sábado, 18 de setembro de 2010

GOVERNO PORNOCRÁTICO BRASILEIRO

*-Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS

Mas como falar deste país sem o lanho do humor?

Em tudo insere João Ubaldo a visão do humorista,

que vê o que não aparece, identifica a nudez das gentes,

entende os pensamentos ocultos.

(Antônio Olinto Marques da Rocha)

João Ubaldo Ribeiro

O escritor, jornalista, roteirista e professor João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro nasceu na Bahia, em 23 de janeiro de 1941, filho primogênito de Maria Felipa Osório Pimentel e Manoel Ribeiro. Observador arguto, das cousas e das gentes, retrata, nas suas obras, o contexto social brasileiro, português e africano focado sob uma lente impregnada de inteligente ironia e humor. Em 2008, foi agraciado com o Prêmio Camões, considerado o maior laurel da língua portuguesa. O texto, abaixo, escrito há alguns anos continua impregnado de verdades insofismáveis e de uma atualidade incontestável.

Me Visitem na Cadeia – João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro

02 de Abril de 2006

(...) Começo, não sem certo enfado, a dizer o que penso do Executivo, na figura do nosso presidente. Sua conduta me tem transmitido a impressão de que ele é enganador, cara-de-pau, evasivo, fanfarrão, oportunista, ardiloso, demagogo e cínico o suficiente para encarar com desplante todo mundo saber que ele é candidato, mas se aproveita de brechas na lei para fazer campanha à custa do erário e não raro enganosamente. Acho que só é de fato sincero quando se apresenta como o melhor presidente que “este país” já teve, pois o movem as certezas absolutas que a ignorância costuma suscitar. O povo é engabelado por cestas e bolsas mil, enquanto as reformas que efetivamente o redimiriam não vêm e tudo indica que não virão. Tampouco tenho admito que muito subjetivamente boa impressão do caráter de Sua Excelência e da sua propalada fidelidade aos amigos, diante da gana de grudar no poder. (...)

O que eu penso do nosso sistema político é que falta um bom nome para designá-lo, pois democracia é que não é. Tentando assim de orelhada, ocorrem-me cacocracia, cleptocracia, hipocritocracia ou, melhor ainda, pornocracia, pois é muito menos pornográfico um travesti se exibindo na Avenida Atlântica, para faturar um dinheirinho com os pais de família inatacáveis que constituem a parte mor de sua clientela, do que um vendilhão da pátria, um traficante de votos, um deslumbrado pelo poder, um criminoso disfarçado sob alegações grotescamente entortadas. E penso que nosso país é hoje moralmente flácido e desorientado. Não é incomum que o cidadão não consiga agir corretamente porque o sistema é tão corrompido que não aceita a integridade, ela nos é cada vez mais uma estranha. A corrupção está em toda parte, da gasolina adulterada ao peso roubado nos produtos embalados, aos remédios falsificados, aos atestados forjados, às instituições de caridade trapaceiras e a tudo mais que nos rodeia, onde sempre suspeitamos da existência de uma mutreta, pois a mutreta é o nosso “modus operandi” trivial. (...)

* -Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

E–mail: hiramrs@terra.com.br

Imagens da Internet – fotoformatação (PVeiga).

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