quinta-feira, 8 de abril de 2010

HISTÓRIA TERCEIRIZADA

Dizem que a terceirização originou-se nos Estados Unidos, com a II Guerra, quando as indústrias bélicas tinham que se concentrar no desenvolvimento da produção de armamentos e, como não estavam dando conta da demanda mundial, passaram a delegar algumas atividades para parceiros. Os americanos estavam muito atrasados.

No Brasil, a terceirização teve origem em 7 de setembro de 1822, quando o Reino de Portugal terceirizou o Brasil a Dom Pedro I. De lá para cá, temos muito a ensinar aos americanos. Especialmente na administração pública. A começar pelo município, federal, quando nossos prefeitos delegaram a responsabilidade de construção e conservação de calçadas aos proprietários de imóveis urbanos. Se nos Estados Unidos a terceirização produziu excepcional progresso, no Brasil o resultado está nas calçadas de Curitiba, por exemplo, calvário dos pedestres.

A terceirização na história do Brasil tem sido motivo de muita polêmica por parte dos cientistas políticos, especialmente no período republicano: no Estado Novo, o ditador Getúlio Vargas terceirizou a polícia política para o fascista Filinto Müller. Em seguida, o caudilho deu um tiro no peito e terceirizou a vida à história. Jânio Quadros renunciou e terceirizou seus milhões de votos ao vice Jango Goulart. Na ditadura militar, os generais terceirizaram a economia para o ministro Delfim Neto e disso resultou o milagre brasileiro que estamos vendo.

No Brasil moderno, a terceirização saiu do campo político, técnico e administrativo e chegou à cultura nacional. Em certa época, inclusive a culinária obedeceu esse processo de gestão, quando terceirizaram o “picadinho” para o “estrogonofe”. O mesmo aconteceu na música, quando nos terceirizaram para os quatro garotos cabeludos de Liverpool e um topetudo de Memphis. Na literatura, por muito tempo fomos terceirizados aos franceses e, até hoje, são raros os nossos intelectuais que não terceirizam seus próprios pensamentos.

A terceirização se estendeu também aos hábitos e costumes da classe média. Aconselhados a fazer exercícios físicos, podemos terceirizar longas caminhadas matinais a um “personal trainer”, enquanto assistimos ao profissional suar em bicas. Mens sana in corpore sano. No campo espiritual, o devasso doa polpudos dízimos na esperança de terceirizar a salvação da alma.

Esse mecanismo de gestão, no entanto, tem critérios de aplicação para alcançar resultados e, em muitos casos, o barato sai caro. Muito caro. Com a redemocratização, as mudanças apontavam para novos métodos, quando o desalento tomou conta da nação. Tancredo Neves terceirizou a faixa presidencial para José Sarney e isso nos custou os olhos da cara, a hiperinflação. Fernando Collor terceirizou as sobras de campanha para PC Farias e o tucano Fernando Henrique, ungido para retomar novas práticas administrativas, no governo da privataria só não terceirizou seus próprios livros, mas pediu para esquecer o que havia escrito. Não deu para esquecer.

Luiz Inácio da Silva, por sua vez, não esqueceu a escrita de FHC e fez escola no quesito. Primeiro terceirizou a campanha eleitoral para o mago Duda Mendonça. Eleito, terceirizou o poder para o comissário Zé Dirceu, que terceirizou o PT para Delúbio Soares, que terceirizou o partido para Marcos Valério, que terceirizou outros partidos para a base do governo. Essa terceirização nos custou caro, muito caro, mas para o PT até que saiu barato porque todas as culpas foram terceirizadas.

No Paraná a terceirização chegou ao seu ponto mais rumoroso quando os deputados Nelson Justus, presidente, e Alexandre Curi, primeiro secretário, terceirizaram a Assembleia Legislativa para o muy amigo e sócio Bibinho. Agora, com as denúncias de falcatruas na administração dos terceirizados, Justus e Curi querem retomar o controle da casa e não aceitam a terceirização das investigações.

Dante Mendonça (7/4/2010) O Estado do Paraná.-(Cartunista Solda)

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