quarta-feira, 24 de março de 2010

RETRATO, PRAÇA, TEMPO PASSA

José Eugênio Maciel
“Na minha cidade, nos domingos de tarde,
as pessoas se põem na sombra com faca e laranjas,
Tomam a fresca e riem do rapaz de bicicleta,
a campainha desatada, o aro enfeitado de laranjas:
‘Eh bobagem!’
Daqui a muito progresso tecno-ilógico,
quando for impossível detectar o domingo
pelo sumo das laranjas no ar e bicicletas,
em meu país de memória e sentimento,
basta fechar os olhos:
é domingo, é domingo, é domingo.
Para comer depois – Adélia Prado

O sol brilhava intensamente, lindos eram os seus raios. Céu límpido com azul magistral que o maior dos artistas não conseguiria retratá-lo numa tela. As árvores balançavam suavemente, o som do vento era ouvido juntamente como o canto dos pássaros em voos suaves a movimentar asas bem abertas diante das branquinhas nuvens. Afinal, era domingo, numa manhã quando Campo Mourão espreguiçava, a cidade estava acordando.

Após ter comprado jornais, sento em um dos bancos próximo ao chafariz e o coreto. Logo vem uma reminiscência descortinando um dos quadros familiares mais marcantes, o qual eu não me canso de olhar. Narcisismo à parte, eu apareço na foto no colo da minha mãe, bem bebê.

A dona Elza arrumou a filharada para a pose, ao lado do meu pai Eloy e todos os meus irmãos (o Euro e o Enio ainda não tinham nascido). Formávamos uma escadinha, pai e mãe, eu no colo, Maria, Egidio, Eloyzinho, Rosira, Edna, Ednira, Elio, Elzinha e Edni.
Que tempos eram aqueles? Bem bebê, não entendia nada. Dando um salto no tempo, hoje estou praticamente do mesmo modo, sem entender o tempo e o como vivemos. Trazendo à tona o artista que não poderia pintar o céu de singular azul, o pintor conseguirá colocar na tela o chafariz e o coreto, ali presentes há décadas.
Em meio a saborosa e colorida contemplação (preto e branco conforme as minhas reminiscências) das praças, pego um dos jornais para ler quando ouço a voz de uma criança andando lindamente (procurando equilibrar-se) em direção ao chafariz. A mãe vem logo atrás, “cuidado, filho!” Eis o destino, que pode ser matreiro ou sábio, que tecemos ou somos por ele tolhidos, um destino que faz brotar tempos diversos que se perpassam: a mãe pede ao pai para tirar foto dela com o bebê, depois é ela que irá fotografá-los. Ofereço-me para clicar o jovem casal e a criança. Eu, que tinha um dia me perguntado, quem teria tirado a foto para meus pais? Provavelmente um fotógrafo profissional, um amigo ou um transeunte.
Tento ler, mas é como se o chafariz estivesse ligado, aquela água que preenche o recipiente é a mesma que novamente será espalhada do alto, com os pingos fininhos molhando o rosto da gente. E como se no coreto a Banda Municipal estivesse tocando as retretas encantadoras. Apanho os jornais e sigo para casa. Os pingos são minhas lágrimas que caem no rosto enrugado, com saudade de ser menino, mais ainda do meu pai, tomara que ele esteja a me olhar numa daquelas nuvens, e que eu possa – não apenas menino, mas homem – ainda ter o colo da minha adorada mãe.

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Como é gostoso, Maciel, a gente voltar ao passado, recordar bons tempos da infância e juventude e deixar fluir reminiscências, que jamais esquecemos e que alenta o nosso coração, para enfrentarmos a realidade obscura dos dias da atualidade, complicados e cheios de imprevistos, com a insegurança campeando nossos lares, perturbando a paz e o sossego, bombardeando os nossos jovens com drogas, que formam agrupamentos e vão se destruindo uns aos outros sem a menor piedade, tolhendo-os de vivenciarem momentos alegres, divertidos e descontraídos, como você menciona nessa linda mensagem que nos lega, para avivar nossa mente, de como é importante o viver em família, sempre invocando a presença de Deus para o nosso conforto. Parabéns e continue nesse trilho de raciocínio, faz bem para o intelecto essa interatividade, “nesse fenômeno de linguagem popular e linguagem poética o fato que nos parece mais curioso é o do aproveitamento, no curso da vida de cada um...” de momentos de retrospecção, abrindo a mente da gente para a necessidade de se readaptar aos ensinamentos que a natureza e nossos pais nos ofereceram. Abraços: Pedro da Veiga.

Um comentário:

gaia barros disse...

Obrigada!Ao prestigiar os que amo,me oferece a oportunidade de dizer que a mãe que você enalteceu em texto belíssimo e comovente deu ao mundo um ser humano da melhor qualidade.Como sempre, você é singular!Um grande abraço!