segunda-feira, 4 de junho de 2012

IRRITADOS "DON QUIJOTES"


Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 13 de maio de 2012.


 Don Quijote de La Mancha
(Miguel de Cervantes Saavedra)

Hemos de matar en los gigantes a la soberbia; a la envidia, en la generosidad y buen pecho; a la ira, en el reposado continente y quietud del ánimo; a la gula y al sueño, en el poco comer que comemos y en el mucho velar que velamos; a la lujuria y lascivia, en la lealtad que guardamos a las que hemos hecho señoras de nuestros pensamientos; a la pereza, con andar por todas las partes del mundo, buscando las ocasiones que nos puedan hacer y hagan, sobre cristianos, famosos caballeros.

Meu último artigo intitulado “Acalmai-vos Don Quijotes” provocou uma enxurrada de e-mails, alguns apoiando minha posição outros a criticando. Minha conduta civil e militar me autoriza a rebater àqueles que não gostaram de minha atitude sejam civis ou militares.

Carta Aberta

Nos idos de 1986, escrevi uma Carta Aberta, que foi devidamente identificada e assinada, pelo então Capitão Hiram, Comandante do Curso de Engenharia do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva de Porto Alegre (CPOR/PA), e enviada à Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), RJ. A missiva tinha como alvo o então Ministro do Exército Leônidas Pires Gonçalves, e nela eu tecia criticas à sua administração que se preocupava exclusivamente com instalações físicas e equipamentos, esquecendo-se da peça fundamental que move os Exércitos - o Homem.
Sempre afirmei a todos que privam de minha amizade, que a secular Instituição Militar a que pertenço era muito mais importante que minha própria carreira, não me importava em absoluto com o que aconteceria comigo e sim que medidas saneadoras fossem implantadas pelo alto escalão, o que finalmente ocorreu, embora algumas autoridades tenham afirmado, aleivosa e categoricamente que as mesmas, desde há muito, faziam parte de seu planejamento. A motivação de meu protesto não foi econômica, midiática ou qualquer outra que não fosse a de mostrar aos nossos superiores que a tropa ia mal e que precisava, sim, ser mais bem equipada, adestrada, mas, fundamentalmente, valorizada. Achava eu, na época, que os jovens capitães da EsAO fossem capazes de se manifestar corajosamente e alterar os rumos da política preconizada pelo Ministro Leônidas, ledo engano. Os tempos eram outros e, infelizmente, o idealismo e o desprendimento de outrora fora substituído pelo pragmatismo e pelo carreirismo.
Os resultados de minha desdita foram uma transferência para Aquidauna, MS, e vinte e dois dias de prisão. Guardo com carinho minha única punição como Oficial do Exército Brasileiro. Considero-a um elogio posto que o próprio Comandante do CPOR/PA assim se referiu em Boletim Reservado: “Ainda que movido por elevados ideais...”.
Até hoje agradeço a Deus os felizes momentos decorrentes do fato que me permitiram estabelecer novas amizades, robustecer antigas, além de ser estimulado por empresários locais a me tornar canoísta profissional e posteriormente, graças a isso, sagrar-me campeão Mato-grossense, em 1989.

Anonimato

A internet não existia naqueles tempos e as cartas anônimas enxameavam, raros foram os corajosos que “deram a cara a bater”. Nunca fui homem de me entrincheirar nas sombras do anonimato, na minha carta devidamente assinada foram digitados meu nome e identidade. Hoje vejo alguns companheiros, que naquela época esbravejavam furiosos, mas se refugiaram nas trincheiras temendo as consequências, partindo hoje para o combate virtual protegidos pelo manto da “reserva”.
Senhoras e Senhores, de que adiantaria nosso Comandante partir para o confronto? Todos sabem quais seriam as implicações. É muito fácil criticar quando não se está em uma função de Comando delicada como a de nosso caro Comandante.
Recebi um e-mail do grande amigo General Carlos Alberto da Cás que faço questão de reproduzir, depois de ter sido devidamente autorizado por este.

Em defesa do constrangimento do Cel Gobbo
Fonte: General Bda R1 Carlos Alberto Da Cás

Para ser justo, escrevo sobre uma carta resposta dirigida ao Cel Gobbo, onde o autor discorda, em parte, de seus termos. Na minha visão, ele se ateve a nuances secundárias do texto, distanciando-se do conjunto do pensamento do Coronel. Não vou seguir a perícia dele de fatiar o texto em sua crítica.
Apresento apenas um exemplo. No campo assimétrico atual, seja nos conflitos, no meio político, diplomático, no empresarial, nas relações humanas, entre outros, os líderes passam por contínuas apreensões. Percebem que nem tudo pode ser feito de imediato, sob apenas a maestria de sua batuta. O mundo hoje está cada dia mais assimétrico. Assim, para atingir metas é preciso ser eficaz, ter foco, usar muita inteligência emocional, às vezes estratégia indireta, paciência e mesmo o inevitável silêncio conjuntural, usar a arte de conviver com diferenças, entre outras práticas de gestão moderna.
O Cel Gobbo, com certa emoção, simplificou tudo isso, principalmente em relação ao ambiente sensível, por certo vivido pelo nosso comandante, usando o termo “constrangimento”. O autor da aludida resposta considerou apenas que “constrangimento” não é próprio e digno da linguagem militar,... que há que se impor e se fazer respeitar (nesse caso se referia a quem?).
Além, induziu que se pratica a política da mudez permanente. Falou que criticar “positivamente” (estranho isso?) o Comandante, sem ofender não é condenar. Entretanto, o Coronel não falou de opiniões diferentes, referiu-se, claramente, a mensagens enfurecidas e emotivas demais. Com efeito, muitos já viram críticas infundadas ao nosso comandante e chefes pela internet e pessoalmente. Do mesmo modo, sabemos que no nosso saudável meio há muitos sensatos, coerentes, justos, mas há, porém doses de emoção diluindo a razão, talvez pela presença de algum recalque, insatisfação financeira, alguma raiva, visão estreita corporativista, entre outras ansiedades. Enfim, não é difícil perceber o verdadeiro “constrangimento” do Cel Gobbo, bem claro em uma de suas frases...
O momento é de cerrar fileiras em torno de nossos Chefes e de nos unirmos na reserva, fazendo nossa parte. Que essa parte não se limite a trocar entre nós e-mails candentes e enfurecidos, mas sim que procuremos encontrar maneiras de levar nossa voz além de nossas fronteiras.

Livro

O livro “Desafiando o Rio-Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br) e na AACV – Colégio Militar de Porto Alegre.
Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:
Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.

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