segunda-feira, 4 de junho de 2012

SABER DAR UMA NOTÍCIA RUIM


“Linda lenda lida da Leda linda. Ou: Lida a lenda linda da linda Leda” (Gudé).
Por José Eugênio Maciel
“Notícia ruim chega rápida e a cavalo, muitas vezes trazendo
 na garupa boato que se espalha ao longo do trajeto,
sem que seja preciso cavá-lo”
Estive Nólocal (b. d. C.)

          Nos cafundós do Judas, onde ele perdeu as botas e no tempo em que a comunicação era mínima e precária, existia uma unidade militar. Pelo telégrafo chega a informação: a mãe de um  soldado tinha morrido. O soldado que servia as forças armadas na Amazônia, não teria condições e tempo de comparecer ao velório da progenitora, no longínquo Rio Grande do Sul.
         Surge uma delicada questão, como dar a notícia fúnebre ao jovem soldado. Enquanto comandantes refletiam como e por quem seria dada a notícia da morte, chegava outro comandante, justamente da tropa que fazia parte o soldado que já era órfão sem saber:
           -  O soldado é da minha guarnição, eu mesmo devo dar a notícia! - afirmou o comandante.
         Os outros comandantes pouco puderam conter o espanto e a preocupação. É que o comandante era muito enérgico e tinha uma objetividade seca, direta, incisiva, enfim ele se expressava sem suavizar em nada, “curto e grosso”. Assim o risco era grande, à falta de sensibilidade.
           Os demais comandantes simplesmente fizeram o que lhes cabia naquele delicado momento,  observar como o ríspido e implacável colega de farda daria a noticia ao pobre soldado:
             - Soldados, sentido! - Ordenou o comandante.
            - Soldados que tem mãe, dar um passo à frente! - Novamente ordenou o comandante.
          Muitos soldados então, atendendo a determinação do comandante, deram um passo à frente, o que também fez o soldado que já era órfão, mas ainda sem saber que perdera a mãe.
        O comandante, que já se posicionava bem diante do soldado órfão, no momento em que o jovem dava também o passo adiante, sentiu a mão pesada do comandante tocar o peito, barrando-o, quando então o comandante disse:
          - Você não! Nada de dar um passo à frente!
         A anedota, se boa ou não, serve para ilustrar a situação de se ter que dar uma notícia ruim, como comunicar uma tragédia, sendo a maior delas a morte de alguém na qual a família do morto precisa saber. Mais ainda quando ela inteiramente inesperada, como a de um acidente.
           Os médicos lidam com uma situação peculiar a profissão. Tantas vezes são eles os portadores da má notícia, quando familiares aguardam o desfecho de uma intervenção delicada, arriscada. A notícia é ruim em dois aspectos, o médico está ligado ao fato, ou seja, é ele que buscou de todos os meios salvar o paciente e, sem conseguir, ainda tem que noticiar a morte. Sendo o médico um profissional e também um ser humano, é comum nos grandes centros médico-hospitalares, o médico ter que dar a notícia de maneira humana e respeitosa e ter que também logo se retirar porque o dever o chama, quando será exigido dele afastar-se do envolvimento emocional para voltar a se concentrar profissionalmente.
            Estar preparado para noticiar a morte exige-se certo conhecimento como o senso de oportunidade prévia junto a quem irá receber a notícia. E tudo faz lembar a já conhecida piada sobre a morte de um gato de estimação. A notícia não poderia ser dada de supetão, como a do comandante. O melhor a fazer foi o de começar a dizer que o “gato subiu no telhado...”.-(21/05/2012).

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