domingo, 10 de junho de 2012

PROTÓGENES, O CAÇADOR QUE VIROU CAÇA


O risco que corre a caça corre o caçador. O deputado e ex-delegado Protógenes Queiroz está correndo mais riscos de ser imediatamente e severamente punido, que os criminosos que ele tentou alcançar na famosa operação Satiagraha. Acusam-no com gravações feitas pela Polícia Federal, de ligações suspeitas e promíscuas com o araponga, Dadá, que também é o braço de direito do contraventor Carlinhos Cachoeira. Na sua cobertura Daniel Dantas está dando risadas.
DO OUTRO LADO - Protógenes, desconforto e ira, na situação de investigado-Foto: Sergio Lima/Folhapress
O deputado e ex-delegado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), o Xerife implacável, que presidiu a famosa e barulhenta Operação Satiagraha, passou de caçador destemido a caça raivosa. A mudança deve-se ao relatório do deputado Amaury Teixeira (PT-BA) apresentado na quarta-feira (6) no Conselho de Ética da Câmara defendendo que o delegado seja investigado por indícios de quebra de decoro parlamentar.
Protógenes é acusado de ter envolvimento com um dos integrantes da quadrilha do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
O parecer será analisado, provavelmente, na próxima terça-feira (12) e se aprovado Protógenes, que representa o seu partido na CPMI do Cachoeira, vai ficar na estranha situação de investigado investigando.
A imprensa revelou que Protógenes colérico, ao saber do relatório, usou o microblog Twitter, para atacar o deputado que aceitou a representação do PSDB:
"O parecer do deputado Amauri do PT chegou com Corpus Christi, véspera de quinta santa, diz que Jesus reuniu seus apóstolos para a Última Ceia. Traição!"
Assumindo a postura de paladino perseguido comenta adiante: “talvez o erro ético maior foi requerer a CPMI do Cachoeira e revelar os ladrões dessa Republica e aqueles que se revelam no processo”.
E voltou às baterias novamente contra o relator:
“Um passarinho me contou agora que o Deputado Amauri do PT cumpriu tarefa do PT em acordo com o PSDB. Querem desviar o foco da corrupção da Delta”.
Protógenes semeou ventos e colhe tempestades. Os inimigos que arrebanhou na operação Satiagraha (banqueiros, diretores de banco e investidores, que acabaram presos e processados) são perigosos, influentes e vingativos, o suficiente para alcançá-lo, onde quer que esteja.
O delegado, porém facilita a vida dos inimigos, pois é um justiceiro arbitrário, incompetente e falastrão. A Operação Satiagraha (“firmeza na verdade” em sânscrito), presidido por ele, está repleta de excessos e grosseira irregularidades na obtenção das provas, entre elas a colaboração imperdoável de arapongas. 
FACA DE DOIS GUMES - Dadá, o araponga,
servia igualmente o contraventor
Carlinhos Cachoeira e o delegado
Protógenes Queiroz
Protógenes é acusado formalmente por ter sido flagrado, em escutas telefônicas da Polícia Federal, numa suspeitíssima relação com o ex-sargento da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, o araponga Dadá, o homem encarregado de corromper servidores de órgãos públicos federais e fazer grampo ilegal, a serviço organização criminosa gerida por Carlinhos Cachoeira.
Dadá, porém, também tem uma ligação com o delegado, pelo menos desde que colaborou (?), de forma clandestina, com a operação Satiagraha.
Sobre o assunto o ex-deputado Roberto Jefferson disse no seu Blog:

”Esta relação de Protógenes, o delegado da Satiagraha, e Dadá, o araponga do bicheiro, é assunto mais do que gordo, suficiente não só para um processo no Conselho de Ética, mas também para encher uma CPI inteira. Afinal, alguém precisa investigar o investigador. Protógenes perdeu o controle e mostrou ao Brasil o quanto de informalidade, ilegalidade e interesses pessoais escusos envolvem as operações midiáticas da PF”.
O pedido de investigação sobre a possibilidade de quebra de decoro do deputado Protógenes Queiroz, feita pelo PSDB e aceita pelo relator, tem como ponto de partida reportagem do jornal O Estado de São Paulo publicada em abril. De acordo com o periódico, Protógenes foi flagrado, por grampos da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em pelo menos seis conversas suspeitas com Dadá, o araponga.
 “A ligação de Protógenes com Dadá permite questionamentos sobre sua autoridade para integrar a CPI. Os diálogos revelam o empenho do deputado, delegado licenciado da PF, em orientar Dadá na investigação aberta contra ele próprio, no ano passado”, comenta a jornalista Rosa Costa, para o Estadão.
Numa das conversas, Protógenes lembra ao araponga para só falar em juízo. "E aí, é aquela orientação, entendeu?, diz ele, antes do depoimento de Dadá. As ligações foram feitas para o celular do deputado. Fica evidente a preocupação de Protógenes em não ser visto ao lado de Dadá. Eles sempre combinam encontros em locais distantes do hotel onde mora o deputado, como postos de gasolina e aeroportos.
Com uma imagem de quem se tornaria o "xerife" da Câmara, Protógenes foi eleito graças à carona que pegou nos 1,3 milhão de votos do palhaço Tiririca (PR-SP) para preencher o total de votos exigidos pelo quociente eleitoral de São Paulo.
Nos áudios da Monte Carlo, Dadá trata o deputado por "professor" e "presidente" (do inquérito). Uma das interceptações mostra Protógenes sugerindo a Dadá que o encontre num novo hotel. "Não tô mais naquele não", avisa, num sinal de que os encontros são constantes. No grampo de 11 de agosto de 2011, acertam o local da conversa, mas se desencontram. "Tá onde?", pergunta. Dadá responde: "Em frente da loja da Fiat", ao que o deputado constata: "Ah, tá. Estou no posto de gasolina". "No primeiro?", indaga Dadá. "Isso" confirma o deputado.
Protógenes agora tem um encontro marcado, às claras e a luz do dia, com o Conselho de Ética da Câmara.

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