quarta-feira, 28 de abril de 2010

CLIPAGEM DE JORNAIS DE ONTEM

27/04 - O jogo duplo do Planalto no trato com os sem-terra
 Análise: (*)-Rui Nogueira - O Estado de S.Paulo
Em Brasília existem duas orientações para pautar a relação do governo Lula com os movimentos dos sem-terra.
Para o trato público, em geral - audiências, solenidades, entrevistas e discussões sobre políticas estatais -, segue-se a regra da "não criminalização dos movimentos sociais", o discurso de que nenhum governo deu "tanta atenção" e "dialogou tanto" com os sem-terra, nenhum outro presidente tirou e botou tantos bonés do MST, Contag e outras associações de agricultores com ou sem terra e sem-terra que não querem terra, mas engrossam o movimento pró-socialismo do líder João Pedro Stédile
A ordem, igualmente genérica, é preservar ao máximo a "relação fraterna" com os sem-terra, "não satanizar" os seus líderes. Mas é tudo uma política de relações públicas.
Quando os sem-terra viram as costas e pegam os elevadores de saída, quando os ministros e secretários aliviam os nós das gravatas e desabotoam o primeiro botão dos colarinhos, aí vem o desabafo e a ordem: ir enrolando os sem-terra, não deixar de exercer a boa convivência, espargir uns trocados que mantenham os movimentos ativos, distribuir umas cestas básicas e apressar a inscrição no Bolsa-Família. E nada além disso porque o governo sabe que assentar, assentar e assentar a reboque das novas invasões equivale a jogar dinheiro num buraco sem fundo.
O governo fala em investir nos assentamentos dos verdadeiros agricultores, fala em recheá-los com o melhor em matéria de assistência técnica e fala em convênios com a Embrapa e outros órgãos que possam dar independência econômica às famílias. Fala, a portas fechadas, mas não tem coragem de admitir junto às lideranças do MST que esse é o desejo.
Stédile sabe desse jogo duplo do governo. É por isso que, vez ou outra, ele desce a língua contra o próprio governo Lula. E quando se sente acuado leva o movimento a descer a língua e o braço em invasões que são, na prática, o preço do jogo duplo que o Planalto é obrigado a pagar.
(*)-RUI NOGUEIRA É CHEFE DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

27/04 - Guerrilha teria enviado dinheiro às Farc
 Jamil Chade, CORRESPONDENTE / GENEBRA - O Estado de S.Paulo
Três paraguaios com status de refugiado dado pelo governo brasileiro estariam transferindo 30% do que arrecadam com os sequestros no Paraguai para as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). A ONU promete investigar o caso e determinar por que o Brasil concedeu refúgio aos três.
A acusação do envolvimento dos refugiados com as Farc faz parte do pacote de informações que o Paraguai entregou ontem à ONU, pedindo que ela pressione o Brasil a mudar sua posição. Ontem mesmo, a organização pediu informações para seu representante no Brasil sobre o caso.
Há seis anos, os paraguaios Juan Arrom, Anuncio Martí e Víctor Colmán, ex-integrantes do grupo guerrilheiro Exército do Povo Paraguaio (EPP), receberam refúgio do Brasil, benefício concedido pelo Conselho Nacional de Refugiados (Conare). Com a proteção, eles não podem ser extraditados para o Paraguai. Assunção alega que os três são fundadores do EPP e coordenam as atividades do grupo no Brasil.
Dois deles moram em Curitiba e o outro, em Campo Grande. No sábado, o Congresso paraguaio aprovou, a pedido do presidente Fernando Lugo, o estado de exceção em cinco Departamentos (Estados), para facilitar o combate ao EPP.
Ontem, diplomatas paraguaios se reuniram com o alto comissário de refugiados da ONU, Antonio Guterres, ex-presidente de Portugal.
Agora, Guterres pedirá que seu representante no Brasil prepare um relatório sobre o caso para que se esclareçam os motivos que levaram o País a conceder o status de refugiado.
"É urgente retificar o erro do Brasil, que deu status de refugiado a essas pessoas", disse Carlos Fleitas, diretor do departamento legal da chancelaria paraguaia. Falando ao Estado, ele qualificou a decisão brasileira de "grave violação". "A condição de refugiado não pode significar impunidade", alertou. "Pedimos uma revisão da decisão. Temos provas de que não são perseguidos políticos, mas criminosos."

27/04 - Sanções dos Estados Unidos afetariam o Brasil
 Rigorosas sanções unilaterais dos EUA afetariam o Brasil
Andrea Murta -Washington
Folha de São Paulo
Uma nova lei de sanções unilaterais que o Congresso dos EUA prepara contra o Irã deverá ter efeito devastador para empresários de vários países, inclusive do Brasil. A lei está em processo de harmonização das versões já aprovadas na Câmara e no Senado e poderá barrar negócios nos EUA até a quem faz parte de grupos no exterior indiretamente ligados a setores energéticos iranianos.
As novas sanções atingem qualquer grupo ou empresa que fornecer "bens, serviços, tecnologia, informação ou apoio" que poderiam facilitar a exportação, importação, manutenção ou expansão de produtos ligados ao setor energético. Aí estão incluídas "construção, modernização ou reparo" de instalações.
As atividades na mira das sanções vão além das ligadas ao petróleo: chegam a recursos de gás natural, navios petroleiros e de transporte de gás natural e produtos para construir ou manter oleodutos e gasodutos.
Quem financia ou garante a venda, o aluguel ou a oferta geral de tais bens e serviços, seja por parte de matrizes, subsidiárias ou afiliadas, pode ser alvo das punições. Até agências de crédito à exportação são vulneráveis. A maior parte das sanções incide sobre transações acima de US$ 200 mil.
Dependendo da interpretação da lei, há margem para sancionar uma empresa que, por exemplo, participar de terraplanagem de área por onde passe um gasoduto, ou venda medidores de pressão usados em tubulações do setor
A Câmara de Comércio dos EUA e vários outros grupos empresariais enviaram carta a congressistas no último dia 30 criticando a legislação. Calculam-se em US$ 25 bilhões as perdas anuais mínimas em exportações americanas e em 210 mil a eliminação de empregos, se as sanções forem aprovadas.
Isso porque quem for sancionado será virtualmente cortado das relações econômicas dos EUA: ficará impedido de fazer transações comerciais em moeda estrangeira com o país e de transferir créditos e pagamentos por meio de qualquer instituição financeira americana.
Questionado pela Folha, o chanceler Celso Amorim disse desconhecer efeitos para brasileiros. Mas afirmou que "sanção unilateral é mais contraproducente ainda [do que sanções multilaterais]". "Além de ineficazes, acabam criando resistências aos EUA. Espero que isso não ocorra, mas é um problema interno dos EUA."
Fontes ligadas ao meio empresarial brasileiro consultadas pela Folha afirmaram que, se exportadores do país ainda não estão alarmados, deveriam estar. As sanções deverão impactar o comércio de eletroeletrônicos, ferramentas, máquinas e equipamentos, produtos siderúrgicos e químicos, serviços financeiros, tecnologia da informação, telecomunicações, transporte marítimo e outros.
Neste mês, o Ministério do Desenvolvimento levou ao Irã representantes de setores como construção civil, máquinas e equipamentos (inclusive para exploração mineral), veículos, infraestrutura e aeronáutica.
A Petrobras, frequentemente associada ao Irã, poderá ter de atentar para as novas leis. Na semana passada, a empresa apareceu em lista do governo dos EUA de 41 empresas estrangeiras com atividades no setor energético do Irã nos últimos cinco anos. A estatal afirma, porém, já ter encerrado sua atuação no Irã.
A harmonização das leis da Câmara e do Senado deverá ser concluída em cerca de um mês, quando o texto final será enviado para a Casa Branca.
27/04 - Tempo quente no Paraguai
 Paraguai envia mil militares a 5 províncias em estado de exceção para combater grupo pró-Farc
Flávio Freire - O Globo
Brasiguaios na linha de fogo da guerrilha
Sob fortes temores de desrespeito aos direitos humanos e uma enxurrada de críticas dentro e fora do governo, o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, enviou ontem mil policiais e militares num plano de emergência para sufocar as atividades da guerrilha Exército do Povo Paraguaio (EPP), ligada às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). A medida foi anunciada após o decreto de um estado de exceção em cinco departamentos (estados) do norte do país - inclusive em áreas próximas à fronteira com o Brasil -, levando medo aos cerca de 300 mil brasileiros que vivem na região, os chamados brasiguaios, responsáveis por 80% da economia local com o cultivo e exportação de grãos.
- Aqui, os brasileiros são imigrantes estrangeiros e com uma situação econômica muito boa, então é normal que tentem nos prejudicar. Provavelmente, os brasileiros serão vítimas desses guerrilheiros - disse a advogada Vilma Dias de Oliveira. - Não sabemos o poder de fogo real deles - diz ela, que vive há 30 anos em Ernandaria, na região da fronteira com o Brasil
EPP faz sequestros extorsivos
Morador de Santa Rosa de Araguari, em San Pedro, Valídio Eschenberger planeja aumentar a segurança particular em torno de sua propriedade de 150 hectares para se proteger:
- Por enquanto, ninguém mexeu com a gente, mas eles (do EPP) parecem muito perigosos. Estamos trabalhando tranquilamente, mas já nos reunimos (com outros brasiguaios) para aumentar nossa segurança.
A crise começou na semana passada, quando o EPP assassinou três civis e um policial num assalto à fazenda Santa Adélia, em Concepción, a 420 km de Assunção, numa provável tentativa de roubar gado. O grupo armado se autoproclama marxista-leninista e acusa o presidente Fernando Lugo de representar a oligarquia sem se importar com a necessidade de uma reforma agrária no Paraguai. Em dois anos, a milícia sequestrou dois fazendeiros e cobrou US$700 mil de resgate. Analistas acreditam que seus cerca de 100 integrantes agem mais pela delinquência do que pela ideologia, mas documentos comprovando sua ligação com as Farc - de onde teriam recebido armamento pesado e treinamento militar - colocaram o governo de Assunção em estado de alerta.
Com o envio de tropas à região, o governo espera capturar, pelo menos, 25 guerrilheiros. Mas, aumentando o clima de tensão, ontem, duas organizações camponesas e uma das principais centrais sindicais do país anunciaram que não respeitarão o estado de exceção.
Previsto para durar 30 dias, o estado de exceção foi decretado nos departamentos de Amambay, San Pedro, Alto Paraguai, Presidente Hayes e Concepción, onde se concentra toda a produção de maconha do Paraguai. O decreto suspende todas as garantias constitucionais nas cinco províncias e permite ao Exército promover detenções e transferências sem a necessidade de ordem judicial - o que despertou a ira de grupos de defesa dos direitos humanos.
- Peço respeito aos direitos de trabalhadores humildes. Muitos conhecem detalhes do EPP, mas não denunciam por medo - advertiu o prefeito de Horqueta, Jorge Centurión.
O episódio deixou ainda mais exposta a crise interna do governo paraguaio. Ontem, o vice-presidente Federico Franco - líder do partido Liberal Radical Autêntico (PLRA) , maior aliado da coalizão - desafiou Lugo, afirmando que seu interesse não era combater o EPP. Diante das insinuações, o vice-presidente foi obrigado a prestar esclarecimentos ao Congresso.
- Jurei sobre a Bíblia respeitar a Constituição e as leis. Esse compromisso com o povo me obriga a ser prudente. Por isso, a postura crítica. Sempre disse que os membros do EPP são criminosos - recuou Franco.
No que pode ser a primeira retaliação do EPP, ontem à noite, o senador liberal Robert Acevedo, um dos políticos que denunciaram o tráfico de drogas no norte do Paraguai, sofreu um atentado em Amambay. Atiradores atacaram o veículo em que viajava e, segundo o jornal "ABC", duas pessoas que estavam com ele morreram. O senador foi levado em estado grave ao hospital.
De: A Verdade Sufocada

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