“A freira freia o freire fremente” –(Gudé)
“A imagem é uma coisa e um ser humano é outra...
É muito complicado viver de acordo com uma imagem”
Elvis Presley
Por José Eugênio Maciel
Ao concluir o texto da última Coluna, intitulado O homem e o televisor velhos, veio nitidamente a lembrança dos tempos de estudante em Curitiba. Quando dei adeus à “república”, fui morar sozinho, ter o meu canto. Como não tinha televisão, uma amiga minha me emprestou um aparelho em preto e branco.
Num final de semana eu estava assistindo ao filme Muito Além do Jardim, protagonizado pelo grande ator inglês Peter Seller. Eu estava inteiramente atento ao filme, tocado pela mensagem que ele trouxe naquele momento, fazendo-me refletir sobre o ser humano e o modo como ele através do diálogo se relaciona com os demais, quando a mensagem emitida nem sempre é interpretada como se pretendia.
Prestes a iniciar a última parte do filme, a imagem do televisor some totalmente! Surpreso e sem compreender nada, desligo, ligo, examino com o conhecimento idêntico a de um assistente técnico da NASA ao iniciar a manutenção de um daqueles foguetes destinados à lua. Nada, nem preto nem branco. Porém o som sim, firme, claro, nítido. Foi o que me restou. O filme era tão bom e a minha curiosidade em saber o final era tamanha que resolvi escutá-lo. Sem a imagem do velho televisor, tinha a minha imaginação para criar a imagem do final daquele filme.
Que história é esta, porque ela está sendo contada agora? pode indagar o caro leitor. É que no referido Artigo do domingo passado contei o que testemunhei perto de casa, um senhor disposto a levar um velho televisor colocado próximo ao lixo. O homem dissera para mim claramente que estaria satisfeito se pudesse assistir, mesmo sem som; ou que tivesse o som, mesmo sem imagem.
Da pitoresca e prosaica reminiscência em preto e branco ficou marcado aquele momento e o belo filme. Somente anos mais tarde peguei o filme na locadora (antes não existia o vídeo-cassete) e pude ver Muito Além do Jardim, colorido em um magnífico televisor em cores que comprei (o antigo mandei arrumar e fui devolvê-lo para a minha amiga e ela disse que era presente para mim). Falei-lhe então que faria o mesmo, o porteiro do estacionamento perto do prédio onde eu morava ficou grato e surpreso com o presente ofertado.
Um convidado trapalhão e A Pantera cor-de-rosa assisti pela admiração que passei a ter pelo Peter Seller (muito engraçado o papel dele nesses dois filmes, bem absolutamente contrário a serenidade do jardineiro em Muito Além do Jardim. Seller foi o indicado para o Oscar mas não levou a estatueta. Foi um dos melhores filmes que já assisti, faço tal afirmação não pelas circunstâncias de ter ouvido o filme no final. Deixando a opinião pessoal, então lanço mão do respeitado crítico do cinema Rubens Edwald Filho, que qualifica a grandeza na arte de representar de Peter, colocando-o entre os geniais nomes do cinema, assim como o filme.
Cabe mencionar uma mera coincidência, (não mais do que isso), o fato de o homem que levaria a televisão jogada fora era também um jardineiro, a mesma profissão do fanático por assistir televisão em Muito Além do Jardim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário