segunda-feira, 12 de março de 2012

“BRINCADEIRA CRIMINOSA”


“A palavra transar está incorporada ao dicionário, sinônimo de relacionamento íntimo, sexual. Tem outra palavra, só que há muito registrada, é transir, que significa invadir, penetrar. De sons parecidos, transar e transir se juntam mesmo” – (Gudé).

Por José Eugênio Maciel

“Se você agir sempre com dignidade, pode não melhorar o mundo, mas
uma coisa é certa: haverá na terra um canalha a menos”
Millôr Fernandes
 
            Amarildo de Araújo Pereira está morto. Tinha 19 anos, foi enterrado onde ele vivia, em Rancho Alegre do Oeste. Rapaz de boa afeição, tinha problemas mentais, o que não o impedia de ser simpático e generoso. Vítima de uma “brincadeira criminosa”, expressão empregada pela família do jovem, ele estava em um bar da cidade quando passou a ser incentivado a beber, induzido intensamente por um grupo que pagou a bebida para se divertir. Na medida em que ingeria grande quantidade de álcool era motivo de zombaria, alvo de gargalhadas sobretudo desumanas, posto que feriram visceralmente a dignidade moral e física de alguém relativamente incapaz e naquelas circunstâncias mais vulnerável ainda.
         O fato, noticiado pela Tribuna no domingo passado, informa que Amarildo ainda foi levado com vida para a vizinha cidade de Goioerê, mas não suportou o coma alcoólico e retornou em um caixão.
         O inquérito está aberto e um vídeo, já em poder da Polícia, é objeto de investigação. Evidentemente que a família clama por Justiça. O fato mantém enorme repercussão na pacata e querida Rancho Alegre do Oeste, dada a maneira preparatória, ânimo de fazer e a torpeza em praticar tamanha covardia e hedionda conduta criminosa, além de covarde.
         Indignar-se e associar solidariamente à família enlutada é o mínimo que se pode fazer.  Embora este Jornal tenha dado adequadamente a machete e além da expectativa tangente aos desdobramentos do fato, existe uma  característica comum entre Amarildo e o Jorel, recentemente abordado por esta Coluna. Em ambas as situações um grupo de covardes se aproveita de alguém com limitações mentais, criando ou se aproveitando de situações para zombar e satisfazer instintos sórdidos. Andarilho ou pessoa pobre, tais fatores, bem como a condição mental restrita a ponto de aquelas pessoas não terem o correto discernimento e capacidade de reação.
         Mais do que esperar, exigir é que o se impõe no intuito de a Justiça seja efetivamente  exercida, a de condenar os que estiveram no bar, seja pela ação absolutamente repulsiva e mesmo para aqueles que assistiam a tudo e nada fizeram no caso de ser sido possível evitar. Tão certos da impunidade provável que julgaram estar seguros, é que filmaram aquela prevalecida violência,  “brincadeira criminosa”, destituída de qualquer graça e impregnada de perfídia, no mais cruel significado.

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