Na minha vida pessoal, na escola, na universidade, enfim, em qualquer lugar, sempre desconfiei dos populares. É claro que há gente popular honesta. No entanto, popularidade nunca foi sinônima de honestidade, honradez, inteligência, independência. Muito pelo contrário, a popularidade parece ter um preço para certas pessoas e muitas delas pagam pela falta de autenticidade, pela tendência a agradar todo mundo. Pelo contrário, eu já consigo ter uma admiração por pessoas impopulares. Nem todas elas são boas. Mas o fato de ir contra a maré do lugar-comum e da massa já implica certa dose de determinação e autonomia. Muitos impopulares que conheci eram pessoas honestas, decentes, inteligentes e visivelmente independentes nas opiniões. Eles não queriam ganhar a simpatia do público ou serem paparicados pela massa. Eles queriam justamente buscar a verdade, ouvir a própria consciência, contra os desmandos e as ilusões pacificadoras da coletividade. Claro que nem isto é regra. Os impopulares também podem ser cretinos. No entanto, sob alguns aspectos, impopularidade pode ser sinal de dissidência, de que algumas pessoas pensam diferente.
Neste aspecto, quase sempre fui “impopular” em praticamente tudo, nos gostos, nas aptidões, nas idéias. Isso me cobrou certo preço. Ser impopular faz com que percamos muitas coisas. No entanto, ser “impopular”, quando se está do lado da verdade, preserva uma grande paz de consciência. Sócrates foi impopular quando o obrigaram a tomar a cicuta. E a história de Jesus Cristo é a crítica maior contra todas as popularidades: a ralé preferiu o bandido Barrabás ao Mestre, Rei dos Reis, Deus encarnado. Se até Barrabás foi popular em sua época, o mesmo se pode dizer de Hitler, Stálin, Mussolini e outros tipinhos calhordas.
E não será diferente com o presidente Lula, que faz da popularidade uma espécie de isenção moral de sua consciência. Aliás, popularidade no Brasil se tornou condição essencial de impunidade ou sinal de valor moral. Ninguém toca na reputação tosca do presidente. Os políticos têm medo, sabe-se lá por quê. Chega a ser uma espécie estranha de masoquismo ou suicídio político. Pode-se criticar o aparelhamento petista do Estado, o projeto totalitário consubstanciado no partido e na ideologia de Lula, porém, o presidente “popular” é intocado, tal como aqueles moleques vigaristas de colégio que pegam as melhores meninas, fraudam as provas dos professores e manipulam ou agridem os alunos menores.
A santificação lulista pode parecer um dos maiores enigmas do universo. Bem, tem explicação: a idiotização completa da população brasileira, a cumplicidade criminosa da inteligentsia com o poder e a corrupção moral e ética da classe política e dos empresários, levam a essa “popularidade” de mais de 80%, capaz de dar ao presidente uma espécie de poder de senhorio sobre o país, ditando, inclusive, um poste para ser seu substituto presidencial. Como muitos “populares” proxenetas, Lula dá sinais de megalomania, perde a noção da realidade. Só que essa perda do real é aprovada pelos seus bajuladores, que endossam cada mentira que conta e difundem para a massa, com sinais claros de messianismo redentor. E o povo, que muitas vezes segue o lugar comum, não vai pensar diferente. Até mesmo a “oposição” política endossa as falácias públicas do presidente. Na verdade, alguém tem razão em afirmar que o PSDB é a face da mesma moeda do PT: é a disputa entre o menchevique e o bolchevique, um é a oposição que pertence à mesma situação. O candidato tucano a presidente da república José Serra admira o sujeito que está por trás da violação do sigilo fiscal de sua filha. E os tucanos imbecis ainda divulgam um vídeo, afirmando que Lula controla os radicais do PT e coloca em dúvidas se Dilma vai controlá-los. É como se alguém, em plena Alemanha Nazista, afirmasse se Hitler controlaria o radicalismo do Partido Nacional-Socialista. De fato, Lula controla os radicais do PT. Ele é o próprio radical. Usa-os em causa própria. Se não controlasse os radicais, não teria o poder que tem. Uma obviedade que os tucanos, de tão estúpidos, não compreendem. . .
A parábola de Andersen é atualíssima em nossos tempos: o rei está nu. Falta apenas uma criança honesta detectar a mentira das roupas invisíveis do rei.
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