Por Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS
“Este é um governo safado,
mais um governo que vem
perante a lei fundiária
fará uma reforma agrária
e o povo gritando amém!”.
(Jessier Quirino)
Recebi de meu irmão de arma, e de alma, Coronel de Engenharia Carlos Alfredo Maiolino de Mendonça um dos textos do poeta Jessier Quirino que faço questão de dividir com os leitores. O texto que retrata a indignação de um honesto matuto frente a uma indecorosa proposta política mostra as lambanças a que se sujeitam alguns de nossos mercenários políticos para alcançar, a qualquer preço, seus inconfessos intentos.
Jessier Quirino
Jessier Quirino se intitula arquiteto por profissão, poeta por vocação, matuto por convicção. Quirino nasceu, em 1954, na cidade de Campina Grande, Paraíba e reside em Itabaiana desde 1983. Filho de Antonio Quirino de Melo e Maria Pompéia de Araújo Melo, concluiu a Faculdade de Arquitetura na UFPB – João Pessoa, em 1982.
Quirino é mais que um poeta, é um genial artífice das palavras, dono de um estilo próprio, trabalha com habilidade e inteligência invulgar a prosa, a métrica e a rima como se fosse um “domador de palavras”. Diferente dos repentistas tradicionais, apresenta-se individualmente como “boi de arado”, conseguindo graças à qualidade de sua obra e seu carisma encantar a platéia.
Candidato Aloprado!
Fonte: Jessier Quirino www.brasilwiki.com.br/noticia.php?id_noticia=26179)
“Nós estamos em época de campanha, eu sempre nas minhas histórias estou do lado do matuto. Eu sou devoto da sabedoria do matuto. Não tem quem enrole o matuto não. Tem a história de coronel que tentava botar um matuto numa campanha política do lado do coronel.
Coronel: Aí disse: Nego foda, você vai ser candidato nessa campanha!
Matuto: Ele disse: Eu coronel???
Coronel: Você mesmo, você vai ser candidato, você vai defender meus interesses e não sei o quê.
Matuto: Coronel eu vou dizer um negócio a vosmicê, viu. Eu que sou um homem ‘expromentado’, vivido e viajado nas beiras da postulança ‘political’. Eu vou lhe dizer um retáio de ‘sabença’ que é a pronúncia mais ‘apronunciada’ sobre política que ‘inxeste’ neste mundo ‘selvageado’ pelos animais, ‘vegetariado’ e varrido pelas palhas do coqueiro e aguado pelas ondas do mar. Além de sintoma ‘prefeituroso’, embocadura ‘deputadal’, canxa de guvernador e senador e sustância de presidente, o cabra pra ser político no Brasil precisa no mini, ‘minimoro’ dos seguintes ‘adjuntórios’, dois pontos:
Primeiro começar juntar dinheiro pra depois começa juntar gente. Engolir muita ‘rimunheta’ de cabra falso, ‘felaputista’ e pidão. Desatar nó cego de convenção. Escutar ‘caqueado’ dificultoso de partidário que só tem um voto e olhe lá. Entrar em ‘embuança’ de campanha. Prometer como sem falta e faltar como sem dúvida.
Ficar refém da língua do povo. Pegar roleta de boca com ‘camobembe’. Fazer conchavo com reservista da ditadura. ‘Descaviar’ o caminho mode os ‘quixó’ da oposição. Receitar pra mais de monte. Desmurmurar mulher falsa e coiseira. Acompanhar enrolamento de papel de justiça. Levar fama de ter ‘estrabicado’ moça donzela. Levar fama de ser corno, baitola e ladrão.
Aguentar ‘fazimento’ de pouco de eleitor desbriado. Buta tamanca pra opositor bom de peia. Bater quinhentos de bombo com xangozeiro. Gritar aleluia em igreja pegue e pague. Alegrar sessão espírita. Assistir meia missa e sair comungado. Batizar menino feio com o nome de Desmenielirson Jerry.
Dar de comer do bom e comer porcaria. Almoçar em lata de goibada. Despronunciar discurso mal feito de candidato ‘tabacudo’. Aplaudir discurso desvirgulado, sem rumo e sem ponto final. Aturar converseiro duplicado de mesmo depois de banzeiro.
Aturar gente furona e desconhecida dentro de casa. Viver rindo e fumaçando pelo fundo feito ferro de engomar. Acabar sua D vintezinha na buraqueira. Aturar babões civis e militares. Botar no braço menino novo do fundo cagado.
Tomar cerveja quente de espuma murcha. Tomar uísque Drure, sem gelo numa xícara de louça com tira-gosto de canjica. Beber naquelas mesonas de ‘embuía’ numa saleta escura e abafada encostado numa cristaleira e cercado de cabos eleitorais com cada suvaqueira de torar.
Entregar taça de campeão a time safado. Chorar em velório de desconhecido. Professorar as iniciais de nome de campanha pra eleitor tapado. Escorregar em lama de esgoto. Grita ‘oh de casa’ em casa oca. Se abrir pra eleitor desabrido. Pagar cana pra pinguço desocupado.
Farejar poeira de bunda
Enfiar a mão em saco de dentadura pra distribuir com a mundiça. Comprar votos em dia de eleição. Estelionatar votos em boca de urna. Entrar em embuança de apuração. Dar cobro de voto roubado. Apertar a mão de traidor oportunista. E depois de eleito começar essa camubemagem toda de novo.
Deus o livre de eu sair candidato. Chega me faltou suspiração e eu vou parar por aqui porque conversa de político é feito coceira só qué um pézinho”.
Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br
E-mail: hiramrs@terra.com.br
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