sábado, 4 de agosto de 2012

SÃO JOÃO MARIA VIANNEY (CURA D'ARS), PATRONO DOS PÁROCOS

Por Plinio Maria Solimeo

O Santo Cura d’Ars foi um vigário inflamado de amor de Deus e zelo pelas almas, e pôde comunicar à sua paróquia algo desse amor, de modo a transformá-la de tíbia em fervorosa. Por isso ele é o patrono do clero, e especialmente dos párocos..
Um antigo axioma dizia que os fiéis estão sempre um degrau abaixo do fervor do seu pároco. Assim, se este for santo, o povo será piedoso; se for apenas piedoso, os fiéis serão modelares; se for apenas modelar, os fiéis serão corretos; e se for apenas correto, seus fiéis serão tíbios. Então, o que dizer de um padre tíbio e até, como infelizmente não raro ocorre, relaxado? Ante a decadência religiosa e o abandono da fé que presenciamos, é oportuno lembrar o formidável exemplo de São João Maria Vianney — o Santo Cura d’Ars, como ficou mais conhecido — neste ano jubilar em que se comemora 150 anos de seu falecimento.(1)
Fruto de um lar verdadeiramente cristão
Residência onde viveu o santo na
cidade de Ars
A pequena cidade de Dardilly, perdida nas montanhas que circundam Lyon, na França, viu nascer no dia 8 de maio de 1786 um menino que se tornaria uma das glórias da Igreja e venerado como santo: João Batista Maria Vianney.
Era o terceiro dos seis filhos de um piedoso casal de agricultores, Mateus Vianney e Maria Béluse. Nesse lar modesto, a caridade cristã era uma herança de família. O pai de Mateus, Pedro Vianney, tivera anos antes a felicidade de albergar em sua casa o santo-mendigo, São Bento José Labre.
João Maria foi batizado no mesmo dia em que nasceu, e como todos seus irmãos e irmãs, foi consagrado à Santíssima Virgem, segundo o bom costume da época.
Assim que o menino começou a distinguir os objetos exteriores, sua mãe mostrava-lhe o crucifixo e imagens piedosas. E quando foi capaz de mover os bracinhos, levava-o a fazer o Sinal da Cruz. Quando a noite descia, naqueles felizes tempos sem televisão, em vez de se deteriorar com a frivolidade e a imoralidade das telenovelas, a família Vianney conversava, lia a História Sagrada e rezava o terço em conjunto.
Foi então quando se abateu sobre a França a tormenta que, durante anos, levou o terror e a devastação àquela nação antes verdadeiramente cristã: a Revolução Francesa.
Durante a tormenta revolucionária
Em janeiro de 1791 começou a vigorar no país a ímpia Constituição Civil do Clero, que obrigava todos os sacerdotes a prestar um juramento cismático de obediência àquela constituição, sob pena de prisão ou mesmo de morte.
O vigário de Dardilly foi dos que cederam, e prestou o juramento. Arrependendo-se depois dessa verdadeira traição, retirou-se para Lyon, e de lá para a Itália. Foi substituído por outro sacerdote “juramentado” (que também prestara o juramento). Como aparentemente nada mudara, aqueles camponeses simples, ignorando o significado desse juramento, continuaram a ir à igreja e a frequentar os sacramentos.
Mas logo os Vianney souberam, por um parente, o que significava ser padre “juramentado”, ou seja, que ele se tinha tornado cismático por aquele juramento, que impunha a ruptura com o Papa. Sem titubear, eles deixaram de frequentar a igreja local, passando a assistir às Missas clandestinas celebradas por padres “refratários” (aqueles que heroicamente tinham recusado o juramento cismático), em granjas ou celeiros.
Veio então o período do Terror, durante o qual a guilhotina ceifou a vida de inúmeros inocentes. Não se podia mais praticar em público a Religião: a igreja de Dardilly foi fechada, os revolucionários derrubaram as cruzes e monumentos piedosos; nas próprias casas, era-se obrigado a esconder crucifixos e imagens religiosas.

Primeira Comunhão: clima de terror e perseguição

Uma lei de 19 de dezembro de 1793 fechou as escolas religiosas e obrigou as crianças a frequentar as escolas públicas, sob pena de multa aos pais. Mas no ano seguinte um católico, o “cidadão Dumas”, pôde reabrir sua escola, e nela ingressaram João Maria e sua irmã Catarina.
Em 1799, apesar de o sanguinário Robespierre já ter caído em 1794, a perseguição continuava, e centenas de sacerdotes foram deportados para a Guiana. O próprio Papa Pio VI tornou-se prisioneiro da Revolução. Foi nesse clima ainda de terror e perseguição que João Maria, aos 13 anos, recebeu a Primeira Comunhão das mãos de um sacerdote “refratário”, numa casa particular, com portas e janelas fechadas. Recorda sua irmã: “Meu irmão achava-se tão contente, que não queria mais sair do lugar onde teve a felicidade de comungar a primeira vez”.
No dia 9 de novembro de 1799 (18 brumário, segundo o calendário “ecológico” da Revolução), com um golpe de força o general Napoleão Bonaparte assumiu o poder na França com o título de Primeiro Cônsul. Para consolidar-se politicamente, aliviou a perseguição religiosa: as igrejas foram reabertas e muitos sacerdotes regressaram do exílio. Em Ecully, perto de Dardilly, dois sacerdotes “refratários” passaram a celebrar publicamente a Missa, e a família Vianney ali acorreu com todo fervor.
É de se notar que essa família genuinamente católica não deixou de santificar o domingo , até nos anos do Terror, quando o dia oficial do descanso era a década.

A longa caminhada para o sacerdócio

Pintura da época do Santo
Cura d’Ars

João Maria passara a ajudar o pai nos trabalhos mais pesados: lavrava a terra, cuidava da vinha, recolhia nozes e maçãs, podava as árvores, empilhava a lenha. Tudo fazia com recolhimento e espírito sobrenatural. Dirá mais tarde: “É mister oferecer a Deus nosso trabalho, nosso repouso e nossos passos.Oh, como é belo fazer tudo por Deus! Se trabalhas com Deus, és tu que trabalhas, mas é Deus que abençoa o teu trabalho. De tudo [Deus] tomará nota. A privação de um olhar, uma provação, serão anotadas”.(2)
À noite João Maria lia o Evangelho e a Imitação de Cristo antes de repousar. Quando completou 17 anos, consolidou-se nele a ideia de ser padre, mas o pai não queria nem ouvir falar disso.
Mais tarde o jovem soube que o Pe. Balley abrira uma escola em Ecully, para a formação de futuros sacerdotes. Voltou então a insistir com o pai para nela ingressar. Finalmente, pressionado pela esposa, Mateus Vianney concedeu a licença.
A gramática latina foi um tormento para esse camponês, já com 20 anos de idade. Mais habituado ao trato com os animais e a lavoura do que com as letras, tinha dificuldade em reter na memória o que aprendia. Apesar de estudar com tenacidade, seus progressos no estudo eram quase nulos. Fez então uma peregrinação a Louvesc para visitar o túmulo de São João Francisco de Régis, taumaturgo da região. Este atendeu o pedido com muita parcimônia: com muita dificuldade João Maria aprendeu o estritamente necessário para ser ordenado.

Enfim, ordenado sacerdote do Altíssimo

Cálice de Missa de São João
Maria Vianney
Aos 25 anos João Maria recebeu a primeira tonsura. Cerca de cinco anos mais tarde foi aceito para a ordenação sacerdotal, de maneira quase milagrosa. Com as perseguições da Revolução Francesa, o país estava à míngua de padres. Por isso, o vigário-geral de Lyon sentiu-se inclinado à indulgência para com aquele seminarista tão esforçado, e perguntou ao Pe. Balley:
–– Ele sabe rezar o rosário?
–– Sim, é um modelo de piedade.
–– Se é um modelo de piedade, eu o admito às ordens menores. A graça de Deus fará o resto.
Nunca uma profecia se cumpriu com mais liberalidade!
Finalmente, no dia 13 de agosto de 1815, o bispo de Grénoble conferiu-lhe a ordem sacerdotal. Foi nomeado coadjutor de seu protetor Pe. Balley, em Ecully, mas sem licença para ouvir confissões. Aquele que passaria depois jornadas inteiras no confessionário, e seria modelo de confessor, tinha que estudar mais para ser considerado apto a atender confissões.

Numa pequena comunidade de 230 habitantes

No dia 17 de dezembro de 1817 falecia o Pe. Balley, amigo e benfeitor do Pe. Vianney, e este ficou com todo o ônus da paróquia. Mas por pouco tempo, pois logo foi designado para a cidadezinha de Ars, um aglomerado de algumas dezenas de casas, com apenas 230 habitantes. O humilde sacerdote tornaria esse vilarejo universalmente famoso.
Como na maior parte das localidades rurais da França, sacudidas durante anos pelos vendavais da Revolução Francesa, em Ars a decadência religiosa era total. Os habitantes viviam num paganismo prático, formado de negligência, indiferentismo e esquecimento das práticas religiosas. Era corrente o péssimo hábito de blasfemar. Nas noites de sábado, os homens se reuniam em alguma das quatro tavernas da cidade para entregarem-se à bebedeira. O descanso dominical não era observado. Os jovens eram apaixonados pelos bailes, mas ignoravam até os rudimentos da doutrina católica. As crianças começavam a trabalhar desde cedo nos campos, e mal apareciam nos catecismos. Tampouco havia escola permanente para instruí-las. Havia certo fundo religioso, mas muito pouca piedade.
Como transformar aquela paróquia tíbia num modelo de vida católica? Eis o desafio para o Cura d´Ars (cura era o nome que designava um vigário de aldeia). Primeiro, pela oração e sacrifício aceitou o desafio. Já no dia seguinte ao de sua chegada, deu o colchão a um pobre e deitou-se sobre uns ramos junto à parede, com um pedaço de madeira como travesseiro. Como a parede e o chão eram úmidos, contraiu de imediato uma nevralgia que durou 15 anos. O seu jejum era permanente: passava três dias sem comer; e quando o fazia, alimentava-se somente de batatas cozidas no início da semana, emboloradas. Mais do que tudo, passava horas ajoelhado diante do Santíssimo Sacramento, pedindo a conversão dos seus paroquianos.
“Seu programa meditado diante do sacrário era o de todo pastor inquieto com a salvação de seu rebanho: entrar em contato com os seus paroquianos; assegurar a cooperação das famílias de mais destaque; melhorar os bons, reconduzir os indiferentes, converter os pecadores e escandalosos; e sobretudo orar a Deus, de quem dimanam todos os dons. Enfim, santificar-se a si mesmo para poder santificar os outros, e fazer penitência pelos culpados”.
A um sacerdote que lhe perguntou qual o segredo de suas primeiras conquistas, respondeu: “Meu amigo, o demônio não faz muito caso da disciplina e de outros instrumentos de penitência. O que o põe em debandada são as privações no comer, no beber e no dormir. Nenhuma coisa o faz temer tanto como isso, e por outro lado nada é tão agradável a Deus. Ah! como tenho experimentado essas coisas! [...] Chegava há passar três dias sem comer. [...] Então, conseguia de Deus o que queria, para mim e para os outros”.
Mas ele próprio reconhecerá mais tarde que, quando jovem sacerdote, no seu anseio de converter suas ovelhas, ultrapassara todos os limites da mortificação. E chamará tais excessos “loucuras da juventude”.

Segredo do pregador: preparar bem os sermões

"Quando alguém quer destruir a religião,
sempre se começa por atacar e destruir o padre"
O Pe. Vianney empregou também todo seu zelo para instruir os fiéis por meio da pregação. Pregava em geral sobre os deveres de cada um para consigo, para com o próximo e para com Deus. Desejava ardentemente a salvação de seus paroquianos, e por isso falava constantemente do inferno e do que precisamos fazer para evitá-lo.
Como fazia para instruir seus paroquianos um sacerdote tão mal preparado, com memória fraca e poucos talentos? Ele preparava longamente seus sermões. Ia escrevendo tudo o que lhe vinha à cabeça, depois procurava reter na memória o que tinha escrito. Então lia tudo em voz alta, para si mesmo. Uma, duas, três vezes.
No dia seguinte, pronunciava seu sermão com voz gutural, na qual predominavam as notas agudas. No começo, fazia um esforço tremendo quando pregava. Alguém lhe perguntou: “Por que o Sr. fala tão alto quando prega, e tão baixo quando reza? É que quando prego, falo a surdos, e quando rezo falo a Deus, que não o é”.
Ele exigia a devida compostura na igreja, por respeito à presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento.
Dizia também que a salvação para a gente do campo era muito fácil, porque podiam rezar livremente durante o trabalho e não tinham nada que os pudesse distrair do caminho da salvação.
Seguindo as diretrizes do Concílio de Trento, que prescrevia como dever dos párocos explicar frequentemente aos fiéis as cerimônias da Missa, o Pe. João Maria se esforçava para tornar acessíveis a seus paroquianos cada uma de suas partes.

O corpo do Santo Cura d´Ars encontrado incorrupto

São João Maria Vianney faleceu há exatos 153 anos, no dia 4 de agosto de 1859. Foi beatificado por São Pio X em 1905, e canonizado por Pio XI em 1924.
Por ocasião da beatificação, seu corpo foi exumado e encontrado incorrupto, apesar de seco e escurecido. E é assim que permanece até o dia de hoje em Ars, para maravilhamento e edificação dos inúmeros peregrinos que para lá ainda se dirigem, a fim de respirar um pouco daquele ar abençoado pela vida e virtudes de São João Maria Vianney — santo que todo o clero católico deveria ter como modelo de perfeição.
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DIA DO PADRE
Em 04 de Agosto é comemorado o Dia do Padre, o Padre é o servo de Deus na Terra, um sacerdote, um pai, semelhante a Cristo que amou a todos e deu a sua vida aos pobres e as pessoas simples marginalizadas.
Vejamos quem é o Padre:
É alguém escolhido por Deus, dentro de uma comunidade, no seio de uma família, para ser o continuador da obra salvadora de Jesus. Ele assume a missão de construir a comunidade.
Por graça e vocação, o padre age em nome de Jesus: ele perdoa os pecados, ele reconcilia seus irmãos com Deus e entre si; ele trás a bênção de Deus para todos.
O padre é aquele que celebra a vida de Deus na vida da comunidade. Na Celebração Eucarística , ele trás Jesus para as comunidades. A Eucaristia é a razão primeira do sacerdócio.
O padre alimenta seus fiéis por esse sacramento, pela sua pregação e pelo seu testemunho.
Padre é o modelo por excelência de Jesus Cristo, o bom Pastor. Por esse motivo ele deve ser como o Cristo Pastor. O Padre deve ser o pastor atencioso de seu rebanho.
Deve guiar por bons caminhos, orientando nas dificuldades e prevenindo quando necessário. Deve defender seus irmãos dos lobos modernos que devoram os menos esclarecidos e dos ladrões que atacam, que confundem e dispersam o único rebanho do Senhor.
Padre é o homem de Deus que deve estar no meio do povo: nas Paróquias, nas Pastorais, nos Seminários, nos Hospitais, nas Escolas e Faculdades, nos Meios de Comunicação Social, nas Comunidades Inseridas e entre os mais pobres e marginalizados… É um sinal de que o Reino de Deus existe entre nós.

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