O estigma foi por ter proposto a ilegalidade do MST e ter exigido o fechamento das escolas itinerantes em acampamentos de sem-terra para que os alunos de pais que lutam por um pedaço de terra fossem para a rede pública. Pressionado e sem apoio de colegas de trabalho, Thums encerrou sua cruzada contra o que considerava atos ilegais dos sem-terra.
Onze meses depois de desistir do choque frontal, ele diz que continua com as mesmas convicções, mas reconhece que cometeu um erro estratégico por entender, na ocasião, que o MST agia de maneira isolada.
Leia a seguir trechos da entrevista:
Zero Hora – Depois de enfrentamento com o MST, o senhor disse que estava jogando a toalha por entender que havia sido encurralado pelos simpatizantes do movimento. Na ocasião, relatou que conversas suas haviam sido gravadas e que uma pessoa havia tentando atropelá-lo. Como está a sua vida hoje?
Gilberto Thums – A minha vida está bem mais tranquila. Estou cuidando dos crimes praticados pela chinelagem. Com esses, ninguém se importa, não faltam recursos e tenho plena liberdade para trabalhar.
ZH – Se tivesse oportunidade de voltar no tempo, o senhor faria tudo novamente. Pediria a ilegalidade do MST e o fim das escolas itinerantes nos acampamentos?
Thums – Faria tudo novamente. Só não cometeria o erro que custou o meu isolamento e o estigma de ser apontado como a pessoa que queria criminalizar os movimentos sociais. Fui ingênuo.
ZH – Qual foi o erro?
Thums – Eu tratei a questão de uma maneira geral. Achei que o MST fosse a cabeça pensante de um esquema esquerdista que tinha como finalidade tomar o poder pisando na Constituição. Estava errado. O MST é massa de manobra de um sistema operado por pessoas muito inteligentes e poderosas.
ZH – Quem são essas pessoas?
Thums – Eu não sei. Mas, ao primeiro passo dado na direção de identificá-las, que foi a ação que colocaria o MST na ilegalidade, fomos soterrados por uma avalancha de críticas, que nos imobilizou.
ZH – O senhor está falando da esquerda?
Thums – Ser de esquerda ou direita não é contra a lei. Estou falando de grupos radicais que se instalaram dentro da esquerda e que se envolveram em operações criminosas. Cito dois casos que envolveram o MST em setembro de 2009: a invasão do prédio do Incra, em Porto Alegre, onde desapareceram equipamentos, e a destruição de pés de laranjeiras de uma fazenda no interior de São Paulo, a Fazenda Santo Henrique, em Borebi (São Paulo). Quem apontar esse pessoal, como eu fiz, é tachado de nazista e de querer criminalizar os movimentos sociais.
ZH – Na sua opinião, não existem pessoas que necessitam de auxílio no movimento?
Thums – Claro que existe. Jamais fui ou seria contra aquela pessoa que se organizou e está lutando pelos seus direitos. Sou contra os que praticam crimes previstos na Constituição.
ZH – O senhor é descrito como sendo uma pessoa de direita. Essa sua cruzada contra o MST não é ideológica?
Thums – Defendo o direito de propriedade que está previsto na Constituição.
ZH – O João Pedro Stedile, um dos líderes do MST, afirmou que as suas ações contra o movimento são ideológicas por estarem baseadas em informações fornecidas por um relatório feito pelo então coronel Waldir João Reis Cerutti, que durante a ditadura militar (1964-1985) se infiltrou entre os sem-terra usando o codinome de Toninho do Incra. O senhor concorda?
Thums – Tenho 50 volumes de documentos contendo informações que pedi sobre as atividades do MST. Elas vieram de várias fontes, entre elas o coronel Cerutti, o professor Zander Navarro, que foi aliado do movimento durante muitos anos, além de outras. São dados concretos. Stedile é uma pessoa inteligente, articulada e está tentando desqualificar o meu trabalho.
ZH – O senhor tem ideia de como transita o dinheiro público dentro das organizações que orbitam ao redor do movimento?
Thums – Pelas coisas que recolhi, tenho certeza que o dinheiro acaba financiando atividades do tipo Abril Vermelho (invasões de prédios, terras e trancamento de estradas).
ZH – Hoje o senhor é um espectador do movimento?
Thums – Tal qual outras instituições públicas, dentro de um regime democrático, o Ministério Público é uma instituição politizada. Resta pouco espaço para uma pessoa com o meu pensamento. Mas estou me articulando com um pequeno grupo de resistência.
ZH – O senhor está planejando nova ação contra os sem-terra?
Thums – No momento, não. Tenho convicção de que agi da maneira correta. Errei a estratégia da ação. Mas alguns coisas ficaram, como a proibição de marchas e de ações do movimento em oito municípios e o fim das escolas itinerantes. O Ministério Público Federal teve duas vitórias importantes agindo em pontos específicos, que foi conseguir a proibição de mais invasões da Granja Nenê, em Nova Santa Rita, e a apreensão de arroz plantado por arrendatários nos assentamentos da região. A estratégia é boa.
ZERO HORA
e Anti Foro de São Paulo.
Um comentário:
Caro Pedro, fantastica entrevista e que nos deixa com os ombros mais caidos e o coracao desolado pois nos coloca frente a frente com a realidade do MST, de Stedile e daqueles que tentam impedir suas acoes. Estou um pouco afastada dos comentarios por motivos contrarios a minha vontade mas espero eliminar esses motivos e voltar completamente. Voce interessou-se por um grafico la do meu blog, entao envio a voce a fonte do mesmo:http://www.divida-auditoriacidada.org.br/config/artigo.2009-03-06.0701477970/document_view. Boa sorte a voce e um abraco! Tereza
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