sábado, 11 de setembro de 2010

NOVE ANOS APÓS ATAQUE ÀS TORRES GÊMEAS, BIN LADEN SE TORNOU UMA "CELEBRIDADE"

Ele é o homem mais procurado do mundo na lista do FBI. Ele é o líder da mais famosa organização terrorista contemporânea. Ele é acusado de ser o responsável pelo pior ataque contra civis norte-americanos da história. E você pode ter a cara dele na sua caneca por US$ 11,99.

Reprodução/thebobblehead.com

  • Nove anos após os ataques às Torres Gêmeas, o saudita está afastado das células mais ativas da Al Qaeda, mas sua imagem ganhou força própria, seja na indústria cultural ocidental, seja como inspiração para jovens terroristas

A celebridade em questão é Osama bin Laden, cujo rosto magrelo e barbado, com a cabeça coberta por um pano branco, se tornou um ícone cultural depois dos ataques de 11 de Setembro, apesar do pouco que se sabe sobre ele. Para especialistas consultados pelo UOL Notícias, essa imagem hoje é maior e mais relevante do que o próprio Bin Laden, tanto para movimentar a indústria cultural quanto para inspirar jovens terroristas.

De acordo com os dados do FBI e da Interpol, Osama bin Muhammad bin Awad bin Laden tem olhos e cabelos castanhos, pesa cerca de 73 kg, tem altura aproximada de 1,96 m e é canhoto. Estima-se que tenha nascido em 30 de julho de 1957, na cidade de Jidá, na Arábia Saudita.

Bin Laden entrou para a seleta lista dos “dez mais procurados” da polícia federal norte-americana em 1999, após ser apontado como um dos responsáveis pelos ataques a bomba contra as embaixadas norte-americanas de Dar es Salaam (Tanzânia) e de Nairóbi (Quênia), realizados em 7 de agosto de 1998. Mais de 200 pessoas morreram nos dois atentados.

No entanto, a maior ação terrorista atribuída a ele é o histórico ataque ao World Trade Center em Nova York, em 11 de setembro de 2001. A destruição das Torres Gêmeas, atingidas por aviões comerciais, deixou mais de três mil mortos.

Procurado

Desde então a Casa Branca iniciou uma guerra no Afeganistão, na qual já morreram mais de dois mil soldados ocidentais, e ampliou a atuação de seus serviços de inteligência dentro e fora dos EUA, mas não conseguiu capturar Bin Laden. A recompensa oferecida pelo Departamento de Estado em troca de informações que levem à captura do líder terrorista atualmente é de US$ 25 milhões (cerca de R$ 43 milhões).

Mas até que ponto esse homem é realmente o pior pesadelo dos americanos? Para o professor de história militar Thomas Mockaitis, autor de uma das biografias sobre Bin Laden, o saudita não é – e nunca foi – o “cérebro” da Al Qaeda.

“Bin Laden é o garoto-propaganda da Al Qaeda, é seu rosto público”, argumenta o especialista. “O egípcio dr. Ayman al Zawari era o verdadeiro gênio do mal. E há indícios de que a ‘guerra santa’ deste grupo seja promovida hoje mais pelos núcleos afiliados à Al Qaeda do que pela Al Qaeda central”.

Mockaitis cita como exemplos de ações relacionadas a células com esse novo perfil o caso do atirador de Fort Hood e a tentativa de atentado a um avião no último Natal, ligados com tentáculos da Al Qaeda na península Arábica.

Incorporado ao sistema

Afastado das células ativas e mais preocupado com sua própria segurança, Bin Laden perdeu força como agente terrorista. Ao mesmo tempo, ao enviar ameaças em mensagens de vídeo e reaparecer como um fantasma no noticiário internacional durante tantos anos, sua imagem ganhou uma presença própria, independente do homem de carne e osso.

Não demorou para essa imagem ser incorporada pela cultura de massa ocidental. O primeiro episódio inédito da animação “South Park” após o 11 de Setembro, exibido nos EUA em 7 de novembro, já trazia um personagem inspirado em Osama bin Laden - retratado como um maluco exibicionista morando em uma caverna. No Brasil, o programa humorístico "Casseta & Planeta Urgente" iria incorporar o personagem em suas imitações, interpretado pelo humorista Reinaldo.

“Qualquer um pode ser absorvido no mercado de celebridade: artista, religioso, político, qualquer pessoa pode se tornar banalizada e se tornar um signo ligado a cultura de massa”, explica Everardo Pereira Guimarães Rocha, doutor em Antropologia Social e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Imagens capturadas de diversos jogos virtuais nos quais Osama bin Laden é o principal tema

“É como se a cultura de massa fosse um liquidificador que mistura todos os personagens que a mídia traz a tona, de qualquer ótica, e em certa medida torna todos eles iguais”, acrescenta o especialista, autor de diversos livros sobre comunicação, cultura e consumo.

Existem hoje dezenas de jogos de computador com a presença de Bin Laden. O jogador é convidado a atirar nele, enfiar um garfo em seu olho ou bater nele com uma bandeira americana, sempre em um ambiente que lembra uma caverna ou um deserto. Entre os apetrechos que se pode comprar com a inconfundível cara barbada estão relógios de parede, canecas, camisetas, bonés e aventais para churrasco - além, é claro, de uma fantasia de Bin Laden.

“É uma coisa muito parecida com aquilo que acontece com Che Guevara. O personagem se torna independente em relação ao plano do qual ele partiu, ganha uma dimensão ligada à cultura de massa que não tinha originalmente. Você retira a força histórica original desse personagem a serviço de uma cultura midiática. E a superexposição na mídia faz parte desse processo”, descreve Everardo Rocha

  • Diversos produtos disponíveis para consumo com Bin Laden estampado. A caneca sai por US$ 11,99

"Robin Hood" dos muçulmanos"

Do outro lado, a imagem de Bin Laden como “o homem que conseguiu atacar os EUA e nunca foi capturado” é muito atraente para os jovens muçulmanos desiludidos com sua própria situação e vulneráveis a uma líder carismático, como argumenta o livro “The Cult of Osama: Psychoanalyzing Bin Laden and His Magnetism for Muslim Youths” (Praeger Security International).

“É importante tentar entender a combinação sociopsicológica ímpar entre a carismática liderança de um homem como Osama bin Laden, temperada por elementos religiosos, e a psicologia de grupo das comunidades nas quais ele e seus colegas recrutam devotos terroristas”, afirma o psicoanalista Peter Olsson, autor do livro e professor da Escola de Medicina de Dartmouth (EUA).

  • Reprodução/Reuters

    Imagem de um vídeo mostra o terrorista saudita Osama bin Laden segurando arma em campo de treinamento, em local e data não identificados

“Na minha opinião, é um erro sério reiteradamente classificar Bin Laden simplesmente como um assassino em massa, matador ou criminoso. A dolorosa verdade é que ele é uma figura como Robin Hood, um heroico Flautista espiritual para muita gente no mundo muçulmano”, acrescenta Olsson, em referência ao ladrão que roubava dos ricos para dar aos pobres, e ao Flautista de Hamelin, que encantava crianças com sua música.

“Assim como acontece com outros Flautistas malignos, o apelo de Bin Laden encaixa perfeitamente com a rebeldia adolescente natural”, acrescenta o psicanalista. “O que seria uma rebeldia adolescente normal se torna ação terrorista sob a tutela de Osama Bin Laden.”

A dificuldade de capturá-lo aumenta essa influência? “Sim. A sorte de Osama em fugir do ‘ocidente’ intensifica sua imagem de Robin Hood. Para muitos muçulmanos com vidas mundanas e tediosas, Osama é um anti-herói atraente, como um rockstar ou uma celebridade.”

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