domingo, 23 de outubro de 2011

ANIVERSÁRIO DE UM FACÍNORA

Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 23 de outubro de 2011

O Capitão Lamarca não possui um QI satisfatório, à altura de ser um líder revolucionário. É um elemento de caráter volúvel, não tem posição definida, suas decisões são tomadas seguindo suas tendências emocionais. Suas qualidades militares são limitadas, tem limites de aproveitamento prático do conhecimento técnico que possui. É pouco engenhoso. O valor político que possui para ser um líder de esquerda lhe foi dado pela imprensa. (Guerrilheiro José Araújo da Nóbrega, da VPR)

Carlos Lamarca nasceu no Rio de Janeiro no dia 23 de outubro de 1937, desertou, em 1969, do Exército Brasileiro e se tornou um dos líderes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).

No início do ano de 1969, Lamarca já era investigado como suspeito de envolvimento com a subversão e o aliciamento de colegas de farda. O plano de roubar o armamento do depósito de armas de um quartel do Exército foi frustrado pela ação da Polícia Civil e do Exército que prendeu alguns terroristas e apreendeu o caminhão que estava sendo preparado para o roubo do armamento. Mesmo assim, Lamarca e o Sargento Darcy Rodrigues conseguiram retirar do quartel 63 fuzis, 3 metralhadoras e uma pistola, desertando, a seguir, como membro da VPR. O roubo do armamento só foi descoberto no dia seguinte, 25 de janeiro de 1969.

Entre suas façanhas mais notáveis estão dois assaltos a banco que resultaram na morte do Gerente Norberto Draconetti e do Guarda-civil Orlando Pinto Saraiva - morto com um tiro na nuca e outro na testa, disparados pelo próprio Lamarca; a ação no Vale do Ribeira em que torturou e assassinou cruelmente o Tenente Alberto Mendes Júnior (foto acima), esfacelando-lhe o crânio a coronhadas; e o assassínio do agente da Polícia Federal Hélio Carvalho de Araújo, durante o sequestro do embaixador suíço. (Editorial do “O Estado de São Paulo)

O II Exército publicou um edital, em 27 de janeiro de 1969, intimando-o a comparecer ao 4º Regimento de Infantaria, pois as Polícias do Exército, Federal e Estadual haviam interrogado elementos comprometidos com assaltos a bancos, roubos de dinamite e assassinatos que confessaram ter estreitas ligações com Lamarca. A VPR nomeou Lamarca um dos seus dirigentes e mandou para Cuba as famílias dele e do Sargento Darci Rodrigues, pois considerava que os familiares de ambos seriam perseguidos pelas forças de segurança. Lamarca comprou um sítio no vale do Ribeira que foi utilizado como base de treinamento de guerrilheiros até a prisão de Chizuo Ozawa, o “Mário Japa”, em 27 de fevereiro, que tinha conhecimento da localização da área. Preocupado em libertá-lo, Lamarca exigiu o sequestro de um diplomata.

No dia 11 de março de 1970, após terminar seus trabalhos no consulado, Nobuo Okuchi, Cônsul do Japão, dirigia-se para a sua residência oficial, quando o carro dirigido por Hideaki Doi foi interceptado e o cônsul foi retirado de dentro do carro, sob a ameaça de armas, e conduzido para um Volksvagen vermelho. Nobuo foi trocado, mais tarde, por cinco presos, dentre os quais “Mário Japa”.

No dia 11 de junho, integrantes da VPR aprisionaram o embaixador da República Federal da Alemanha no Brasil, Ehrenfried Von Holleben, e exigiram em troca a liberdade de 40 presos políticos. Cinco dias depois, os presos seguiram para a Argélia e o embaixador foi libertado.

No dia 7 de dezembro de 1970, um grupo de militantes da VPR, chefiado por Lamarca, sequestrou o embaixador da Suíça no Brasil, Giovani Enrico Bucher. O carro era dirigido por seu motorista, Hercílio Geraldo, e escoltado pelo agente da Polícia Federal Helio Carvalho de Araújo. Após ter interceptado o veículo, Lamarca abriu a porta e desfechou dois tiros no agente, à queima-roupa, que veio a falecer 3 dias depois. O grupo condicionou a libertação do embaixador à liberação e embarque para o Chile de 70 presos políticos depois da divulgação do “Manifesto ao Povo Brasileiro”.

O cerco a Lamarca começou em março de 1971, com a prisão de uma subversiva no Rio que revelou a transferência das atividades da VPR para o Nordeste. Em agosto, as autoridades estouraram um aparelho em Salvador e encontraram a amante de Lamarca, Iara Iavelberg, que se suicidou com um tiro no coração. Lamarca foi perseguido pelos órgãos de segurança durante quase três anos.

No meio da tarde de uma sexta-feira, sob o ardente calor de 40 graus da caatinga do sertão baiano, uma equipe de agentes, aproximando-se passo a passo, vislumbrou os dois homens que descansavam à sombra de uma baraúna, no lugarejo de Pintada, Município de Oliveira dos Brejinhos. À voz de prisão, tentaram sacar suas armas. Duas rajadas curtas mataram os dois homens. Um deles era José Campos Barreto, o Zequinha, morador da região. O outro, também conhecido por “Renato”, “Célio”, “Sylas”, “João”, “César”, “Cid”, “Cláudio”, “Paulista” e “Cirilo”, era Carlos Lamarca, ex-Capitão do Exército, ex-dirigente da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e da Vanguarda Armada Revolucionária - Palmares (VAR-P), naqueles tempos já militante do Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8) e escondido no interior da Bahia. (F. Dumont)

- Lamarca, o “herói do Vale do Ribeira”

Recuso-me a compará-lo com Luís Carlos Prestes. Primeiro porque Prestes era um oficial brilhante, primeiro de turma, tinha grande influência sobre os companheiros. A Coluna Prestes nunca foi batida. Lamarca, não; era medíocre. Atirou em dois sentinelas, matando-os. Também matou um refém, um Tenente. Esse crime, para nós militares, é dos mais repulsivos: matar um refém! E matou a coronhadas. (Senador Jarbas Passarinho)

O Tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Alberto Mendes Júnior, comandava uma pequena tropa, quando foi atacado e feito prisioneiro pelo grupo de Lamarca, do qual faziam parte Diógenes Sobrosa de Souza, Ariston de Oliveira Lucena, Yoshutane Fugimori, Gilberto Faria Lima, Edmauro Gopfert e José Araújo da Nóbrega. Esse grupo, conforme consta dos autos do inquérito feito pela Polícia Militar que serviu de base à denúncia na 2ª Auditoria do Exército, “havia se instalado na região do Vale do Ribeira para treinamento de guerrilha, com a finalidade de promover a luta armada, para a derrubada das instituições sociopolíticas vigentes e instalação de um regime marxista-leninista no Brasil”.

Lamarca permitiu que o Tenente transportasse os feridos para serem socorridos, mas conservou em seu poder, como reféns, os soldados não atingidos pelo tiroteio. Mendes Júnior entregou os feridos a uma patrulha da PM e voltou, sozinho e desarmado, para garantir a libertação dos reféns. Ao tomar conhecimento de que seus soldados haviam sido abandonados no mato, Mendes Júnior interpelou os guerrilheiros. Lamarca respondeu que os soldados estavam bem e, tendo o Tenente Mendes dito que havia cumprido a promessa de não denunciá-lo, advertiu:

Você vai conosco; se não houver tropas pela frente, você poderá seguir tranquilo.

Como apareceu outra patrulha e dois guerrilheiros se perderam do grupo, Lamarca suspeitou que Mendes Júnior os havia denunciado. Ao depor em juízo, Ariston Lucena relatou, segundo o processo, como o oficial foi julgado e morto:

Lamarca colocou para nós que o Tenente Mendes era responsável pela queda de dois companheiros, mas o Tenente negou tal acusação, dizendo que provavelmente aquela emboscada seria obra de soldados dele; que responderam ao Tenente que os soldados da ditadura não têm iniciativa própria, que o Tenente Mendes é o responsável, tinha traído o compromisso, ocasião em que o Tenente se calou, aduzindo o interrogando (Ariston Lucena) que quem cala consente...

Ariston assim descreveu a morte do Tenente:

Lamarca chamou Fugimore de lado, mandando que este executasse o Tenente; que todos nós silenciamos, porque estávamos em pleno acordo e irritados com o Tenente, que havia traído a nossa confiança; que então Fugimore se aproximou do Tenente Mendes, pelas costas, de surpresa, deu-lhe uma coronhada, e depois outra, provavelmente umas quatro, até que o Tenente morreu... (Estado de São Paulo 04/11/2007)

- Lamarca, o símbolo da “resistência radical”

É uma recompensa a quem queria instaurar uma ditadura socialista no Brasil; Lamarca não combateu em nome da democracia. (Leôncio Martins Rodrigues)

No dia 13 de junho de 2007, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça concedeu a patente de coronel do Exército a Carlos Lamarca, considerado pela esquerda escocesa um símbolo da resistência radical à ditadura militar. Além da promoção, a comissão reconheceu a condição de perseguidos políticos da viúva de Lamarca e de seus filhos, César e Cláudia Lamarca, concedendo aos três uma indenização de R$ 100 mil para cada um.

- Senador Aloizio Mercadante

O senador defendeu a revisão dos critérios usados pela Comissão de Anistia para promover “post-mortem” o desertor Carlos Lamarca. Em entrevista à Rádio BandNews Brasília, o senador lembrou que a anistia deve servir para os dois lados, por isso não concorda que os familiares de Lamarca passem a receber pensão de general, enquanto não receba o mesmo tratamento a família do soldado Mário Kozel Filho, morto em 1968 pelo grupo guerrilheiro VPR do qual Lamarca era dirigente.

- Millôr Fernandes

Também perseguido e censurado pelo Regime Militar questionou:

Quer dizer que eles pegam em armas contra o governo, perdem, e depois ganham dinheiro por que perderam? Isso não foi Revolução, foi Investimento!

– Blog e Livro

Os artigos relativos ao “Projeto–Aventura Desafiando o Rio–Mar”, Descendo o Solimões (2008/2009), Descendo o Rio Negro (2009/2010), Descendo o Amazonas I (2010/2011), e das “Travessias da Laguna dos Patos (2011), estão reproduzidos, na íntegra, ricamente ilustrados, no Blog http://desafiandooriomar.blogspot.com.

O livro “Desafiando o Rio–Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br) e na Livraria Dinamic – Colégio Militar de Porto Alegre. Pode ainda ser adquirido através do e–mail: hiramrsilva@gmail.com.

Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:
http://books.google.com.br/books?id=6UV4DpCy_VYC&printsec=frontcover#v=onepage&q&f=false.

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar (IDMM); Vice Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil - RS (AHIMTB); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

Blog: http://desafiandooriomar.blogspot.com

E–mail: hiramrs@terra.com.br

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