sábado, 9 de junho de 2012

UMA MÃO NO CAIXA


Mesmo sendo a última que morre, a esperança é a primeira que ressuscita” – (Gudé).
Por José Eugênio Maciel
“Tenho que ter paciência para não me perder dentro de mim.
Vivo me perdendo de vista”.
Clarice Lispector
            Provavelmente para não dar força ao adágio, “a outra fila é menos lenta do que a minha”, é que se estabeleceu uma fila única, para que aquela sensação não mais perturbe os “filantes”. Como de hábito aqui relatado em outras ocasiões, quando sei que irei enfrentar uma fila, levo um livro. Nesta semana passada não foi diferente, estava eu lendo na fila de um banco.
       Quando estava se aproximando a minha vez, para não ficar desatento, fecho o livro e passo a observar uma jovem já no caixa. Chamou a minha atenção o fato de o caixa estar separando toda a papelada dela e a moça apenas devia estar observando a gentil atenção dele. O meu ângulo de visão só permitia vê-la de e pelas costas, com os braços dela livre e outro parecendo apoiar-se no balcão. Em um primeiro momento achei demais, seria muito cavalheirismo o caixa estar organizando os pagamentos, contando o dinheiro e arrumando tudo novamente para ela, no caso colocando o que já fora pago na pasta que a cliente trazia. Não me impacientei, somente achei estranho.
         Com a movimentação mais um pouco da fila, o meu ângulo de visão mudou, e então pude ver que a moça estava usando uma tipóia, o braço dela estava imobilizando e bem junto ao corpo, de modo que ela não podia usar a mão esquerda. O caixa estava absolutamente certo em auxiliá-la.
            A vida é assim, nosso ângulo de visão nos permite ver até claramente o nosso lado, ao mesmo tempo em que não nos possibilita observar inteiramente os outros lados. Quase que eu, que tenho o nome de José, fiquei como um “João sem braço”. 

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