segunda-feira, 4 de junho de 2012
PESSOAS PEQUENAS
Por João Bosco Leal
"Se o passado de uma pessoa fosse o seu passado, se a dor dessa pessoa fosse a sua dor, se o nível de consciência dela fosse o seu, você pensaria e agiria exatamente como ela. Ao compreender isso, fica mais fácil perdoar, desenvolver a compaixão e alcançar a paz." - Eckchart Tolle.
Procurando conhecer seu passado, saber de suas alegrias, tristezas e dores, os especialistas tentam entender o comportamento de pessoas que possuem algum distúrbio psicológico, desde as bipolares até as permanentemente ou por um período desequilibradas, que passam por momentos de ansiedade, de euforia, ou agem de forma distinta da socialmente esperada.
Sem nenhum conhecimento técnico sobre o assunto, imagino como deve ser difícil desvendar mistérios e, através do entendimento de traumas passados, buscar ajuda para pessoas que por algum motivo se tornaram o que são ou como se comportam.
Penso, entretanto, que certos comportamentos não podem ser explicados, ou desculpados por experiências anteriormente vividas, pois tenho conhecido pessoas que brincando ou sérias são infantis, desagradáveis ou até agressivas em sua vida social, no relacionamento com terceiros.
Algumas, emocionalmente desestabilizadas, tomam atitudes que não acrescentam nada à vida de ninguém ou à própria, mas outras são realmente más e fingindo-se emocionalmente fracas, conscientemente articulam criando falsas histórias para prejudicar pessoas.
Outras, mesmo fisicamente grandes e fortes, são pequenas ou até insignificantes em suas atitudes e caráter e aproveitando-se de todos saberem de seus problemas, agem como se estivessem desequilibradas mesmo em seus momentos de sanidade.
Independentemente de sua situação cultural, educacional, econômica ou social, elas normalmente terminam sua história com vergonha de seu passado ou percebendo que nada de útil construíram e, quando fazem uma autoanálise sentem-se frustradas e, no seu mais profundo íntimo, percebem sua inutilidade.
Sempre me disseram: "Não espere atitudes dignas ou nobres de pessoas que são pobres de espírito" e realmente não é difícil perceber que pessoas assim que tentam impor suas ideias, desejos e fantasias mesmo sabendo-as indignas, com gritos, lutas e todas as armas - geralmente sujas - que dispõem e em seus momentos de lucidez.
Posteriormente, percebendo o que fizeram muitas vezes se arrependem, mas geralmente agiram com tanta sujeira e covardia que seus pedidos de desculpas, súplicas não a tranquilizarão, pois o que te deixa em paz e feliz é o que silenciosamente diz para si mesmo e o permite dormir tranquilo, e não o que diz de sua boca para fora.
Pessoas assim, que nunca criaram ou produziram nada, que viveram à custa, explorando ou tentando prejudicar outras, cultivam ressentimentos e mágoas, não permitindo a cicatrização de suas feridas e não percebem que com suas calúnias e difamações, provocam o crescimento daquelas que pretendiam prejudicar, pois como as ostras que da cicatriz de suas feridas produzem pérolas, os feridos por palavras rudes, acusados injustamente, que receberam duros golpes ou foram injustiçados, sempre se fortalecem com suas experiências.
Esse fortalecimento, o crescimento humano, machuca ainda mais aqueles que vivem de articulações maldosas com a finalidade de prejudicar aqueles que em seu íntimo, admiram exatamente por sua força.
Os fortes não se igualam a pessoas que parecem árvores secas ou ostras vazias que, por nada produzirem, odeiam os frutos alheios.
*João Bosco Leal Jornalista, escritor e produtor rural. -21-05-2012.
SEGREDOS DE GAVETA
Por João Bosco Leal
Com o veículo parado diante de um semáforo, percebi uma pessoa correndo por uma avenida onde eu entraria assim que o mesmo voltasse para o sinal verde, com as duas mãos na cabeça e dirigindo-se ao centro do cruzamento da rua em que eu estava com a avenida, onde haviam diversos objetos esparramados pelo chão.
O homem começou então a recolher e colocar na calçada tudo o que podia em meio ao movimento de carros que por lá passavam, uns desviando, outros passando por cima de objetos ou buzinando, vi que eram caixas com os mais variados pertences.
Identifiquei um espelho de mão quebrado, algumas canetas, papéis voando em meio a cada um dos veículos que por lá passavam, uma escova e um secador de cabelos, um boné, camisetas, blusas, enfim, uma variedade de coisas que me deixavam intrigado sobre o que teria ocorrido.
Algumas caixas pretas de plástico estavam quebradas e seus pedaços esparramados pelo chão quando veio outro homem, provavelmente companheiro do primeiro, pois também desceu a avenida correndo do mesmo local de onde viera o outro e com este foi conversando e já ajudando a recolher mais coisas.
O semáforo abriu e enquanto cruzava lentamente a avenida, já mais próximo do local, pude perceber melhor o que ocorrera. Um pequeno caminhão levava uma mudança e quando fez a curva saindo da rua onde eu estava para entrar na avenida, de sua carroceria caíram dois gaveteiros de plástico que se quebraram ao bater no chão.
Imediatamente lembrei-me de um conto que havia lido há muito tempo onde um morador de um edifício fazia sua mudança de um apartamento para outro no mesmo prédio e pouco a pouco levava pessoalmente seus pertences. As roupas eram transportadas nos próprios cabides, caixas levavam panelas pratos e talheres, pequenos objetos e tudo o que pudesse levar com os próprios braços ou no carrinho de compras do prédio.
Em uma dessas vezes entrou no elevado já cheio de pessoas carregando uma gaveta de seu criado mudo com tudo o que tinha dentro dela, mas que sequer tinha olhado o que era.
Segurando-a com as duas mãos, notou que as pessoas olhavam para a gaveta com tanta curiosidade que também dirigiu para ela o seu olhar. Viam ali expostas muitas de suas coisas de uso pessoal, como um cortador e uma lixa de unha, um chaveiro antigo, um estojo de fio dental, uma tesoura de unhas, uma caneta, bilhetes que nem lembrava mais quem os havia enviado, vários envelopes de preservativos e outros objetos inconfessáveis. Uma situação constrangedora, que não havia mais como ser reparada ou escondida.
Os dois casos me fizeram pensar em como acabamos guardando histórias em gavetas. Quantos papéis, documentos, bilhetes, lembretes, fotos ou diversos outros objetos guardamos em nossas gavetas e nunca mais vemos? Quantas vezes ao abrir uma gaveta nos surpreendemos, com objetos que nos fazem lembrar coisas passadas que já haviam sido apagadas de nossa mente ou nos mostram algo que sequer lembrávamos possuir? Quantos segredos podem ser revelados em uma gaveta de criado mudo?
As gavetas são como um arquivo morto de nossas vidas. De tempos em tempos é necessário reabri-las e delas retirar o que não serve mais, que não necessitamos ou que já não será usado.
Nelas encontramos coisas que gostaríamos ou não de lembrar e objetos que mesmo não nos sendo úteis, servirão para outras pessoas que deles necessitam. Uma ótima oportunidade de realizarmos atos de caridade, tão necessários na vida de todos.
Abra suas gavetas e reveja sua história, jogando fora as coisas sem valor, doando o que outros necessitam e lá deixando só o que realmente merece ser lembrado e guardado.
*João Bosco Leal Jornalista, escritor e produtor rural. – 14-05-2012.
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