(*)-Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS
Meu consolo é saber que, em menos de três meses, ele deixará a presidência. Garantiu que até lá vai fazer “muita miséria”. Disso, não duvido, mas, após dezembro, não terei que vê-lo todos os dias na televisão, insultando a nossa inteligência.
(Ferreira Gullar)
Ferreira Gullar
O poeta, crítico de arte, biógrafo, tradutor, memorialista e ensaísta brasileiro José Ribamar Ferreira (Ferreira Gullar), nasceu em São Luís, em 10 de setembro de 1930. Radicado no Rio de Janeiro, participou do movimento da poesia concreta, em 1956 da exposição concretista, e, em 1959, com Lígia Clark e Hélio Oiticica criou o neoconcretismo. No início dos anos de 1960 marcando seu engajamento à militância comunista publicou algumas poesias pelo Centro Popular de Cultura (CPC), do qual chegou a ser presidente. O CPC tinha como objetivo promover o acesso do “homem do povo” a uma arte crítica e engajada, nos moldes do ideário esquerdista da época. Poeta e cronista premiado diversas vezes, é considerado um dos maiores intelectuais da atualidade, foi considerado pela Revista Época um dos 100 brasileiros mais influentes do ano de 2009. É importante lembrar as origens de Ferreira Gullar antes de reportarmos sua crônica publicada na Folha de São Paulo.
Quebra de Sigilo e Outras Bossas São Coisas Nossas
Ferreira Gullar, Folha de São Paulo 19 de setembro de 2010
É da natureza do PT - do ruim sindicalismo - valer-se de todo e qualquer meio para atingir seus objetivos.
A SOCIEDADE brasileira assiste hoje à despudorada manipulação da opinião pública, que é a campanha de Dilma Rousseff para a Presidência da República. Até alguns petistas não conseguem esconder seu constrangimento diante dos escândalos que surgem a cada dia e, sobretudo, do descaramento com que, de Lula a Dutra, os petistas pretendem, mais uma vez, passar por vítimas, quando são de fato os vilões. O PT não se cansa de jogar sujo. É de sua natureza sindicalista - do ruim sindicalismo - valer-se de todo e qualquer meio para atingir seus objetivos. E isso vai da falsificação dos fatos e a violação de sigilos fiscais à agressão física e a eliminação do inimigo, ainda que esse inimigo seja companheiro de partido. (...)
Não há por que nos surpreendermos com isso, uma vez que agir à revelia da ética e da lei é um antigo hábito do Partido dos Trabalhadores. Os fatos o comprovam. Alguém duvida de que aquela montanha de dinheiro que a polícia flagrou, em 2006, com os “aloprados”, num quarto de hotel em São Paulo, era para comprar um dossiê anti-Serra? Embora os implicados fossem todos petistas próximos a Lula (um deles, o churrasqueiro do presidente), nem ele nem ninguém do PT sabia de nada, porque, como sabemos nós, são todos gente íntegra, defensores da ética na política; a ética petista, bem entendido. (...)
Ato em Defesa da Democracia
“Eles não se conformam que o pobre não aceita mais o tal do formador de opinião pública. Que o pobre está conseguindo enxergar com seus olhos, pensar com a sua cabeça, pensar com a própria consciência, andar com as suas pernas e falar pelas suas próprias bocas, não precisa do tal do formador de opinião pública. Nós somos a opinião pública e nós mesmos nos formamos”. (Lulla)
Juristas, ex-ministros, intelectuais, artistas e políticos lançaram, no início da tarde do dia 22 de setembro de 2010, o “Manifesto em Defesa da Democracia”, no centro de São Paulo. Os manifestantes resolveram, através do ato, dar uma resposta ao presidente Lulla depois deste ter acusado a imprensa de agir como partido político e vociferar que “o pobre não aceita mais o tal do formador de opinião pública”. Lulla fez a sua histérica e “chavista” declaração, no dia 18 de setembro, em Campinas na campanha pró Dilma, Mercadante e Netinho. Para Lulla e sua corja, a imprensa não submissa ao PT é chamada de PIG (Partido da Imprensa Golpista). Lulla esquece que a imprensa tem o dever de levar à sociedade toda a informação e crítica mesmo que estas desagradem seus governantes. É interessante lembrar que Lulla nunca condenou ou atacou o trabalho jornalístico quando eram seus opositores os objetos dessas críticas negativas. A memória de Lulla e de seus asseclas é curta, no dia 3 de maio de 2006, ao assinar a “Declaração de Chapultepec” ele declarava: “... eu devo à liberdade de imprensa do meu país o fato de termos conseguido, em 20 anos, chegar à Presidência da República do Brasil. Perdi três eleições. Eu duvido que tenha um empresário de imprensa que, em algum momento, tenha me visto fazer uma reclamação ou culpando alguém porque eu perdi as eleições”.
Manifesto em Defesa da Democracia
Numa democracia, nenhum dos Poderes é soberano. Soberana é a Constituição, pois é ela quem dá corpo e alma à soberania do povo.
Acima dos políticos estão as instituições, pilares do regime democrático. Hoje, no Brasil, inconformados com a democracia representativa se organizam no governo para solapar o regime democrático. É intolerável assistir ao uso de órgãos do Estado como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de agressão a direitos individuais. É inaceitável que militantes partidários tenham convertido órgãos da administração direta, empresas estatais e fundos de pensão em centros de produção de dossiês contra adversários políticos.
É lamentável que o Presidente esconda no governo que vemos o governo que não vemos, no qual as relações de compadrio e da fisiologia, quando não escandalosamente familiares, arbitram os altos interesses do país, negando-se a qualquer controle. É inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita, que, na certeza da impunidade, já não se preocupa mais em valorizar a honestidade.
É constrangedor que o Presidente não entenda que o seu cargo deve ser exercido em sua plenitude nas vinte e quatro horas do dia. Não há “depois do expediente” para um Chefe de Estado. É constrangedor também que ele não tenha a compostura de separar o homem de Estado do homem de partido, pondo-se a aviltar os seus adversários políticos com linguagem inaceitável, incompatível com o decoro do cargo, numa manifestação escancarada de abuso de poder político e de uso da máquina oficial em favor de uma candidatura. Ele não vê no “outro” um adversário que deve ser vencido segundo regras, mas um inimigo que tem de ser eliminado. É aviltante que o governo estimule e financie a ação de grupos que pedem abertamente restrições à liberdade de imprensa, propondo mecanismos autoritários de submissão de jornalistas e de empresas de comunicação às determinações de um partido político e de seus interesses. É repugnante que essa mesma máquina oficial de publicidade tenha sido mobilizada para reescrever a História, procurando desmerecer o trabalho de brasileiros e brasileiras que construíram as bases da estabilidade econômica e política, que tantos benefícios trouxeram ao nosso povo.
É um insulto à República que o Poder Legislativo seja tratado como mera extensão do Executivo, explicitando o intento de encabrestar o Senado. É deplorável que o mesmo Presidente lamente publicamente o fato de ter de se submeter às decisões do Poder Judiciário. Cumpre-nos, pois, combater essa visão regressiva do processo político, que supõe que o poder conquistado nas urnas ou a popularidade de um líder lhe conferem licença para ignorar a Constituição e as leis. Propomos uma firme mobilização em favor de sua preservação, repudiando a ação daqueles que hoje usam de subterfúgios para solapá-las. É preciso brecar essa marcha para o autoritarismo.
Brasileiros erguem sua voz em defesa da Constituição, das instituições e da legalidade. Não precisamos de soberanos com pretensões paternas, mas de democratas convictos.
(*)-Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br
E–mail: hiramrs@terra.com.br
Imagens da Internet - fotoformatação (PVeiga).
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