo, e mesmo tendo estudado na Escola de Belas Artes de Paris não perdeu o vínculo com o regional. Em sua biografia é fácil encontrar observações de apreço pelo cigarro de palha e o sotaque caipira. Também tinha amigos na região, que fazia questão de visitar com frequência”, afirma.
Paula Frias, que foi orientada pelo professor Paulo Kühl, aponta ainda outros fatores que teriam influenciado Almeida Júnior a adotar tal estilo: o contato com artistas franceses que retratavam o trabalhador rural em suas obras; a busca de uma identidade nacional pela sociedade do século 19, especialmente a paulista; e a sua proximidade com o ambiente caipira. Almeida Júnior vinha de família de poucos recursos e seu principal incentivador foi o pároco da Igreja Matriz de Itu, padre Miguel, que teria arrecadado o dinheiro para os estudos do pintor na Academia Imperial de Belas Artes. A estada em Paris se deveu a bolsa de estudos do imperador.
"Amolação Interrompida"-1894
óleo sobre tela 200 x 140 cm
Acervo da Pinacoteca do Estado
de São Paulo/Brasil
Almeida Júnior deixou uma obra extensa e de muitos prêmios, mas intensamente discutida pela crítica, tanto na temática como na técnica. Em suas obras regionalistas, o artista adotou cores mais claras, o que se convencionou chamar de clareamento da paleta – um efeito que alguns críticos atribuíam à influência da claridade do sol brasileiro. “Apesar de tais polêmicas envolvendo sua obra, concluo em minha dissertação que Almeida Júnior conseguiu inovar. Se analisarmos o contexto da arte brasileira do século 19 e seus trabalhos do ponto de vista técnico e temático, não há dúvida da importância de sua obra para a arte nacional”.
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José Ferraz de Almeida Júnior nasceu em Itu-SP em 8 de maio de 1850 e faleceu em Piracicaba a 13 de novembro de 1899, foi um pintor e desenhista brasileiro da segunda metade do século XIX. É frequentemente aclamado pela historiografia como precursor da abordagem de temática regionalista, introduzindo assuntos até então inéditos na produção acadêmica brasileira: o amplo destaque conferido a personagens simples e anônimos e a fidedignidade com que retratou a cultura caipira, suprimindo a monumentalidade em voga no ensino artístico oficial em favor de um naturalismo.
José Ferraz de Almeida Júnior
1850-1899
Seus trabalhos mais representativos encontram-se na Sala Almeida Júnior da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Entre as exposições de que participa destacam-se Salão de Artistas Franceses, Paris, 1880/1881/1882; Academia Imperial de Belas-Artes, Rio de Janeiro, 1884/1889; Exposição Internacional Colombiana, 1893 (Medalha de Ouro); Bienal de São Paulo - Sala Paisagem Brasileira até 1900, 1953. Rever os seus quadros é recordar a vida do famoso artista pintor.
Muitos de seus quadros representam nosso povo. O quadro “Picando Fumo” e “Caipiras Negociando” receberam prêmio Medalha de Ouro, na demonstração Colombiana de Chicago. Outros belíssimos quadros Belisário, Leitura, Cupido, Partida da Nação, O Importuno, Casinha Caipira, Saudade, Apertando o Lombilho, Recado Difícil, Nhá Chica. 
Foi certamente o pintor que melhor assimilou o legado do Realismo de Gustave Courbet e de Jean-François Millet, articulando-os ao compromisso da ideologia dos salons parisienses e estabelecendo uma ponte entre o verismo intimista e a rigidez formal do academicismo, característica essa que o tornou bastante célebre ainda em vida. De forma semelhante, sua biografia é até hoje objeto de estudo, sendo de especial interesse as histórias e lendas relativas às circunstâncias que levaram ao seu assassinato: Almeida Júnior morreu precocemente, aos 49 anos, em 13 de novembro de 1899. Foi apunhalado, vítima de um crime passional em frente ao Hotel Central de Piracicaba, hoje já demolido, por José de Almeida Sampaio, seu primo e marido de Maria Laura do Amaral Gurgel, com quem o pintor manteve um relacionamento secreto por vários anos.
O Dia do Artista Plástico brasileiro é comemorado a 8 de maio, data de nascimento do pintor. -(in Wikipédia).

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