segunda-feira, 19 de abril de 2010

IGREJA E PEDOFILIA (II)

Já foi dito que o óbvio, o evidente, é o mais difícil de ver. Transcrevo a seguir um artigo de Bill Donohue, publicado na CNN, que, de maneira serena, focaliza algo óbvio sobre o debate atual relativo à Igreja Católica e a pedofilia, algo absolutamente óbvio, que, no entanto, ninguém da mídia parece ver, ou faz de conta que não vê, ou faz questão de não ver.

A crítica à Igreja Católica é injusta.

BILL DONOHUE (foto ao lado) - especialmente para o CNN
19 de março de 2010.

A série de relatos sobre o abuso sexual de padres na Europa, especialmente na Irlanda e na Alemanha, colocou muitos católicos na defensiva. Não deveria ser assim. Embora o abuso sexual em qualquer de suas formas é indefensável, a política que se montou em torno desses relatos também o é.

Empregadores, dos mais variados tipos, tanto nos EUA como na Europa, têm sempre tratado supostos casos de abuso sexual como um assunto interno. Raramente, eles têm chamado a polícia e de nenhum deles se exigiu isso. Embora essa atitude com relação ao abuso sexual está mudando, qualquer discussão envolvendo abusos sexuais acontecidos há 30 e 40 anos, sempre foi tratada dessa forma. Por isso não é de estranhar que o Cardeal Sean Brady da Irlanda não tenha chamado as autoridades no caso de um padre nos anos 70. O que é de estranhar é o fato de alguns o acusarem agora, como se a sua reação tivesse sido uma exceção à regra.

A indignação seletiva contra a Igreja Católica não se restringe a Brady. Por que, por exemplo, os psicólogos e psiquiatras, que garantiram “curar” os transgressores, são tratados de maneira tão light? Afinal, tanto os empregadores do mundo corporativo como a Igreja Católica eram reiteradamente informados de que a terapia funcionava e que deveriam dar ao transgressor uma segunda chance.

Na realidade, afirmava-se na época que a recuperação não apenas funcionava, mas era um ato necessário e virtuoso. Que esse tipo de atitude representou um grandíssimo exagero é, só agora, opinião corrente. E é precisamente nessa negação agora de quão forte e universalmente aceito tinha sido esse ideal de recuperação, que se nota o aspecto político da onda atual. Se a Igreja Católica tivesse simplesmente expulso os transgressores, teria sido considerada cruel, sem coração e desalmada.

Faz-se agora também muito barulho em torno do Cardeal Joseph Ratzinger - atualmente Papa - por ter aprovado o envio de um padre de sua arquidiocese para tratamento. Isso ocorreu 30 anos atrás. Ele fez, sublinhamos de novo, exatamente o que qualquer autoridade religiosa ou leiga fazia naquele anos.

Qualquer pessoa que afirme de que nos EEUU ou na Europa, era comum que empregadores - não pertencentes à Igreja Católica - denunciassem criminalmente os seus supostos empregados transgressores, deveria calar a boca.

Além das questões acima levantadas, o foco sobre abuso sexual na Igreja está radicalmente desproporcional ao que a mídia dedica ao abuso sexual de menores quando cometidas por religiosos não católicos. De acordo com um relatório do New York Times de outubro, o promotor público do bairro de Brooklyn entrou na justiça com a queixa-crime de 26 casos de abuso sexual envolvendo a ultra-ortodoxa comunidade judaica.

Justo este mês, o Rabino Baruch Lebovits foi condenado por ter abusado sexualmente oito vezes de um menino de Brooklyn. Todavia, o NYT que publicou vários artigos sobre abusos sexuais cometidos décadas atrás na Irlanda e na Alemanha, não escreveu sobre isso sequer uma palavra. E, se publicados, nunca teriam uma cobertura tão extensa como é dada aos casos envolvendo sacerdotes católicos.

Professores da rede pública acusados de abuso sexual são transferidos para escolas de outra comunidade - isso é tão comum que leva o nome de “transferindo o lixo” - ou ficam restritos a funções burocráticas. Tanto os sindicatos de professores como a lei estadual permitem que isso continue. Se a mídia se concentrasse nesse problema, quem sabe, as soluções apareceriam. Mas conhecendo a prática atual, isso é pouco provável. É mais bacana crucificar a Igreja Católica.

Essa hiper-concentração na Igreja Católica não é acidental. A Igreja prega a ética da castidade - uma ideia profundamente contracultural - então se um sacerdote cai é grande a tentação de lançar sobre isso a poderosa luz dos holofotes. Conhecendo a natureza humana, isso é compreensível. Mas também é imoral. Convenhamos, se o abuso sexual é iníquo, então não deveria fazer diferença qual é a identidade do transgressor. A justiça seletiva é a forma mais radical de injustiça.

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