domingo, 5 de setembro de 2010

SOLENIDADE CÍVICA NO PAÇO MUNICIPAL "10 DE OUTUBRO"

SEMANA DA PÁTRIA


Por Pedro da Veiga (representando o Prefeito em 01/09/1980)

Iniciamos hoje as comemorações de mais uma Semana da Pátria, época propícia para reverenciarmos os heróis nacionais, cultuando suas memórias, ao mesmo tempo – em que paramos para refletir, analisando a nossa conduta e o nosso espírito de brasilidade.

É este um momento auspicioso para questionar sobre a nossa participação cívico-patriótica, no desenvolvimento de nossa Terra.

Em todo o território nacional, nota-se uma permanente demonstração de júbilo cívico, com a participação da mocidade das escolas, dos colégios, das universidades e das academias, com disponibilidade e vibrante amor pátrio; os desportistas se aprimoram, em memoráveis campeonatos, por afirmar o progresso nacional nas competições atléticas, e o povo, juntamente com as autoridades constituídas, irmanam-se numa inequívoca demonstração de patriotismo, mantendo acesa aquela chama cívica que surgiu no Ipiranga ao ecoar o grito varonil de Pedro I, no episódio da nossa Independência política, revelando que a principal virtude cívica é, sem dúvida alguma, o sentimento de apreço à Pátria.

Voltando no tempo, rememorando passagens históricas, acontecimentos marcantes de nossa Independência, notamos que “o Grito do Ipiranga não poderá jamais ser interpretado como uma surpresa, um imprevisto da história. Há nele a sazonada expressão de três centúrias de desenvolvimento de uma ideia em muitos talvez não sentida, mas viva em acontecimentos marcantes, palpáveis e impalpáveis.

Lembramo-nos da epopéia das Bandeiras. Nela vemos a vocação lusitana dos descobrimentos. O esforço hercúleo dos bandeirantes era a continuação, por terra, da audaciosa busca do desconhecido pelos navegadores no mar.

O portentoso patrimônio possuído tinha de ser conhecido.

A marcha das Bandeiras não tem paralelo na história de nenhum outro povo.

O espírito dos homens deixava-se encharcar do espírito da terra. Perlongando o curso dos rios, galgando as serras, violentando as florestas, fundando povoações, desde a costa litorânea às barrancas do Guaporé, do Paraguai, do Paraná, atingindo as cabeceiras do Rio Negro – os caminhantes já não carregavam consigo apenas intenções portuguesas, mas era a própria terra nova que neles se entranhava e um novo sentimento, talvez imperceptível, se instalava nas almas. Uma outra pátria se surpreendia e se anunciava na paisagem, nas distâncias, no âmago dos homens. Nas noites de pesado silêncio dos sertões – longínquos, o canto soturno das aves e o rugir das feras soavam como clarinadas da anunciação de um mundo que não caberia na velha Metrópole.

A cada regresso, os relatos contaminavam outros homens, transmitindo-lhes as mesmas emoções, semeando a idéia, despertando um amor feito de novas dimensões e novos rumos. As Bandeiras, visando ao conhecimento pleno da terra descoberta, num arremesso de posse, faziam-se germens de uma determinação que mais tarde se traduziria num gesto definitivo. Mas tinha de ser assim, com vagar, uma Pátria nascendo de outra Pátria, uma personalidade nova valorizando os próprios valores de que provinha. A Nação brasileira, antes de configurar seu Poder Nacional, buscava-se anímicas construções, consubstanciando essências que em outras civilizações demandaram milênios.

Já com outro teor, mas determinando novas previsões em torno de uma perspectiva que se faziam nítidas, manifesta-se com eloqüência o que ocorre na expulsão do invasor holandês. O fato histórico, em si em tudo anunciando que dentro em breve nossa Pátria iria despertar consciência de Nação, sendo um feito desenrolado sob a égide lusitana, entretanto já conduzia toda a marca da Terra, a substância candente das forças que emanavam da natividade. O poder das armas e as estratégias luso-brasileiras encontravam sua força maior naquela consciência que, antes de ser uma reação contra a nossa condição de colônia, era o atendimento a um destino, que se expressava, congênito, no próprio descobrimento do Novo Mundo. Portugal, muito cedo, em que pese às reações que se fizeram irrelevantes no maciço dos fatos, compreendeu que sua grande missão, luminosa e sublime missão, era a de descobrir, criar e entregar. Descobriu mundos para o Mundo. Criou condições para novas Pátrias. Os portugueses que lutaram contra o invasor holandês viram então que a colônia havia feito mais do que a metrópole, pois que esta pouca apoiara uma guerra que ela se animara a empreender. Mas os brasileiros viram mais do que esse aspecto, pois os animavam forças profundas que não assistiram aos reinóis, eis que neles, os nativos, fulgurava o clarão de outros horizontes. Escreve Capistrano:

Venceu o espírito nacional. Reinóis como Francisco Barreto, ilhéus como Vieira, mazombos como André Vidal, índios como Camarão, negros como Henrique Dias, mamelucos, mulatos, caribocas, mestiços de todos os matizes combateram unânimes pela liberdade divina”.

Eram o Brasil. Três raças fundindo-se nos lineamentos de uma independência que viria 170 anos depois, porque era preciso que a história tecesse sob o ritmo de outros acontecimentos, entrelaçando-se na perfeita construção do porvir.

Esses dois aspectos da nossa história constituem o desencadeamento subjetivo da nossa Independência, porquanto outras manifestações como se programavam sob esse fulcro, tornando nítida, pelo amadurecimento, a nossa aspiração, na imarcescível marcha dos fatos.

Passada a euforia do triunfo sobre os holandeses, desentenderam-se pernambucanos e portugueses, digladiando-se com furor. A Insurreição Maranhense, ainda na área antes da dominada pelos holandeses, vai firmando a corrente dos movimentos nativistas. Assim a chamada Guerra dos Mascates em Pernambuco, a dos Emboabas, na zona da Minas, a revolta de Felipe dos Santos, a Inconfidência Mineira, a Conjuração Baiana.

Todos esses movimentos foram sufocados, mas o sacrifício precursor e o sangue de cada mártir mais fecundavam a idéia e ela preparava impávida e serena, o grande advento. O Grito do Ipiranga, portanto, é uma síntese, porque é confluência, desfecho e inauguração.

A Independência do Brasil, mais do que as explosões nativistas, mais do que a mecânica dos acontecimentos políticos da variada ordem que para ela convergiram, reside em elementos essencialmente espirituais. Uma simbiose singular os favorecia. De um lado, não há de negar, o gênio lusíada, sua experiência, seu tato e seu trato, dando-lhes a base da nossa formação social e histórica. Esse gênio continua a predominar em nossa mentalidade de povo, cf. cita Plínio Salgado, “oriundo de uma raça de idealistas, de guerreiros, de monges, de estadistas, de heróis e de santos, cuja característica é o sentido da mais ampla universalidade e cuja inspiração provém das mais puras fontes espirituais do Cristianismo”. De outro lado, o sentimento gerado pela terra e a consciência de missão histórica que cedo se estabeleceram ficando uma determinação.

É evidente que um instante como o da proclamação da independência tinha de ocorrer. Havia de formalizar-se um dia o que já era de fato na realidade das consciências. A persistirmos como colônia ou mesmo como reino unido seria enveredarmos para uma abstração e nenhuma abstração pode predominar sobre realidades humanas. Trezentos anos de Brasil haviam consolidado realidades novas, diferenciando inevitavelmente os grupos humanos, embora de essência comum.

Identifica-se a personalidade nacional brasileira. O gênio lusíada gerava o gênio brasileiro. Ora “o gênio de um povo exprime um caráter próprio, um modo de ser, uma tendência vocacional, uma consciência de missão histórica, uma aspiração a idéias que justificam a permanência e a sobrevivência da Nação”.

Então, “as nações nascem quando aquele caráter se define, aquele modo de ser se fixa, aquela tendência vocacional se revela, aquela consciência se determina e aquela aspiração se torna o móvel das ações políticas dos indivíduos e dos Estados. E as nações definham e morrem à proporção que vão perdendo o sentido de sua própria existência e encontram diante de si o vazio imenso de ideais a serem procurados”. Considerações do eminente pensador Plínio Salgado, que parecem adaptar-se como cadente justificativa da nossa Independência. O sete de Setembro sela um reconhecimento: fizéramos-nos aptos à emancipação, construindo os valores capazes de identificar nossa personalidade nacional.

Sem nos atermos, no plano das grandes participações humanas, sem distinguir os homens que integraram a Independência, nem mesmo o Patriarca, embora ele configure exatamente o gênio brasileiro a impulsionar o gesto português, queremos reafirmar neste instante em que iniciamos as solenidades do marcante acontecimento da vida nacional brasileira, que esta motivação toda, nos convida a refletir e meditar sobre os nossos sentimentos cívicos de brasilidade. Estamos sendo estimulados a pensar em nossos deveres de cidadãos responsáveis por esta jovem e gigantesca parte do mundo, que é o Brasil.

Individualmente estamos fazendo todo esforço possível para nos desenvolvermos. Queremos mais cultura, mais saúde, mais alegria, mais patrimônio, mais felicidade. Muito justo. Porém não é justo pensarmos apenas em nossas aspirações pessoais. O cidadão só se realiza pelo desenvolvimento da comunidade a que pertence.

Da comunidade nacional, da comunidade estadual e, mais particularmente, da comunidade municipal, onde vivemos, onde cada um deve desempenhar a sua tarefa, prestando a sua contribuição para o desenvolvimento. Será que estamos fazendo a nossa parte? As chances nos são dadas, é natural que nos interessemos em retribuir, colocando os nossos talentos a disposição para o serviço.

Somos todos responsáveis! O futuro depende de cada um e da união de esforço, principalmente dos jovens. Mais ainda dos jovens estudantes. Por que estão estudando? Seria apenas para ganhar o diploma e, com esse diploma, ganhar mais, para comprar tudo aquilo que lhes pareça útil à sua satisfação pessoal?

Ou será para fazer da cultura um instrumento de serviço a favor da comunidade? Acreditamos que os jovens, em maioria, sejam animados, sejam animados por ideais cívicos muito puros. É uma das características da mocidade esse desejo de servir. No entanto os moços correm o risco de modificar as suas tendências ao contato com influências menos edificantes.

Para passar do amor ao egoísmo não é preciso muita coisa, inclusive porque é mais cômodo ser egoísta. Basta pensar apenas em si mesmo, deixando de tomar conhecimento dos problemas coletivos.

No entanto, Senhoras, Senhores, Caros jovens. Os que se debruçam sobre os sintomas do nosso tempo não estão tranqüilos. Vivemos no Brasil uma hora positiva de construção, mas ante a afirmação de muitos, demais talvez, são os insensíveis, falhos de capacidade, sem expressão de vontade. Vegetam alheios a tudo, neles desaparecendo quaisquer entusiasmos. Insensíveis, conformam-se entregues à vulgaridade dos fatos, tão do gosto das inteligências primárias. Não distinguem os entendimentos infantis dos indivíduos vulgares da ação construtiva das mentalidades poderosas. Nessa passividade, preferem a mesquinharia das intrigas, pouco lhes importando os destinos da própria Terra em que nasceram. Quando muitos se fazem espectadores neutros, sem nenhum compromisso com as questões que estão a alertá-los para a participação.

Cabe aqui reafirmar, que a principal virtude cívica é o sentimento de apreço à Pátria e, como muito bem acentuou Olavo Bilac: “Negar a Pátria é negar toda vida social e moral. A Pátria é um elo, que se liga intermediariamente, com estes dois outros elos: a família e a humanidade. Negar um dos anéis é negar os outros. Quem não concebe a idéia de Pátria não concebe a do lar, nem a da solidariedade humana. Sem Pátria e, portanto, sem família e sem sociedade o homem anula-se”.

Por isto, esta é uma hora para os lidadores, os ativos, os afirmativos, os guiados pela inteligência. A eles cabe desdobrarem-se em face da conduta dos amorfos e opacos.

A eles cabe colocarem seus deveres de cidadãos, pelo bem estar da comunidade, tornando-se co-responsáveis pelo destino da Pátria.

Infelizmente na correria da vida, poucas vezes nos dispomos a meditar sobre a nossa responsabilidade cívica. Seria bom, porem que isto se tornasse um hábito e que se acentuasse principalmente em ocasiões como esta, em que os nossos sentimentos de brasilidade são despertados pela celebração de uma data marcante e auspiciosa na vida nacional brasileira.

Um comentário:

Maria Madalena Ribeiro Moleiro disse...

Olá.....
Parabéns, pela profunda reflexão sobre a Pátria...nossa "Pátria Amada Brasil".
Obrigada por compartilhar conosco.
Abraços Fraternais.
Madalena
Professora Multiplicadora
Núcleo de Tecnologia Educacional,
Naviraí-MS